“Desmonarquização” da autoridade eclesiástica


20/03/2013

Em sua obra Revolução e Contra-Revolução,(1) discorrendo sobre a IV Revolução — movimento que visa impelir a sociedade civilizada para uma vida tribal — Plinio Corrêa de Oliveira tece os comentários abaixo, muito oportunos para a compreensão da confusa realidade de nossos dias.

Tribalismo eclesiástico — Pentecostalismo


O pároco de Ojo de Agua, em Saltillo (México), usa paramentos inaceitáveis, ornados com desenhos de estórias em quadrinhos! E asperge água benta com uma pistola de brinquedo...

Falemos da esfera espiritual. Bem entendido, também ela a IV Revolução quer reduzir ao tribalismo. E o modo de o fazer já se pode bem notar nas correntes de teólogos e canonistas que visam transformar a nobre e óssea rigidez da estrutura eclesiástica, como Nosso Senhor Jesus Cristo a instituiu e 20 séculos de vida religiosa a modelaram magnificamente, num tecido cartilaginoso, mole e amorfo, de dioceses e paróquias sem circunscrições territoriais definidas, de grupos religiosos em que a firme autoridade canônica vai sendo substituída gradualmente pelo ascendente dos “profetas” mais ou menos pentecostalistas, congêneres, eles mesmos, dos pajés do estruturalo-tribalismo, com cujas figuras acabarão por se confundir. Como também com a tribo-célula estruturalista se confundirá, necessariamente, a paróquia ou a diocese progressista-pentecostalista.

“Desmonarquização” das autoridades eclesiásticas

Nesta perspectiva, que tem algo de histórico e de conjectural, certas modificações de si alheias a esse processo poderiam ser vistas como passos de transição entre o status quo pré-conciliar e o extremo oposto aqui indicado. Por exemplo, a tendência ao colegiado como modo de ser obrigatório de todo poder dentro da Igreja e como expressão de certa “desmonarquização” da autoridade eclesiástica, a qual ipso facto ficaria, em cada grau, muito mais condicionada do que antes ao escalão imediatamente inferior.

Tudo isto, levado às suas extremas consequências, poderia tender à instauração estável e universal, dentro da Igreja, do sufrágio popular, que em outros tempos foi por Ela adotado às vezes para preencher certos cargos hierárquicos; e, num último lance, poderia chegar, no quadro sonhado pelos tribalistas, a uma indefensável dependência de toda a Hierarquia em relação ao laicato, suposto porta-voz necessário da vontade de Deus. “Da vontade de Deus”, sim, que esse mesmo laicato tribalista conheceria através das revelações “místicas” de algum bruxo, guru pentecostalista ou feiticeiro; de modo que, obedecendo ao laicato, a Hierarquia supostamente cumpriria sua missão de obedecer à vontade do próprio Deus. [...]

Em meio a esse caos, só algo não variará. É, em meu coração e em meus lábios, como no de todos os que veem e pensam comigo, a oração transcrita ao final da Parte III: “Ad te levavi oculos meos, qui habitas in coelis. Ecce sicut oculi servorum in manibus dominorum suorum, sicut oculi ancillae in manibus dominae suae; ita oculi nostri ad Dominam Matrem nostram donec misereatur nostri”.(2) É a afirmação da invariável confiança da alma católica, genuflexa, mas firme, em meio à convulsão geral.


No Canadá, o frade progrestista André Gauthier(esq.), da Comunidade dos Irmãos das Escolas Cristãs, num encontro da juventude

 

Firme com toda a firmeza dos que, em meio da borrasca, e com uma força de alma maior do que esta, continuarem a afirmar do mais fundo do coração: “Credo in Unam, Sanctam, Catholicam et Apostolicam Ecclesiam”, ou seja, Creio na Igreja Católica, Apostólica, Romana, contra a qual, segundo a promessa feita a Pedro, as portas do inferno não prevalecerão.

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Notas:

(1) Revolução e Contra-Revolução, Artpress, Parte III, Cap. III, E (e Posfácio de 1992), São Paulo, 2012.

(2) "Levanto meus olhos para ti, que habitas nos Céus. Assim como os olhos dos servos estão fixos nas mãos dos seus senhores e os olhos da escrava nas mãos de sua senhora, assim nossos olhos estão fixos na Senhora, Mãe nossa, até que Ela tenha misericórdia de nós" (Cfr. Ps. 122, 1-2).

Veja:
Revista Catolicismo

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