Inexiste vida indigna de ser vivida
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O direito à vida é de
Direito divino e também de Direito natural. Portanto, uma obrigação
geral e inalienável
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Também
aqui, embora todos os aspectos levantados sejam extremamente graves, o
problema central para um católico não é esse. É fato que muitas de tais
crianças nascem já mortas; a maioria vive umas poucas horas; algumas vivem
dias, semanas e até meses. O que se deve ter primeiramente em conta são
as misteriosas relações da criança com seu Criador, que lhe deu a vida.
Afirma
o Dr. Albert Niedermeyer, Doutor em Medicina, Filosofia e Direito, Catedrático
da Universidade de Viena: “A vida psíquica dos mentalmente mortos apresenta
muitos enigmas não resolvidos. Em alguns casos têm-se revelado fatos surpreendentes
ao descobrir, ante a morte iminente, uma exuberante vida anímica soterrada
sob a superfície, inclusive em enfermos dementes em absoluto. Também não
sabemos o que ocorre com o moribundo. Só pressentimos que precisamente
os instantes últimos são para ele de importância decisiva, e que em alguns
podem ainda trazer uma pletora de abundantes graças. [...] E o homem priva
seus semelhantes desses momentos decisivos da graça, por crer que pode
abreviar sua vida uns segundos, imaginando talvez que com isso lhes presta
um bom serviço.
“Sob
o ponto de vista sobrenatural, não há vida indigna de ser vivida. Ao
enfermo aparentemente mais perdido são aplicáveis as inspiradas palavras
de São Tomás: ‘É melhor para ele ser assim do que não ser em absoluto’ (melius
ei sic esse quam penitus non esse)
Para
compreender esta sentença, é indispensável poder conceber que todo ser
(esse) representa uma participação no ser de Deus. [...] Proposição misteriosa,
que para a arrogância humana, incapaz de elevar o olhar acima do terreno,
poderá parecer loucura e escândalo, mas que na realidade nasce de uma
profunda sabedoria”.(14)
Pais
de anencefálicos: situação psicológica
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É muito
duvidoso, por fim, que seja um benefício à saúde psíquica da mãe poupar-lhe
o trauma psicológico de levar no seu seio um filho gravemente doente. Diz
o Dr. Eugene F. Diamond, M.D., Professor da Pediatrics Loyola Stritch
School of Medicine: “Não está provado clinicamente que seja benéfico para
a mãe abortar em tais circunstâncias. Não há suficientes dados para provar
isso. [...] É sem dúvida muito traumático para os pais saber que eles têm
um filho anencefálico. [...] Se bem que a atitude convencional seja manter
o filho anencefálico separado da mãe, existem graves dúvidas com respeito
aos benefícios derivados dessa estratégia de negação. A experiência de
apoio aos pais de crianças com defeitos graves de nascença tende em geral
a indicar que existem efeitos saudáveis em levar os pais a reconhecer a
realidade de sua relação com o menino, por meio de atos como dar a ele
um nome, e abraçá-lo enquanto ainda está vivo. O ‘processo do luto’, quando é efetivado
e não recalcado ou suprimido, pode ser uma parte integrante da aceitação
e da cura final”. Observa o Dr. Diamond: É curioso que “o apoio
aos pais dos meninos nascidos com anomalias congênitas é dado tipicamente
por neonatalistas, pediatras, assistentes sociais, psiquiatras, ao passo
que a proposta do aborto por meio do parto induzido vem normalmente do
obstetra”.(15)
Voltamos
assim à conclusão inicial, de que o direito à vida é o mais primitivo do
homem, e fundamento dos demais direitos humanos, tanto no que se refere
ao direito natural quanto ao direito positivo. Não é possível salvaguardar
os direitos humanos sem que se lhes anteponha sempre o respeito ao direito à vida,
e com isso o respeito ao Criador e Conservador da vida. O direito à vida é juris
divini, portanto de obrigação geral e inalienável.
Por
trás do aborto, a eugenia dos
darwinistas e nazistas
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Já no séc. XIX, Darwin
propunha “seleção natural” das raças: quem é fraco ou defeituoso
não teria direito à vida
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Ante
a constatação da existência de uma rede mundial pró-aborto, que atua de
modo organizado e usa os mesmos slogans e táticas, surge a pergunta:
o que impulsiona tais militantes a aderir e a colaborar com essa infame
causa? Várias respostas poderiam ser apresentadas:
a
– Alguns consideram pesados os sacrifícios
e as responsabilidades da paternidade, carga que não estão dispostos
a suportar. Consideram os filhos um impedimento para o gozo dos prazeres
da vida. O fator decisivo para eles é o egoísmo.
b
– Outros justificam sua posição
criminosa de modo mais profundo: rebelam-se contra a sabedoria de Deus
e julgam-se no direito de escolher entre manter ou tirar a vida dos filhos
que concebem.
c
– O movimento abortista tem uma
ideologia oculta, denominada eugenia, que deseja impor suas idéias no
mundo inteiro. São seus objetivos: favorecer as raças e pessoas chamadas
superiores — eugenismo positivo; fazer desaparecer as raças e pessoas
chamadas inferiores –– eugenismo negativo.
