Dominação comunista cresce na Venezuela e ameaça o continente


26/02/2013

Hélio Dias Viana

Lamentável posição de conivência ou de fraqueza de países americanos em face da cubanização da nação venezuelana

         Não se sabe em que medida o noticiado até o presente sobre a doença de Hugo Chávez é show ou realidade. Pois, tivesse seu câncer a apregoada gravidade, de há muito ele não estaria no mundo dos vivos. Mas isso importa menos, pois, com Chávez ou sem ele, a Venezuela já está sendo dirigida por Cuba, que ali mantém vários de seus generais ocupando posições relacionadas com a segurança interna, além de dezenas de milhares de agentes disseminados pelo país. É a “recompensa” dos irmãos Castro pelo petróleo que recebem gratuitamente de Chávez...


Nicólas Maduro, "herdeiro" do caudilho Chávez

         Os vais-e-vens com que a doença e o tratamento do caudilho em Cuba têm sido noticiados servem, a meu ver, para atrair a atenção sobre a índole das relações da Venezuela com o regime comunista cubano, com vistas a enviar ao mundo a seguinte mensagem: “As ordens ditadas até agora por Caracas serão doravante determinadas em Havana”. Ou seja, a Venezuela está se tornando oficialmente um protetorado cubano, como primeira etapa na tentativa de consolidar a hegemonia da ilha-prisão sobre todo o continente latino-americano.

Nessa perspectiva, a recuperação ou não, mais rápida ou menos rápida de Chávez, estaria por sua vez sendo calculada em função da reação da opinião pública em face do vazio no poder, impossível de não ter sido previsto antes de ele se apresentar às últimas eleições. Ou seja, se os venezuelanos e a comunidade internacional engolirem o “golpe branco” de Nicolas Maduro & Cia., Chávez não reaparecerá tão cedo, talvez nunca. E a sorte da Venezuela — e, por extensão, talvez do bloco bolivariano — como protetorado cubano estaria selada. Se não engolirem, ou Chávez será obrigado a voltar, caso tenha condições para isso, ou realizar-se-ão novas eleições.

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Para cúmulo da irrisão e no sentido da pretendida hegemonia cubana, quando este artigo vier a lume o herdeiro de Fidel terá sido empossado em Santiago do Chile como presidente da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (CELAC). Com forte bafejo bolivariano-petista, esta organização foi fundada no México em 2010 e teve sua

primeira cúpula realizada na Venezuela em 2011. Foi no fundo a fórmula encontrada para implantar o câncer cubano no organismo latino-americano, já que aquele não conseguiu introduzir-se no seio da OEA. Entre os objetivos apregoados pela CELAC está o de promover a democracia, a integração e o desenvolvimento dos países latino-americanos, dentro do marco dos direitos humanos, bem como o estabelecimento de negociações políticas e comerciais com a União Europeia e outros blocos regionais. Mas trata-se na realidade de um bloco de esquerda paralelo ao da União Europeia, sobre o futuro da qual, aliás, um dissidente russo afirmou ironicamente já ter vivido...

A presença de Raul Castro no Chile para essa grotesca investidura mereceu enérgico protesto da associação Acción Familia, continuadora dos ideais e das lutas de Plinio Corrêa de Oliveira naquele país. Em carta dirigida ao Sr. Alfredo Moreno, ministro chileno das Relações Exteriores, a entidade denunciava, entre outras coisas, o fato de que em Cuba não há democracia nem respeito aos direitos humanos, e que, portanto, Raul Castro não poderia assumir a presidência de uma organização cujos objetivos apontam precisamente para o oposto (veja p. 50). Acción Familia também colheu assinaturas para um abaixo assinado intitulado “Não a Raul Castro no Chile”.

Enquanto isso, por pura jogada política, o governo cubano anunciou que está emitindo passaporte para quem queira viajar ao exterior.

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Voltando ao “golpe branco” na Venezuela, diante de sua legitimação pelo subserviente Tribunal Supremo daquele país e do seu não menos vergonhoso reconhecimento pela OEA — que tanto relutou em reconhecer o governo legítimo de Micheletti em Honduras — os embaixadores do Canadá e do Panamá perante a OEA manifestaram seu desacordo. Em retaliação, o diplomata panamenho foi demitido de suas funções devido a evidentes pressões dos forjadores da hegemonia cubana. De modo firme e peremptório, ele também vem se manifestando contra farsa semelhante no Paraguai. Quanto à ONU, inútil e contraproducente, toda vez que existe alguma disputa entre anti-esquerdistas e a esquerda, pode-se de olhos fechados saber por que lado ela optou...

Por sua vez, os presidentes da Argentina, Bolívia, Equador, Nicarágua e Uruguai não apenas estiveram presentes à cerimônia simbólica da não-posse de Chávez no dia 10 de janeiro, como engrossaram a lista dos que se apressaram a viajar a Cuba para visitar o ditador supostamente moribundo, transformando a ilha-prisão em lugar de repentina peregrinação. Somou-se a eles Ollanta Humala, do Peru. Rafael Correa, do Equador, só não compareceu devido às eleições presidenciais que se realizam neste mês, prevendo os efeitos negativos que sua presença teria nos resultados das mesmas.

