Natal na Itália, na Alemanha e no Brasil
12/12/2004
Plinio Corrêa de Oliveira
Três modos diferentes de comemorar o Natal, três variedades de contemplação
Se
imaginarmos um presépio elaborado em certas regiões da Itália, podemos conceber as
figuras todas tomando atitudes muito enfáticas: o Menino Jesus deitado
na manjedoura, estendendo os braços a Nossa Senhora; Ela debruçada sobre
seu divino Filho numa atitude de profunda ternura, mas uma ternura borbulhante,
que tende a se manifestar em gestos que até parecem falar; e se o artista
conseguir dar a Nossa Senhora e ao Menino-Deus uma impressão diante da
qual alguém diga “só falta falarem!”, o artista ficará encantado, porque
o falar e o manifestar-se constitui o auge da realização da cena. São
José também, que está perto –– a ele cabe naturalmente, no diálogo entre a Santíssima Virgem
e o Divino Infante, um papel mais modesto, porque é apenas o pai jurídico
do Menino Jesus — aparece numa posição que, se não falta apenas falar,
está prestes a chorar ou a sorrir, conforme a interpretação, mas ele todo
está se exprimindo.
Vê-se que, segundo essa concepção, a emoção religiosa deve manifestar-se
por meio de grande vivacidade, e que tal vivacidade deve exprimir-se por
pensamentos e palavras. E tais pensamentos devem ser vivos, e os termos
que os expressam serão enfáticos e calorosos.
* * *
A concepção alemã da noite de Natal é precisamente o contrário da
acima exposta. A noite de Natal, para ser bem sacral, tem que produzir
nas almas uma impressão profunda, que é comum a todos os povos. Mas, para
a mentalidade alemã, tal impressão profunda, por ser profunda, não deve
expandir-se, pois situa-se no fundo da alma. E sua melhor manifestação
exterior é o silêncio, o recolhimento e a calma.
Enquanto para uns a palavra e o gesto são o auge da expressão, para
outros, pelo contrário, o clímax da expressão consiste numa forma de silêncio
e de inação, que dão a conhecer profundidades insuspeitadas da alma humana;
e que, por seu próprio silêncio, indicam a impotência da alma para exprimir
tudo quanto ela cogita. Indicam uma posição do espírito menos exclamativa
do que meditativa e elucubrante. Dir-se-ia uma
atitude quase filosófica ou teológica, recolhida.
Essa calma, que entretanto não é de tipo científico, é profundamente
enternecida. Ternura que indica um afeto tão grande, que a pessoa prefere
calar-se a falar. Desse modo, se uns têm a eloqüência da palavra e do gesto,
os outros manifestam uma como que eloqüência do silêncio, do recolhimento.
São duas posições diferentes.
* * *
Qual das duas é a melhor? Compreendo que os italianos tenham a respeito
do assunto uma posição, e que os alemães adotem outra. Qual seria a atitude
brasileira? A de compreender perfeitamente ambas as posições e degustar
tão bem uma como a outra. Essa é bem a maneira brasileira, e é o que sinto
em mim. A perfeita compreensão tanto dos italianos quanto dos alemães.
Como brasileiro, falaria menos que os italianos e calar-me-ia menos
que os alemães. Ainda mais que sou brasileiro com a loquacidade do nordestino
nas minhas veias.
São variedades regionais, mediante as quais Deus quer ser adorado
por todos os povos. Não se trata de escolher, trata-se de contemplar a
beleza das variantes.
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Excertos da conferência proferida
pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 21 de dezembro de 1973. Sem revisão
do autor.
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
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