Um exercício de transcendência:
A majestade de Deus, vista em Luís XIV


17/03/2011

Plinio Corrêa de Oliveira

Luís XIV (1643-1715) foi um homem de suma majestade. Realizava em si a união muito feliz de dois dos melhores sangues que há no mundo: sua mãe Ana
d´Áustria era Habsburgo, e seu pai Luís XIII era Bourbon, unindo assim duas nações cujas qualidades se equilibram muito.

O Rei-Sol se diferenciava até dos franceses, pois à elegância do francês acrescentava algo da solenidade compassada e majestosa do espanhol. O que Luís XIV tinha da irradiação própria do sol se explica por essa coexistência da elegância francesa com uma certa grandeza espanhola. Ele incutia um respeito tão extraordinário, que às vezes precisava tranqüilizar pessoas que se aproximavam dele.


Retrato do Rei Luís XIV pintado por Charles Le Brun, 1655.
Museu de Versalhes.
Não entrava nisso nada de arrogância, vaidade ou interesse, era uma respeitabilidade que irradiava de uma superioridade autêntica, no sentido pleno da palavra. Não se devia à posição que ele ocupava, pois quem não soubesse que ele era o rei, ainda assim perceberia que se tratava de um personagem superior.

O corpo é de algum modo símbolo da alma, e as propriedades da alma se irradiam através do corpo: vendo-se o físico, percebe-se a alma; e percebendo a alma, nota-se uma realidade que paira acima da realidade física, quando uma pessoa possui certos atributos num grau muito alto. Assim, por um discernimento que vai além do olhar dirigido à fisionomia, pode-se perceber simbolicamente um bem da alma, no caso concreto a majestade e a respeitabilidade de alma do rei.

Através de aparências sensíveis, percebe-se algo que não é sensível. Vendo a alma majestosa de Luís XIV, percebe-se no fundo algo de mais alto, que é o próprio conceito abstrato de majestade. Esse conceito, não o teria claramente quem estudasse um tratado sobre majestade, mas poderia percebê-lo quem visse em Luís XIV a alma do rei. Trata-se de um fenômeno espiritual, pelo qual transparece num homem uma qualidade moral que não é oriunda de uma definição.

Com isso tornamos palpável algo que é abstrato, e que nos conduz a Deus. Não se pode dizer que Deus tem qualidades, pois Ele é as próprias qualidades que possui: não dizemos que é majestoso, mas que é a Majestade; não que é bom, mas a própria Bondade; não que é sábio, mas a própria Sabedoria.

Se olho para um homem e vejo a majestade de sua alma, posso formar a idéia do que é a majestade em abstrato, como também a majestade em absoluto de Deus. Desse modo, posso ter uma idéia da visão beatífica, que é a visão de Deus face-a-face.

Concluindo, podemos dizer que em Luís XIV percebemos algo da majestade de Deus, e assim compreenderemos melhor a Deus. É um exercício intelectual excelente, que Santo Tomás de Aquino chama de quarta via.

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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 23 de março de 1973. Sem revisão do autor.

Veja:
Revista Catolicismo

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