O papa, o dilema e a promessa
19/04/2005
Principe D. Bertrand de Orleans e Bragança
Iniciou-se ontem o conclave
que elegerá o novo papa. Não pretendo
entrar no frenesi eleitoreiro que certas personalidades e setores da mídia
desencadearam. Esquecem os fatores sobrenaturais que envolvem a escolha de
um romano pontífice, cujos ensinamentos o divino fundador da igreja
quis infalíveis, em matérias e condições específicas. É,
pois, primordialmente na prece contínua, confiante e submissa que devemos
seguir os acontecimentos.
Creio, entretanto, legítimo tecer algumas considerações
em torno da sucessão de João Paulo 2º, ante cujos restos
mortais, como príncipe católico, inclino-me aqui com o devido
respeito.
Estará o
novo Papa determinado
a desvendar as articulações da esquerda católica?
A veneração e filial confiança pela cátedra de
Pedro e por seu imortal ocupante, manifestada pelas multidões que acorreram
a Roma, foram de tal monta que os meios de comunicação modernos
-na sua quase esmagadora maioria laicos e aconfessionais- viram-se impelidos
a dispor de seus ousados recursos técnicos para dar cobertura aos eventos.
A existência dessa opinião pública que, avessa às
ofensivas publicitárias, reconhece nos papas figuras-chave na determinação
dos rumos da humanidade significa uma vitória da santa igreja e do papado.
Não exprimirão tais manifestações alguma tendência
profunda a ser levada em consideração pelo futuro papa?
Só um desavisado não percebe que as correntes mais afoitas do
progressismo católico (tanto no plano teológico, filosófico
e moral quanto no plano social e econômico), confinadas, em maior ou
menor medida, no pontificado que agora cessa, parecem agitar-se esperançosas
de um alento vindo do alto.
Hoje a realidade
da civilização cristã vai se desvanecendo
e cedendo o passo a um laicismo de Estado, mais agressivo no ataque aos mandamentos,
aos princípios morais da santa igreja e da ordem natural. Fará o
novo papa com que a igreja se abra ainda mais ao mundo moderno, relativizando-lhe
os dogmas? Deixará de dar respostas "antigas" a problemas
novos? Ou, pelo contrário, proclamará as verdades eternas, as únicas
realmente salvíficas? São perguntas que intrigam muitos católicos.
Especula-se que o próximo papa possa vir da América do Sul e,
quiçá, de nosso Brasil. A se dar essa eventualidade, é forçoso
reconhecer que os problemas que aqui afligem a igreja passariam a estar em
destaque.
Influenciada
em graus diversos pela Teologia da Libertação, a "esquerda
católica", distorcendo a realidade socioeconômica, investe
contra as chamadas "estruturas injustas", visando impor um regime
socioeconômico, pseudo-evangélico, miserabilista, de uma economia
primitiva e comunitária, em que a propriedade privada deixe de existir.
A famigerada reforma agrária socialista é disso um exemplo gritante!
Estará o novo papa determinado a desvendar as articulações
dessa "esquerda católica", a denunciar-lhe as falsas doutrinas?
Ou terá para com ela simpatias mais ou menos confessadas e lhe apoiará os
anseios?
Mil outros problemas se colocarão diante do novo pontífice, tão
díspares como a disciplina eclesiástica ou a relação
da igreja com o islã. Em todos eles se verá diante de um dilema
crucial: enfrentar com argúcia e firmeza as ameaças que de fora
e de dentro da igreja tentam debilitá-la e subjugá-la, ou entabular
com elas um diálogo, uma aproximação ou até mesmo
uma cômoda colaboração?
Dias antes
da eleição de João Paulo 1º, escreveu
Plinio Corrêa de Oliveira, nas páginas deste prestigioso jornal,
o artigo "Clareza". Pela atualidade com que traça dilema similar,
faço minhas as suas palavras:
"
Como vê cada um dos "papabili" as correntes rumo às
quais esses movimentos de aproximação os convidam? Como hidras
que é preciso abater desde logo com o gládio de fogo do espírito?
Como adversárias inteligentes, dúcteis e talvez um pouco bobas,
com as quais é possível conduzir lentas, cômodas e quiçá até cordiais
negociações? Como parceiras, em uma coexistência ou mesmo
colaboração perfeitamente aceitável, e por alguns lados
até simpática? Classifico-me, todos o sabem, entre os que exultariam
com a escolha de um papa combativo como São Gregório 7º ou
São Pio 10º. Outros preferem nitidamente um papa aproximacionista,
como foi em seu tempo Pio 7º. Mas a imensa maioria dos fiéis, o
que desejará ela?"
Recordo as imagens da praça São Pedro, enquanto João Paulo
2º agonizava. Milhares de fiéis rezavam o terço e entoavam
o hino de Fátima. Sinal de que, para muitos, no momento em que a igreja
imerge numa incógnita crucial, a mensagem de Fátima, com suas
advertências e promessas, continua a ser -a meu ver, cada dia mais- um
precioso farol a iluminar os passos dos que têm fé. Para todos
reboa, plena de esperança, a promessa da virgem: "Por fim o meu
imaculado coração triunfará!".
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Bertrand de Orleans
e Bragança, 64, é trineto do imperador dom Pedro
1º.br>
@ - dombertrand@terra.com.br
Veja:
http://www1.folha.uol.com.br/
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