Nos Estados Unidos, o presidente Obama, tão preocupado em promover o aborto e o “casamento” homossexual, bem como desarmar os norte-americanos — contingente populacional 1/3 maior do que o nosso e, embora possuidor de 18 vezes mais armas, mata quatro vezes menos que nós — não está aparentemente alarmado com o socialo-comunismo que cresce na América Latina. Assim, Caracas e Havana não têm nada a temer de Washington, dominado por esse espírito concessivo e entreguista.

Nem da aguerrida e sofrida Colômbia, cujo atual presidente, Juan Manuel Santos, trata com incompreensível naturalidade os regimes cubano e venezuelano, apesar de serem eles os responsáveis pelo apoio militar e logístico às guerrilhas das Farc que martirizam seu país. A confiança de Santos nesses regimes chegou ao extremo de ele enviar uma comissão governamental a Cuba para discutir com os chefes guerrilheiros o futuro da Colômbia. Um dos patrocinadores e avalistas desse diálogo é a Venezuela.

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E, muito menos ainda, têm Cuba e Venezuela a temer do Brasil. Nosso governo na realidade está tratando a Venezuela como não tratou nem Honduras nem o Paraguai, cujas populações se recusaram a ceder diante das pressões cubano-venezuelanas. A presidente Dilma enviou a Cuba e Venezuela seu representante Marco Aurélio Garcia, cujas declarações sobre o recente “golpe branco” de Nicolas Maduro — acerbamente criticadas por opositores venezuelanos como favorecedoras do regime e ingerência externa — estão na mesma linha das proferidas por presidentes bolivarianos que apoiaram o golpe. A única exceção é quando a presidente brasileira se declarou a favor de novas eleições caso Hugo Chávez venha a morrer. Eleições que poderão ser realizadas nos mesmos moldes das que já conhecemos, ou seja, com os eleitores comprados com toda sorte de benesses do governo venezuelano.

É preocupante nesse quadro a informação proporcionada por Pedro Silva Barros, do Instituto de Pesquisas Avançadas (Ipea), segundo a qual antes da doença do líder venezuelano “Chávez e a presidente Dilma Rousseff se comprometeram a integrar o sul da Venezuela e a região amazônica brasileira, e uma proposta de agenda para esse projeto seria apresentada em junho” (BBC-Brasil, 17-1-13).

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Importa ainda lembrar o papel de Hugo Chávez no favorecimento de líderes socialistas em Honduras e no Paraguai, sem falar de sua hostilidade ao governo colombiano de Álvaro Uribe por ocasião da morte do guerrilheiro Raul Reyes. A Honduras ele chegou a enviar urnas eletrônicas, segundo dizem com os resultados pré-estabelecidos em favor de Zelaya; e ao Paraguai mandou seu então chanceler Nicolas Maduro confabular com militares daquele país para a realização de um golpe em defesa de Lugo.

Mas a Venezuela não agiu sozinha em ambos países. Não podemos nos esquecer do escandaloso apoio do governo Lula em favor de Manuel Zelaya, a quem acolheu durante vários meses na embaixada brasileira em Tegucigalpa, a qual aquele fracassado candidato a ditador usava como tribuna para atacar o novo governo do presidente Micheletti constitucionalmente estabelecido. Nem das pressões do governo Dilma sobre o Paraguai com vistas a fazer cessar o processo de impeachment contra Fernando Lugo; e, fracassadas estas, no sentido de suspender injustamente o país como membro do Mercosul para depois nele abrigar a Venezuela chavista.

Por ocasião da crise de Honduras, vale ainda lembrar as declarações do então chanceler brasileiro Celso Amorim, que em entrevista a Deborah Berlinck, do jornal “O Globo” (7-7-09), afirmou que não via contradição entre o fato de o Brasil se opor ao novo governo hondurenho e defender o fim do embargo cubano, pois, segundo ele, Cuba “foi uma revolução”, enquanto em Honduras “foi um golpe de Estado típico de uma direita que não tem mais lugar na América Latina”.

Esses fatos redundaram numa preparação remota para, contornando inúmeros obstáculos, recolocar em relevo o despótico e sucateado regime cubano, entregue ao abandono após a queda da União Soviética. Mais do que salvar Chávez, a maior preocupação parece ser a de tirar o moribundo comunismo cubano da UTI e colocá-lo na liderança da América Latina.

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Concluindo, não podemos nos esquecer dos elogios tecidos por Frei Betto à miséria reinante na ilha-prisão, para onde estava previsto ele viajar a fim de receber o prêmio de “promotor da paz” (!) concedido pela Unesco. Segundo o frade, a população cubana superou até a necessidade dos utensílios domésticos burgueses (geladeira, máquina de lavar roupa, etc.). Este é o tipo de sociedade para a qual ele e os demais adeptos da “teologia da libertação”, que influenciam o PT, coadjuvados pelo ambientalismo radical — inimigo do desenvolvimento — , querem empurrar o Brasil e a América.

Veja:
Revista Catolicismo

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