Os acontecimentos que
redundaram na morte da freira norte-americana Doroty Stang no Pará continuam confusos.
Pessoas que estavam com
a freira dizem que ela foi executada. A polícia tem uma lista de suspeitos.
Já o diretor do Núcleo
da Transamazônica do Sindicorte (Sindicato Paraense
de Pecuária de Corte), Francisco Alberto de Castro disse que a imprensa
vem noticiando "inverdades". Segundo ele, a morte não foi programada, mas
um crime isolado e acidental. "O grupo dela [da freira] teria queimado
uma camionete e as pessoas ligadas ao dono foram saber o que acontecia.
Ela, então, disse: "Aqui vai ser desse jeito mesmo". Começaram a discutir.
Aí o cara, no calor da discussão, atirou nela."
“Agitadora”
Para ele, a missionária Dorothy Stang é a "culpada" pelo conflito na área rural que resultou no assassinato dela,
no último sábado. "Estão fazendo dela uma santa e ela não é. Ela criou
uma situação que levou ao que aconteceu. Ela é culpada disso." O fazendeiro
disse que a freira mandava invadir terras e criava transtorno em Anapu (PA). "Era uma agitadora, uma mulher que criou só problema
e agora é endeusada de maneira que está prejudicando a região, porque o
governo está mandando tropas e criando uma confusão."
Informou que a Câmara
de Anapu declarou, em 30 de abril de 2003, a
missionária "persona non grata", "como
ato de repúdio da população às ações desagregadoras por ela praticadas".
Castro disse que "95% da população" de Anapu é contra a freira.
Governo
não quer desapontar o MST
O jornal Folha de S.
Paulo (18-2) informa que o governo está preocupado com a reação das entidades,
especialmente dos sem-terra. Marina Silva (Meio Ambiente) afirmou que era
preciso sinalizar para os aliados antigos do PT, como o MST, que o governo
agirá.
O
governo federal decidiu interditar 8,2 milhões de hectares de área pública
na margem esquerda da BR-163, na região Norte - o que equivale a quase
o dobro do Estado do Rio de Janeiro - para nelas criar, dependendo de
estudos específicos, mais unidades de conservação ambiental. Essa foi a região
onde ocorreu o maior número de desmatamentos em 2004. Com
essa determinação, pretendemos bloquear a expansão dessa frente predatória
no sul do Pará", explicou a ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva. O governo anunciou também outras sete medidas preparadas pelo
Meio Ambiente, incluindo mais cinco decretos, uma medida provisória e
um projeto de lei que criará a gestão de florestas públicas, incluindo
a formação de um Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo Nacional de Desenvolvimento
Sustentável.
Imediatamente, o governo
já criou cinco unidades de conservação, duas delas nas áreas de conflito
no Pará. A primeira é a estação ecológica de Terra do Meio, com 3,4 milhões
de hectares. A outra, o Parque Nacional da Serra do Pardo, entre Altamira
e São Félix do Xingu, com 445 mil hectares. Em ambas, a exploração será limitada
a um plano de manejo ambiental.
O
governo federal montou uma operação de guerra na selva para capturar
os quatro suspeitos do assassinato da irmã Dorothy Stang. o Exército
mandou para o local três helicópteros com capacidade para transportar
23 pessoas cada e equipamento sofisticado de operações de selva, que
inclui aparelhos de comunicação por satélite Globalsat,
além de veículos de deslocamento em terrenos acidentados. Eles trouxeram
até cães de guerra, além de armamento pesado de combate,
que inclui fuzis, metralhadoras e granadas. nos próximos
dias 400 policiais da Força Nacional para a região do conflito de terras
no Pará.
Governo autoritário
Os
sindicatos dos pecuaristas e dos madeireiros do Pará divulgaram hoje
uma nota conjunta classificando "de ardilosas e oportunisticamente associadas
a recentes atos de violência no campo" as medidas
anunciadas quinta-feira pelo governo federal para a região Norte. Eles
manifestam "inconformismo diante da maneira rude e autoritária" com que
o governo federal trata a violência e a questão fundiária na região.
Na opinião dos sindicatos
Paraense de Pecuária de Corte (Sindicorte) a
Indústria Madeireira do Baixo e Médio Xingu (Simbax),
o pacote de medidas "interdita o desenvolvimento em nome de uma política
de preservação anti-econômica,
anti-social e antidemocrática". Eles ressaltam que a morte da irmã Dorothy Stang não pode servir de
pretexto "para cercear a atividade de empreendedores que, há mais de 30
anos, se instalaram na Transamazônica atendendo a um apelo do governo federal
para um projeto de desenvolvimento regional".
Os sem-terra mandam na região
Aqui os sem-terra são inimputáveis, igual a índio", protesta Lázaro de Deus Vieira Neto, o Lazinho, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Parauapebas. Ele reclamou que dezenas de mandados judiciais
para reintegração de posse não são cumpridos pelo governo paraense. "O
governo virou refém dos sem-terra".
Muita gente pensa que o fazendeiro é quem
manda na região, mas são os sem-terra que mandam", afirma. "Estamos sofrendo demais, geramos emprego, produzimos,
trabalhamos e não temos sossego."
As estradas interditadas
pelos sem-terra impedem o escoamento da produção da mina Sossego, a maior
produtora de cobre do Brasil, explorada pela Companhia Vale do Rio Doce. Caminhões
parados ao longo da estrada esperavam ontem pela liberação. Um caminhoneiro
que tentava ir para Marabá matava o tempo no bar A Gaúcha, centro de Parauapebas. "Tinha
de matar todos esses bandidos aí" (FSP, 18-2).
Esquerda
católica e ambientalistas
A organização ambientalista Greenpeace iniciou
uma campanha internacional para pressionar o governo a prender e punir
os assassinos da irmã Dorothy Stang.
Editorial do jornal O
Estado de S. Paulo (18-2) comentar: “A óbvia
tentativa de tornar a irmã Dorothy Stang mártir da violência entre latifundiários improdutivos
e miseráveis trabalhadores rurais sem-terra, feita por um alto dignitário
da Igreja Católica no Brasil, viola uma das virtudes cristãs fundamentais:
o amor à verdade. A verdade é que nem o agronegócio, nem muito menos o
MST, tem o mínimo interesse pelas terras cobertas pela floresta amazônica.
O que o MST deseja são as terras cultivadas pelos "agronegociantes" -
de preferência em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Dom Tomás Balduíno age como os fariseus execrados por Cristo”.
Do
contingente da esquerda católica que atua no Pará e em Tocantins, destacam-se o
frade dominicano francês Henri Burin des Roziers, o ex-seminarista José Batista Gonçalves Afonso,
o frade dominicano Xavier Plassat, que também
coordena atuações da Comissão Pastoral da Terra (CPT).