Choque de Civilizações — a Cruz versus o crescente
02/09/2004
Plinio Corrêa de Oliveira
Há 550 anos teve início uma cruzada que culminou com o triunfo
da Cruz sobre a meia-lua muçulmana. Mediante a vitória de Belgrado,
foi rechaçado o exército
otomano que invadira a Europa.
Comemoram-se neste ano 550 anos de um dos maiores triunfos da Cristandade.
Em 1454 organizou-se a expedição católica contra a invasão
dos turcos muçulmanos. Estes, tendo tomado Constantinopla (capital
do Império Bizantino) em 1453, almejavam subjugar a Europa cristã a
partir da tomada de Belgrado. Seria esta a porta de entrada para os muçulmanos,
que planejavam avassaladora marcha de conquista de outras nações
católicas até dominarem Roma, onde — diziam eles — substituiriam
as cruzes pela meia-lua islâmica e entrariam com seus cavalos nas igrejas
da Cidade Eterna.
Naquela época a Providência suscitou um grande santo e estadista,
São João de Capistrano (1386 – 1456), cognominado O Guerreiro
Franciscano de Belgrado. Ele pregou uma cruzada contra os terríveis
inimigos da Civilização Cristã e conclamou a formação
de um exército católico. Sob o comando do Conde João Hunyady,
esse pequeno exército, que não chegou a 50.000 homens, marchou
contra as tropas do poderoso sultão Maomé II. Este contava com
forças que atingiam o impressionante número de 400.000 soldados,
e já sitiava Belgrado por terra e mar.
Nesse desproporcional entrechoque, São João de Capistrano chefiou
pessoalmente uma ala dos cruzados, tão inferiores em número,
nos momentos mais árduos da batalha, e os conduziu à vitória,
rechaçando os turcos muçulmanos do continente europeu em julho
de 1456.
Plinio Corrêa de Oliveira comenta esse feito da Cristandade em artigo
para o nº 15 de Catolicismo (março/1952), que reproduzimos a seguir:
São
João de Capistrano
percorria
as fileiras católicas,
com um
crucifixo nas mãos,
incentivando
os guerreiros ao
combate |
“
São João de Capistrano, embora vivendo exclusivamente para a
Igreja, seria chamado a prestar-lhe seus serviços em uma esfera mais
próxima dos interesses temporais.
A seu tempo, consumou-se a queda do Império Romano do Oriente, tendo
sido conquistada a cidade de Constantinopla em 1453, por Maomé II. O
islamismo representava naquele tempo, para a Cristandade, perigo semelhante
ao do comunismo em nossos dias [1952]. Inimigo da Fé, visava exterminá-la
da face da Terra. A seu serviço, tinha as riquezas, as armas, o poderio
de um dos mais vastos impérios da História, qual era àquele
tempo o dos turcos. A luta entre os muçulmanos vindos do Oriente, e
os cristãos do Ocidente, não era apenas um choque entre dois
povos, mas entre duas civilizações; mais do que isto, entre duas
religiões.*
__________
Nota:
* Merece ser ressaltado que Plinio Corrêa de Oliveira, já no início
da década de 50, falava em choque de civilizações. Portanto,
muito antes do lançamento do tão propalado livro O Choque de
Civilizações, o best seller de Samuel Huntington, que veio a
lume em 1996. Nos dias atuais continua esse mesmo choque, denunciado pelo autor
do artigo há 51 anos, mas silenciado e escamoteado dos mais diversos
modos, especialmente pelos laicistas, pacifistas e “católicos” progressistas.
As forças
do sultão
Maomé II sitiam
Constantinopla por
terra
e mar, antes de
dominá-la em 1453 |
Com a queda de Constantinopla, abriam-se para os turcos os
caminhos da Europa ocidental. Maomé II não se deteve após a brilhantíssima
vitória que alcançou em Constantinopla. Prosseguiu pelos Balkans
adentro, visando atingir a Cristandade na Europa central.
Ora, os europeus daquela época — parecidos nisto com os homens
de nossos dias — preferiam não ver de frente os perigos, não
tomar atitude, não lutar. Sensuais, dissolutos, com um fervor religioso
muito decadente — preparavam-se já a Renascença e o protestantismo —,
pouco se lhes dava do dia de amanhã, e menos ainda a eternidade. Queriam
gozar somente o momento presente.
Diplomata
Como galvanizar contra o formidável poderio do Islã as forças
dessa Cristandade decadente?
Tratava-se de agir sobre príncipes e reis, sobre cardeais, bispos e
clérigos, sobre fidalgos e sobre letrados, enfim sobre toda a massa
da população, despertando as consciências para um perigo
real e aplainando as vias para uma geral colaboração no interesse
da Igreja e da Civilização Cristã ameaçadas. Assim,
tornar-se-ia por fim possível lançar contra Maomé II uma
cruzada.
Para esse trabalho titânico, o Papa Calixto III e o Imperador lançaram
os olhos sobre São João de Capistrano, que já exercera
com brilho as funções de Núncio Apostólico, a pedido
do próprio Imperador.
Sempre recolhido, sempre devoto, sempre contemplativo, São João
de Capistrano lançou-se de cheio na tarefa. Participou ele assim em
1454 da Dieta [Assembléia] de Frankfurt, em que o Sacro Império
Romano Alemão tomou a Cruz para repelir os turcos. Sua ação
diplomática foi decisiva para obter a coligação dos príncipes
cristãos, divididos entre si por questões temporais de toda ordem.
Guerreiro
João
Hunyady,
nobre húngaro
, comandou o
exército católico,
venceu as forças
invasoras turcas
, obtendo a vitória
de Belgrado |
O comando da expedição foi confiado a um nobre húngaro
que se tornara ilustre em lutas anteriores, e que mais tarde adquiriu imortalidade
na luta conta os turcos. Hunyady, auxiliado por São João de Capistrano,
caminhou com as tropas cristãs em direção aos infiéis.
O encontro decisivo deu-se na altura de Belgrado. Faltando a Hunyady quem capitaneasse
a ala esquerda de seu exército, disto se encarregou São João
de Capistrano, que se houve com raro acerto e vigor. Quando terminou a batalha,
jaziam no campo mais de cem mil guerreiros muçulmanos, e Maomé II
estava em fuga. A Igreja conquistara admirável triunfo, a investida
turca estava rechaçada.
Humanamente falando, que homem foi em seu século maior do que São
João de Capistrano? Santo, orador, estadista, diplomata, Geral de uma
Ordem Religiosa importantíssima, e por fim guerreiro, foi exímio
em tudo. E o segredo de sua grandeza está precisamente na santidade,
no auxílio da graça que lhe permitiu vencer os defeitos da sua
natureza e aproveitar admiravelmente todos os dons sobrenaturais e naturais
que Deus lhe dera.
Pode haver algo mais diferente do ‘carola’?
Não é bem verdade que muita gente teria mais desejo de ser ardentemente
católica se compreendesse que a Igreja não forma ‘carolas’,
mas homens no esplendor da natureza elevada e dignificada pela graça?
Veja:
http://www.catolicismo.com.br
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