Na comemoração do centenário natalício do inspirador de Catolicismo
07/12/2008
As três grandes devoções
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“O Grupo de Catolicismo”. Assim eram conhecidos os seguidores de Plinio Corrêa de Oliveira que trabalhavam na redação e difusão desta revista — no início, em formato de jornal. Porém, antes da fundação de Catolicismo (janeiro de 1951), vários daqueles então jovens colaboravam com ele em “O Legionário” e eram qualificados como “O Grupo do Legionário”.(1) Antes de colaborarem neste semanário, eram denominados “O Grupo do Plinio”.
Assessorado sucessivamente por esses três grupos, que se ampliaram mais tarde com a fundação da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) em 26 de julho de 1960, o Prof. Plinio difundiu seus ideais contra-revolucionários pelo Brasil e no mundo inteiro.
Inspirados em tais ideais, surgiram no exterior outros grupos, que formaram em seus respectivos países associações co-irmãs e autônomas em relação à brasileira, assim expandindo a atuação contra-revolucionária pelos cinco continentes.
Com extraordinária fé, pensamento, personalidade e ação, Plinio Corrêa de Oliveira marcou o século XX e prossegue influenciando o século atual. Sem dúvida, ele continua sendo o pólo de referência de incontáveis admiradores no Brasil e no exterior, cujas vidas são pautadas pelo influxo de ordem espiritual, moral e intelectual recebido do mestre da Contra-Revolução.(2) E também de opositores, que em função dele definem suas posições.
Amor especial a tudo que se atacava na Religião
A fim de que a ação contra-revolucionária fosse profundamente eficaz e fecunda, Plinio Corrêa de Oliveira sempre orientou seus discípulos a cultivar uma sólida vida interior, em conformidade com os ensinamentos do abade cisterciense francês Dom Chautard (1858-1935) em sua obra A alma de todo apostolado.
Neste sentido, à pergunta “Qual o ideal inicial do ”Legionário?”, Plinio Corrêa de Oliveira responde num artigo publicado naquele semanário em 28-5-1944:
“Muita, muita, muitíssima devoção a Nossa Senhora. Espírito eucarístico ardente. Uma especial delicadeza em tudo que se refere à pureza e aos bons costumes. Em suma, como sempre se deu na Santa Igreja, os fiéis de escol deveriam amar com grande ardor tudo aquilo que de modo especial se ataca na Religião.
Em nossas palavras, graças a Deus, nenhum conceito, nenhum matiz que destoasse do Magistério de Pedro em uma só vírgula, em uma linha sequer.
Ao mesmo tempo, nunca perdemos de vista a obrigação de alimentar de todos os modos a devoção a Nossa Senhora e ao Santíssimo Sacramento”.
Três condições para o florescimento da Igreja
Na edição de Catolicismo de fevereiro de 1958, em artigo intitulado Primeiro marco do ressurgimento contra-revolucionário, nosso mestre sintetiza o quanto são fundamentais, para o florescimento da Igreja, três grandes devoções:
“Há para a Igreja três condições de florescimento tão essenciais, que se avantajam sobre todas as outras. Delas já tenho falado muito. Porém, nunca será suficiente insistir.
Antes de tudo, está a piedade eucarística. Nosso Senhor presente no Santíssimo Sacramento é o sol da Igreja. D´Ele nos vêm todas as graças.
Mas estas graças têm de passar por Maria. Pois é Ela a Medianeira universal, por quem vamos a Jesus, e por quem Jesus vem a nós. A devoção marial intensa, esclarecida, filial, é, pois, a segunda condição para o florescimento da virtude.
Se Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento está presente, mas não nos fala, sua voz se faz ouvir para nós através do Sumo Pontífice. De onde a docilidade ao sucessor de São Pedro é o fruto próprio e lógico da devoção à Sagrada Eucaristia e a Nossa Senhora.
