Barbarização do Ocidente leva ao tribalismo


26/11/2008

Juan Gonzalo Larrain Campbell

Plinio Corrêa de Oliveira descreveu a decadência do Ocidente e previu a sociedade anarco-tribalista a que este chegaria. A propaganda indigenista atual confirma a previsão.

Muitas pessoas se perguntam, ao ler os jornais ou ao ver o noticiário da televisão, por que razão tantas personalidades eclesiásticas e civis levam a enaltecer a figura dos índios — na sua condição selvagem e enquanto não civilizados — dando-lhes um destaque desproporcionado na mídia, ou outorgando aos silvícolas imensas extensões territoriais.

Resposta a esta justificada indagação, já a deu com toda clareza o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Desde os anos 40, predizia ele: a decadência religiosa e moral que o processo revolucionário vinha produzindo, especialmente no Ocidente, conduziria o mundo ao completo abandono da civilização e a um estado de coisas análogo ao tribalismo.

“Desabafam-se da civilização”

Turistas dançam com símbolos tribais num hotel na África
Assim, em 1944, escrevendo sobre o carnaval do ano anterior, afirmava:

“Cada vez mais, a invasão torrencial das idéias ditas modernas destruía princípios, aluía hábitos, deformava sentimentos e desorientava as mentalidades. Cada ano representava um degrau que se descia na escala da moralidade. E, por isso, cada carnaval seguinte trazia consigo sintomas mais característicos de decadência moral. Todos os instintos, todos os atrevimentos, todas as impudências, todas as facilidades e desregramentos, cada vez mais acesos e mais mal contidos no correr do ano, explodiam durante o carnaval com intensidade maior. Os três dias de carnaval passavam a ser a válvula por onde passava a chama de um incêndio que crescia sob a aparente normalidade da vida quotidiana. O carnaval perdeu assim sua nota familiar. [...] Chegamos por fim a este resultado: antigamente o carnaval era um desabafo. Mas desabafo supõe abafamento. A vida se transformou em um carnaval; o carnaval perdeu a sua razão de viver [...]

“Todo mundo, nestes dias, foge para as praias e para os campos. Para quê? Para descansar? Sim. Só para isso? Talvez não. Com efeito, chegados às praias, aos campos, o que fazem os excursionistas? Outro desabafo. Desabafam-se da civilização. Despem tudo quanto podem despir.

Tudo se desabafa, tudo se despe, tudo toma roupas com corte de traje proletário ou de mendigo (mas com que fazendas, exorbitantemente caras!), tudo toma ares de poviléu, quebram-se as últimas cerimônias, desfazem-se os últimos recatos, dissolvem-se as últimas dignidades; e, terminados os dias de excursão, todo mundo volta para a vida de todos os dias um pouco mais inimigo da roupa, da linha, da cerimônia, do que era antes. É o fruto deste outro gênero de desabafo. Outrora o carnaval era um desabafo da imoralidade. Agora, as excursões à orla marítima e ao campo servem para desabafar das regras mais elementares do bom tom.

 “Daqui a 30 anos, é provável que o desabafo consista em usar só uma tanga, não limpar mais os ouvidos, nem o nariz, nem as unhas, cuspir no chão, dançar samba descalços no mato. Haverá tabas luxuosas, com diária de 700 ou 800 cruzeiros. Cada pena de tanga custará 100 cruzeiros, o que não será mau, porque as tangas não terão muitas penas. Uma tanga modelo, cuja originalidade consistirá em ser de penas de pássaros de vários países, custará alguns dez mil cruzeiros.

“Exagero, dir-se-á. Há 30 anos, havia uns catões que prediziam em que charco haveríamos de parar. E havia também uns toleirões que respondiam: ‘exagero’! Os exageros não estavam nos profetas, mas nos acontecimentos que superaram as profecias”.(1)

V Revolução e barbárie tribal

Conforto nos quartos de "resort" na Tailândia.
Na terceira parte de Revolução e Contra-Revolução, escrita em 1976, portanto 32 anos depois do texto anterior, Plinio Corrêa de Oliveira explicita com detalhes a previsão que fizera em 1944. Ao analisar a transformação interna pela qual passava a III Revolução (comunista), afirma que a ditadura do proletariado não é o fim do processo revolucionário.(2) E prevê o nascimento da IV Revolução.

“Não é impossível, entretanto, prever como será a IV Revolução. [...] Ela deverá ser a derrocada da ditadura do proletariado em conseqüência de uma nova crise, por força da qual o Estado hipertrofiado será vítima de sua própria hipertrofia. E desaparecerá, dando origem a um estado de coisas cientificista e cooperativista, no qual — dizem os comunistas — o homem terá alcançado um grau de liberdade, de igualdade e de fraternidade até aqui insuspeitável.

