Esplendor de uma cerimônia de canonização
30/06/2009
Nelson Ramos Barretto Enviado Especial
O
jornalista responsável de Catolicismo teve o privilégio de assistir,
na praça de São Pedro, à recente cerimônia de canonização
de cinco novos santos, entre eles o admirável “Santo Condestável”
português, Nuno Álvares Pereira
Roma
–– Apesar de naquele dia 26 de abril Roma ter amanhecido nublada,
prenunciando chuva, a canonização de cinco novos santos representou
um dia radioso para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
O palco da cerimônia foi a esplendorosa praça de São Pedro,
circundada pela colunata de Bernini, tendo ao centro o milenar obelisco encimado
por uma cruz sobre a esfera. Abaixo desta, o dístico: Stat Crux, dum
volvitur urbis! (Enquanto o mundo gira, a Cruz permanece firme).
Na presença de milhares
de peregrinos, Bento XVI proclamou a santidade de quatro italianos e um português:
Arcangelo Tadini (1846-1912), fundador das Irmãs Operárias da
Casa de Nazaré; Bernardo Tolomei (1272-1348), fundador da Congregação
de Santa Maria do Monte Oliveto da Ordem de São Bento; Gertrude Comensoli
(1847-1903), fundadora do Instituto das Irmãs Sacramentinas; Caterina
Volpicelli (1839-1894), fundadora das Escravas do Sagrado Coração;
Nuno de Santa Maria Álvares Pereira (1360-1431), herói nacional
de Portugal e carmelita (Vide Catolicismo, abril/2009).
Marcada a cerimônia
para as 10 horas, os peregrinos já esperavam junto aos portões
de entrada da praça de São Pedro desde o alvorecer. Como jornalista,
consegui ocupar um lugar privilegiado, bem junto às autoridades civis
e religiosas.
A fachada da basílica
de São Pedro estava adornada com cinco quadros representando os novos
santos. Em primeiro plano, o magnífico trono do Papa, forrado de veludo
vermelho com bordados de ouro. Próximo a ele, um grande altar, para a
celebração da Missa e exposição dos ostensórios
portando as relíquias dos novos santos. Só estava aberta uma porta
da basílica, custodiada por um guarda suíço a rigor. Por
lá passaram e desceram as escadarias os cardeais, os monsenhores, os
dignitários civis, bem como o corpo diplomático vestindo casacas
adornadas de insígnias e condecorações.
A delegação
portuguesa se apresentou numerosa, ultrapassando três mil pessoas.
Pouco antes da cerimônia,
começou a chover, e os guarda-chuvas foram se abrindo. Uma vez iniciada,
porém, a chuva cessou. O prefeito da Congregação da Causa
dos Santos passou à leitura do resumo das biografias dos novos santos
para, no final, pedir ao Papa suas canonizações. No exato momento
em que o Pontífice aceitou e ordenou as canonizações, o
céu romano se abriu e um sol primaveril brilhou radiante.
Cortejo papal
As cerimônias de hoje
não têm mais o esplendor e o fausto de outrora, quando o Papa,
flanqueado por flabelis, entrava em sede gestatória dignamente carregada
por membros da Guarda Nobre, ao som das famosas trombetas de prata desenhadas
por Michelangelo.
Mas ainda agora, apesar
de se terem sacrificado muitos esplendores em nome da praticidade, ainda há
muita grandeza nos atos de uma canonização. O cenário da
praça de São Pedro, os cortejos, os cânticos gregorianos,
as belas orações em latim, os trajes litúrgicos e a compostura
da assistência, tudo isso nos remete para a grandeza da Igreja católica.
Após entrar solenemente
com os cardeais e ouvir o resumo da vida dos cinco bem-aventurados, o Papa reza,
rogando a intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e de todos os santos.
Pede que o Espírito Santo e a luz de Cristo resplandeçam na Igreja,
para proclamar a santidade de seus filhos. Em seguida ele entoa a Ladainha de
todos os santos, acompanhado pelo coral. Ato contínuo, reza a fórmula
da canonização. Com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo
e dos Santos Apóstolos São Pedro e São Paulo, pede à
Santíssima Trindade a exaltação da fé católica
e o incremento da vida cristã, a fim de definir e proclamar a santidade
dos cinco beatos a serem honrados devotamente como santos pela Igreja universal.
Cortejo das relíquias
Enquanto
o coro canta o Aleluia, um cortejo dos postuladores da causa de cada santo move-se
lentamente, portando os ostensórios contendo suas respectivas relíquias.
Depositam-nas no altar e se dirigem ao trono papal. Ali, de joelhos diante do
Pontífice, recebem sua bênção.
As relíquias de São
Nuno Álvares Pereira foram trazidas pelo postulador geral da Ordem Carmelita,
Padre Felipe M. Amenós y Bonet, que conseguira reabrir a causa de canonização
graças a um milagre obtido por sua intercessão no ano 2000.
O Prefeito da Sagrada Congregação
para a Causa dos Santos pede ao Papa que seja lavrada a Carta Apostólica
da Canonização dos cinco santos. O Papa responde: “Decernimus”
(Ordenamos). O Pontífice entoa o Gloria in excelsis Deo, que é
respondido não apenas pelo coral, mas também pela multidão
de fiéis.
São feitas as leituras
da Epístola e do Evangelho. Segue-se depois a homilia do Santo Padre,
no fim da qual ele entoa o Credo, em gregoriano, acompanhado também pela
multidão.
Cortejo dos miraculados
No momento do Ofertório,
forma-se um cortejo das pessoas agraciadas com os milagres obtidos pela intercessão
dos santos que estão sendo canonizados. Pude constatar a alegria desses
privilegiados da graça. Entre eles encontrava-se o casal Roberto Marazzi
e Elizabeta Fostini, em que vários exames médicos diagnosticaram
a impossibilidade de terem filhos. Não desanimaram, e sem nenhum recurso
artificial nasceram-lhes miraculosamente dois filhos, Maria e Giovanni, pela
intercessão de Santo Tadini.
A Missa foi rezada em latim.
Na hora da Comunhão, o próprio Papa ministrou-a a um grupo de
fiéis ajoelhados num genuflexório situado em frente do altar.
Graças de arrependimento e conversão pairavam no ambiente. A meu
lado, um senhor português pediu a um sacerdote brasileiro que ali se encontrava
para se confessar, e assim poder receber a santa comunhão.
A cerimônia se encerrou
ao meio-dia com a oração do Regina Cæli. O Papa ainda saudou
os peregrinos de vários países ali representados. Aos portugueses,
disse:
“Dirijo a minha saudação
grata e deferente à delegação oficial de Portugal e aos
bispos vindos para a canonização de Frei Nuno de Santa Maria,
com todos os seus compatriotas que guardam no coração o testemunho
do ‘Santo Condestável’: deste modo lhe chamavam já
os do seu tempo.
“Em particular saúdo
os carmelitas, a quem um dia se prendeu o olhar e o coração deste
militar crente, vendo neles o hábito da Santíssima Virgem, e no
qual depois ele próprio se amortalhou. Ao desejar a abundância
dos dons do Céu para todos os peregrinos e devotos de São Nuno,
deixo-lhes este apelo: ‘Considerai o êxito da sua carreira e imitai
a sua fé’ (Heb. 13, 7)”.
Veja:
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