Quando, pois, estas três devoções florescem, cedo ou tarde a Igreja triunfa. E, a contrario sensu, quando elas estão em declínio, cedo ou tarde a Civilização Cristã decai.
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De há muito vinham sendo os meios católicos da Europa e da América trabalhados por uma verdadeira lepra, que era o jansenismo.(3) Essa heresia tinha em mira precisamente enfraquecer a Igreja, minando a devoção ao Santíssimo Sacramento sob as aparências de um falso respeito. Exigia disposições tais para que se aproximasse alguém da Sagrada Mesa, que as pessoas por ela influenciadas, infelizmente muito numerosas, deixavam quase completamente de comungar. De outro lado, o jansenismo movia uma campanha insistente contra a devoção a Nossa Senhora, acusando-a de desviar de Jesus Cristo, em lugar de conduzir a Ele. E, por fim, essa heresia movia luta incessante contra o Papado, especialmente contra a infalibilidade do Sumo Pontífice.
Com a definição da Imaculada Conceição, desprendeu-se como uma chama um imenso anelo. Os melhores, os mais doutos, os mais qualificados elementos da Igreja desejavam a proclamação do dogma da infalibilidade papal. Mais do que ninguém, queria-o o grande Pio IX. E da definição deste dogma veio para o mundo um surto de devoção ao Papa, que constituiu para a impiedade nova derrota.
Por fim, veio o pontificado de São Pio X, e com ele o convite aos fiéis para a comunhão freqüente e até diária, bem como para a comunhão das crianças. E a era dos grandes triunfos eucarísticos começou a brilhar radiosa, para toda a Igreja.
Com tudo isto, a atmosfera jansenista foi varrida de dentro dos meios católicos. O surto modernista e, mais tarde, o surto neomodernista não conseguiram anular as grandes vitórias que a Igreja alcançara contra seus adversários internos.
Nos lances trágicos de uma crise apocalíptica que parece inevitável, não produzirão a grande conversão todas as graças acumuladas para a humanidade pecadora por esse novo surto de devoção à Sagrada Eucaristia, a Nossa Senhora e ao Papa?”
Três características do “Grupo do Plinio”
O Prof. Plinio (à direita, na foto) participa da procissão de Corpus Christi |
Alguns discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira perguntaram-lhe quais eram as principais características “do Grupo”. Numa exposição feita em 1966, ele as definiu:
“A primeira caracterísca é uma devoção especial para com as três rosas dos bem-aventurados: a devoção ao Santíssimo Sacramento, a devoção a Nossa Senhora e a devoção ao Papa. [...]
A essência do Grupo é, evidentemente, viver da seiva da Santa Igreja Católica. De sorte que, se fosse para o bem d´Ela, qualquer um de nós deveria estar disposto a imolar o Grupo sem vacilação e com entusiasmo. Para nós a Igreja é tudo, mas absolutamente tudo nesta Terra.
Eu nunca achei que houvesse um título mais bonito, dado a quem quer que seja, do que o título de ‘Rei Católico’ (concedido aos reis espanhóis). Quando de alguém se pode dizer que ele é, por antonomásia e por excelência, católico, para mim todas as bem-aventuranças estão contidas dentro disso. A palavra católico contém tudo quanto de bom, belo, verdadeiro e justo existe no vocabulário humano. Se alguém, no meu epitáfio, escrevesse Fuit vir Catholicus, dentro de minha sepultura eu estremeceria de alegria, por assim dizer. Porque eu não quero ser outra coisa senão um varão católico”. (vide quadro abaixo)
Varão Católico
Em vista de comentários de Plinio Corrêa de Oliveira a respeito da expressão latina Fuit vir Catholicus, discípulos seus promoveram a gravação de uma lápide — fixada em sua sepultura no cemitério da Consolação, na capital paulista — com o epitáfio que bem o reflete: Vir totus catholicus et apostolicus plene romanus (Varão católico, todo apostólico, plenamente romano).