“Como? — É impossível não perguntar se a sociedade tribal, sonhada pelas atuais correntes estruturalistas, dá uma resposta a esta indagação. O estruturalismo vê na vida tribal uma síntese ilusória entre o auge da liberdade individual e do coletivismo consentido, na qual este último acaba por devorar a liberdade. Segundo tal coletivismo, os vários “eus” ou as pessoas individuais, com sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade –– e conseqüentemente seus modos de ser, característicos e conflitantes –– se fundem e se dissolvem na personalidade coletiva da tribo, geradora de um pensar, de um querer, de um estilo de ser densamente comuns.

“Bem entendido, o caminho rumo a este estado de coisas tribal tem de passar pela extinção dos velhos padrões de reflexão, volição e sensibilidade individuais, gradualmente substituídos por modos de pensamento, deliberação e sensibilidade cada vez mais coletivos. É, portanto, neste campo que principalmente a transformação se deve dar.

“De que forma? — Nas tribos, a coesão entre os membros é assegurada sobretudo por um comum pensar e sentir, do qual decorrem hábitos comuns e um comum querer. Nelas, a razão individual fica circunscrita a quase nada, isto é, aos primeiros e mais elementares movimentos que seu estado atrofiado lhe consente.

“‘Pensamento selvagem’, pensamento que não pensa e se volta apenas para o concreto. Tal é o preço da fusão coletivista tribal. Ao pajé incumbe manter, num plano místico, esta vida psíquica coletiva, por meio de cultos totêmicos carregados de mensagens confusas, mas ricas dos fogos fátuos ou até mesmo das fulgurações provenientes dos misteriosos mundos da transpsicologia ou da parapsicologia. É pela aquisição dessas riquezas que o homem compensaria a atrofia da razão.

“Da razão, sim, outrora hipertrofiada pelo livre exame, pelo cartesianismo, etc., divinizada pela Revolução Francesa, utilizada até o mais exacerbado abuso em toda escola de pensamento comunista, e agora, por fim, atrofiada e feita escrava a serviço do totemismo transpsicológico e parapsicológico”.(3)

Estruturalismo –– tendências pré-tribais

O quarto acima visto por fora.
Em seguida, o Prof. Plinio relaciona toda a decadência moral a que o Ocidente vem sendo submetido, com a meta anarco-bárbaro-tribal da Revolução:

“Seja como for, na medida em que se veja no movimento estruturalista uma figura — mais exata ou menos, mas em todo caso precursora — da IV Revolução, determinados fenômenos afins com ele, que se generalizaram nos últimos 10 ou 20 anos, devem ser vistos por sua vez como preparatórios e propulsores do próprio ímpeto estruturalista.

 “Assim, a derrocada das tradições indumentárias do Ocidente, corroídas cada vez mais pelo nudismo, tende obviamente para o aparecimento ou consolidação de hábitos nos quais se tolerará, quando muito, a cintura de penas de ave de certas tribos, alternada, onde o frio o exija, com coberturas mais ou menos à maneira das usadas pelos lapões.

“O desaparecimento rápido das fórmulas de cortesia só pode ter como ponto final a simplicidade absoluta (para empregar só esse qualificativo) do trato tribal.

A crescente ojeriza a tudo quanto é raciocinado, estruturado e metodizado só pode conduzir, em seus últimos paroxismos, à perpétua e fantasiosa vagabundagem da vida das selvas, alternada, também ela, com o desempenho instintivo e quase mecânico de algumas atividades absolutamente indispensáveis à vida.

“A aversão ao esforço intelectual, notadamente à abstração, à teorização, ao pensamento doutrinário, só pode induzir, em última análise, a uma hipertrofia dos sentidos e da imaginação, a essa ‘civilização da imagem’ para a qual Paulo VI julgou dever advertir a humanidade”.(4)

Confirmação

“Taba” com energia solar...
Assim, de um lado, a Revolução vai barbarizando o Ocidente, e de outro, a mesma Revolução vai apresentando aos olhos do público, pela via dos fatos, o novo tipo humano para o qual o mundo deve rumar: o índio em seu estado mais primitivo e selvagem.

Para confirmar as previsões e denúncias de Plinio Corrêa de Oliveira expostas nestas linhas, citamos a enormidade de terras destinadas com exclusividade aos índios entre os anos 1992 e 2002, das quais damos alguns exemplos:

-Reserva Kaiapó, no Pará, com 3,2 milhões de hectares, para 3.000 índios (“Folha de S. Paulo”, 9-6-92).

- 22 reservas a serem demarcadas, com um total de 3,3 milhões de hectares, para 9.488 índios (“Folha de S. Paulo”, 30-5-92).

