Um eco do Brasil de outrora — o Brasil real e profundo


12/04/2010

Hélio Viana

Esta fotografia mostra um engenho de açúcar de Pernambuco da primeira metade do século XVIII, mais precisamente o Engenho de Uruaé, próximo à cidade de Goiana.

No primeiro plano vê-se a casa-grande, louçã e graciosa na sua simplicidade, enriquecida pela aconchegante varanda guarnecida de arcos, cujas molduras pintadas de ocre repetem em curva o mesmo motivo contido nas três janelas com floreiras, ao alto.

Ao lado, esguia e acolhedora, tendo bem no alto a cruz, a capela de Nossa Senhora da Piedade. As três janelas-balcão e o campanário à esquerda, no mesmo nível, apresentam uma agradável idéia de proporção. O azul das janelas e das portas contrasta com a singeleza da caiação.

Emoldura o conjunto uma vegetação luxuriante e variegada, que contribui para atenuar as ardências da temperatura, e cujo profundo verdor contrasta com o céu azul parcialmente coberto por espessas nuvens.

*       *       *

No ambiente transparecem a fé, o equilíbrio e a alegria temperante de uma época ainda profundamente marcada pela civilização cristã, cujo cotidiano era robustecido por grande estabilidade.

Tempos saudosos de antanho, onde a árdua faina diária era suavizada pelo sobrenatural, representado aí pela capela, cuja presença lembra continuamente aos homens que tudo quanto eles façam deve ter em vista o seu fim último, que é o Céu.

Podemos imaginar como seria, por exemplo, o toque do sino à hora do Angelus do meio-dia e das seis da tarde, ou ainda quando, em alguns domingos, convocava todos para a Missa matinal: o padre, de batina, que chegava cumprimentando e abençoando patrões e empregados em trajes endomingados; e que em seguida, paramentado a rigor, dava início à celebração da Missa tradicional em latim.

Findo o Santo Sacrifício, alegria geral. Todos conversavam animadamente. Os adultos saudavam-se e sugeriam às crianças que se apresentassem ao vigário para receber sua bênção e um eventual santinho. Depois elas se dirigiam aos patrões, que as abençoavam e lhes prodigalizavam afagos e presentinhos. Até o momento em que todos se dispersavam, pois o vigário estava sendo convocado a passar à sala de jantar, onde o esperava suculento café acompanhado de biscoitos, bolos e doces caseiros em profusão.

Veja:
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