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Eucaristia, Nossa Senhora e o Papado
Correspondentes e esclarecedores da TFP norte-americana, reunidos num congresso em Nova York, desejaram ouvir do Prof. Plinio algumas ponderações sobre o que a TFP visava. Assim, em 27 de outubro de 1982 ele lhes enviou a seguinte mensagem gravada:
“Mons. de Ségur considerava as ‘três rosas dos bem-aventurados’: o amor à Sagrada Eucaristia, a Nossa Senhora e ao Papa.
Amor à Sagrada Eucaristia, à qual devotamos um culto intenso e constante; fomentamos a comunhão diária; fomentamos a devoção a Nosso Senhor nas suas várias invocações, e também, notadamente, trazemos muitas pessoas para o grêmio da Igreja.
Amor a Nossa Senhora: a TFP estimula seus membros para que tenham o empenho na luta contra o comunismo, contra o socialismo, contra os grandes adversários da Civilização Cristã; mas para que eles tenham a força necessária nessa luta, a TFP incute a devoção ao Santo Rosário. Todos rezam diariamente o Rosário, além de outras devoções marianas, e são entusiastas da espiritualidade de São Luís Maria Grignion de Montfort, o grande apóstolo marial dos tempos modernos.
Amor ao Papa: ao pronunciar esta palavra augusta — ‘o Papa’ — parece-me ouvir, do fundo dos séculos, a voz divina de Nosso Senhor Jesus Cristo proclamando: ‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela’ ( Mt 16,18).
Quando falo do Papa, falo, bem entendido, dos Papas dos nossos dias, mas falo também dos Papas de todos os séculos, do Papado ao longo da História, com sua missão grandiosa, na continuidade admirável dos Papas autênticos em relação a São Pedro, que foi o fundamento escolhido por Nosso Senhor.
O Papa, visto assim, é o eixo da História. Ele é o eixo da História da Igreja, que, por sua vez, é o eixo da História do mundo.
A devoção ao Papa é fundamentalmente a devoção ao Papado — a devoção à Cátedra infalível da verdade. E toca aos católicos — na continuidade dos ensinamentos transmitidos pelo verdadeiro Magistério da Igreja — devotarem a esse ensinamento uma dedicação, uma entrega, uma adesão, uma submissão sem limites.
Nas antigas torres das igrejas eram instalados relógios. Era um símbolo muito poético: a Igreja indica a hora certa do pensamento humano. Para a Igreja todos se voltam, acertando seus relógios individuais, suas mentes individuais. Não pode haver coisa mais preciosa para pôr o gênero humano em ordem, para a Civilização Cristã e para se alcançar o Céu, do que a infalibilidade da Igreja assegurada principalmente nos documentos pontifícios. Nos documentos pontifícios verdadeiramente infalíveis, segundo os preceitos do Direito Canônico.
Nessas condições, é com emoção que também me refiro ao Papa, uma das ‘três rosas dos bem-aventurados’ que Mons. de Ségur mencionava.
Com os olhos postos nesta trilogia tão grata ao espírito de todos nós, eu julgo que nossa exposição termina, natural e harmonicamente, em três temas que são o ponto de encontro de nossas inteligências e de nossos corações”.
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Encerrando este capítulo, seguem algumas palavras de Plinio Corrêa de Oliveira, pronunciadas em 9-4-94, nas quais manifesta gratidão à sua querida e extremosa mãe, Da. Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira, por tê-lo estimulado a praticar importantes devoções que têm íntima analogia com as devoções pregadas por Mons. de Ségur. São palavras que transcrevemos como singela homenagem àquela mãe que trouxe ao mundo o varão católico cujo centenário de nascimento celebramos.
“Eu recebi de minha mãe a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a devoção a Nossa Senhora, a fé católica apostólica e romana, e as recebi como coisas fundamentais, que se devem tomar profundamente a sério”.
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