- Reserva Menkragnoti, no sul do Pará, com 4,9 milhões de hectares, para 489 índios (“Folha de S. Paulo”, 5-7-92). Esta reserva ficará unida às reservas Kaiapó e Jarina, e ainda ao Parque Nacional do Xingu, formando um total de 11,3 milhões de hectares (idem).

- Reserva Araweté, no sudeste do Pará, com 985 mil hectares, para 195 índios (“Folha de S. Paulo”, 19.4.92).

- Reserva Javari-Juruá, na fronteira com Peru e Colômbia, com 8,519 milhões de hectares. Quantidade de índios não mencionada (“Jornal do Brasil”, 21-4-01).

- Reserva do Baú, no sul do Pará, com 1,4 milhão de hectares. O Superior Tribunal de Justiça negou a inclusão de mais 450 mil hectares. A ampliação constava de ato do ministro da Justiça e foi objeto de recurso do Ministério Público Federal (“Folha de S. Paulo”, 14-2-01). A ampliação iria abranger a cidade de Novo Progresso e inúmeras fazendas particulares. Total de índios da reserva: 120 (“O Estado de S. Paulo”, 13-8-00).

- O total das terras reservadas aos índios já ocupa 104,368 milhões de hectares, mais de um milhão de quilômetros quadrados, equivalente a 12,26% do território nacional (“A Notícia”, Joinville, 19-4-00). (5)

Ao mesmo tempo em que os índios são transformados em latifundiários, vai-se eliminando, através da Reforma Agrária socialista e confiscatória, o direito de propriedade rumo ao estabelecimento do miserabilismo anarco-tribal.

A solução

Antes de concluir, devemos deixar claro que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira nada objetava contra a raça indígena enquanto tal, como contra qualquer outra raça. Pelo contrário, reconhecia comprazidamente seus valores autênticos. O que desejava, como deixou claro em seu livro Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, era que os silvícolas fossem evangelizados e civilizados de acordo com a doutrina tradicional da Igreja, como o fizeram o Beato Anchieta, Pe. Manoel da Nóbrega e outros verdadeiros homens de Deus. Livrando-os assim da barbárie pagã, na qual os neocomuno-missionários desejam não só mantê-los, mas até transformá-los em modelos ideais para a sociedade. Sobre isto e as denúncias do Prof. Plinio a respeito do papel da esquerda católica neste processo, poderemos tratar em outro artigo.

Terminamos estas considerações –– que a alguns talvez possam parecer sombrias, mas cuja procedência e atualidade não poderão negar –– pedindo a Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, que — após as graves tormentas que se abatem sobre os homens em nossos dias e ainda outras futuras, anunciadas em Fátima pela Santíssima Virgem — tenha misericórdia dos silvícolas, hoje manipulados por revolucionários eclesiásticos e leigos. E que, enviando missionários autenticamente contra-revolucionários, os converta à única Religião verdadeira, transformando-os assim em novos discípulos do Beato Anchieta e em corajosos defensores da fé católica, como outrora o foram, por exemplo, o índio Felipe Camarão e os que o seguiram.

E-mail do autor: gonzalolarrain@catolicismo.com.br

__________

Notas:

* Os grifos nos textos transcritos são nossos.

1. “Legionário” nº 603, 27-2-1944, “7 dias em revista”.

2. Com efeito, 20 anos depois da publicação da terceira parte de Revolução e Contra-Revolução, em muitos países está em curso um processo avançado de desmontagem do Estado, pelo qual este se mostra incapaz de exercer com eficácia suas funções essenciais como, por exemplo, manter a ordem pública, administrar a justiça, evitar ou castigar a delinqüência, controlar os cárceres, refrear a corrupção, defender a soberania contra movimentos subversivos ou regionalistas, etc. São exemplos destes movimentos certas ONGs, as guerrilhas que pululam em tantos países da América Latina e da África, etc. Na América do Sul, a Colômbia é o país no qual, até há pouco, por meio especialmente das FARC, o desmantelamento do Estado foi operado com mais eficácia e rapidez (cfr. Colombia: Nunca más bajo el imperio del caos! Un análisis de 20 años de guerra subversiva y de capitulaciones inaceptables, editado pela Sociedad Colombiana Tradición y Acción).

3. Catolicismo, nº 313, janeiro de 1977, Revolução e Contra-Revolução 20 anos depois, parte III, Capítulo III.

4. Iden, ibidem

5. Apud Dominique Pierre Faga, Índios: as invasões perante o direito brasileiro e a questão indigenista desde os seus primórdios, pp. 16 e 17. Edição e impressão “Diário das Leis Ltda.” – 5ª edição ampliada – maio de 2002.

Veja:
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