A
eugenia era praticada pelos pagãos, inclusive os considerados altamente
civilizados, como gregos e romanos. Foi a Igreja Católica, ensinando gradativamente
aos bárbaros o alto valor da vida humana e seu destino eterno e sobrenatural,
que lhes inculcou ao mesmo tempo o horror ao aborto e ao infanticídio.
Quando a civilização ocidental e cristã começou a se afastar de Deus, o
aborto começou a ser praticado com freqüência cada vez maior. E no século
XIX a eugenia foi “redescoberta” por Darwin, cuja teoria evolucionista
de “seleção natural” procura explicar a formação de raças superiores
e inferiores: “Entre os selvagens, os corpos ou mentes enfermos são
rapidamente eliminados. Os homens civilizados, ao contrário, constroem
asilos para os imbecis, incapacitados e enfermos, e nossos médicos aplicam
o melhor do seu talento em conservar a vida de todos e de cada um, até o último
momento, permitindo assim que se propaguem os membros fracos das nossas
sociedades civilizadas. Ninguém que tenha trabalhado na reprodução de animais
domésticos duvidará de que isso é sumamente prejudicial à espécie humana”.(16)
Movimentos abortistas e herdeiros
da eugenia nazista
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Instaurada
como política oficial do nazismo de Hitler, a eugenia sobreviveu à queda
do Terceiro Reich. Refugiou-se e implantou sua base doutrinária em movimentos
como Planned Parenthood e instituições da ONU, como UNICEF, além
de uma longa lista de movimentos partidários da eugenia.
Margaret
Sanger, ícone do movimento feminista, fundadora da Federação Internacional
de Planejamento Familiar (Planned Parenthood International), apresentou
sua ideologia nazista no livro Pivô da Civilização: “Os seres sadios
devem procriar abundantemente, e os ineptos devem abster-se. […] Este é o
principal objetivo do controle da natalidade. Mais filhos dos saudáveis,
menos dos incapazes [...] para criar uma raça de puro-sangue”.(17)
O
movimento ecológico, na sua radicalidade, constitui outra ideologia aparentada
com a anterior. Sua expressão doutrinária mais extrema, denominada “ecologia
profunda”, afirma que a capacidade da Terra para suportar a população
humana é muito limitada, entre um e dois bilhões de pessoas. Muitos crêem
que isso os leve a advogar a extinção da humanidade, por ser predatória
da natureza. De fato, alguns deles pensam assim, mas seria uma extinção
voluntária, consistente em renunciar a ter filhos.(18)
Qualquer
que seja, no entanto, o impulso que leva a essa ação criminosa contra os
ainda não nascidos, toda essa ofensiva tem sua raiz naquele que é o “homicida
desde o princípio” e o “pai da mentira”(19), ou seja, o demônio.
Foi o demônio que incitou Caim a matar seu irmão Abel, e desde então a
maldição do homicídio pesa sobre a sua raça. Essa raça fundou, como ensina
Santo Agostinho, a “Cidade do Homem, em contraposição à Cidade de Deus”. Naquela
cidade o alicerce é o egoísmo, o “amor de si é levado até o ódio a Deus” e
a seus divinos mandamentos.
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Notas:
1. “O Estado de S. Paulo”, 10-12-04.
2. “O Estado de S. Paulo”, 7-8-04.
3. “O Estado de S. Paulo”, 17-8-04.
4. “O Estado de S. Paulo”, 20-8-04.
5. Cfr. Simone Iwasso, in “O Estado de S. Paulo”, 1º-10-04.
6. “O Estado de S. Paulo”, 21-10-04.
7. Cfr. Declaração sobre o aborto procurado, de 18-11-1974, assinada
pelo Cardeal Seper, Prefeito da referida Congregação.
8. Nikki Katz, Abortion statistics, World – U.S. – Demographics
– Reasons.
9. Forced Abortions in America do Elliot Institut – Forced
Abortions in America: the Hidden Epidemic (Spingfield, IL, 12-6-04).
10. “Folha de S. Paulo”, 11-1-05.
11. Cfr. Free Republic, NARAL, Anti-Catholicism and the Roots
of the Pro-Abortion Campaign, 6-2001 by Robert p. Lockwood, posted
on 9-7-2001 PMPDT by electrnl.
12. Texto do Catecismo Maior de São Pio X, de 15 de julho de 1905,
com pequenas adaptações, Editora Vera Cruz Ltda., São Paulo, 1976.
13. Cfr. E. F. Diamond, MD – Management of a Pregnancy with
an Anencephalic Baby, www.asfhelp.com-asf-management-of-a-pregnancy
14. Albert Niedermeyer, Compendio de Medicina Pastoral, Barcelona,
Ed. Herder, 1955, p. 223.
15. E. F. Diamond, M.D., op. cit.
16. www.trdd.org/eugbr_1shtm
17. Cfr. Discurso do Deputado federal Severino Cavalcanti na sessão
de 13-12-04.
18. Cfr. Deep ecology – Wikipedia, the free enciclopedia, na Internet.
19. Jo, 8, 44.