As grandes perspectivas de Fátima: o castigo, a conversão e o Reino de Maria
18/05/2005
Plinio Corrêa de Oliveira
Nossa
Senhora falou aos pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta, e através
deles ao mundo inteiro.
Nossa Senhora falou aos
pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta, e através deles ao mundo inteiro
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Para esta edição do mês mariano por
excelência e mês comemorativo do 88º aniversário da primeira
aparição
da Santíssima Virgem em Portugal (13 de maio de 1917) transcrevemos,
com pequenas adaptações, três memoráveis artigos de autoria do
inigualável
apóstolo de Fátima, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995). Denodadamente
ele propagou essa Mensagem pelos cinco continentes, alertando
para as magníficas
recompensas e os regeneradores castigos revelados pela Santa
Mãe de Deus
aos três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta.
Tais artigos,
publicados em nossas edições de abril, maio e junho de 1953, conservam
manifesta atualidade, pois os problemas que há meio século conturbavam
a Igreja e o mundo não
fizeram senão aumentar. Basta considerar a impiedade desenfreada e a
crescente corrupção dos costumes, reinantes nos dias de hoje.
Para preservar
o gênero humano,
Nossa Senhora insistia na conversão dos homens, na oração e na penitência.
Entretanto, seus pedidos não foram atendidos. Não tendo ocorrido a conversão
proposta, está na lógica da Mensagem o advento do tremendo castigo profetizado:
várias nações serão aniquiladas.
Quando virá essa
severa punição?
Só Deus o sabe. Cabe a nós prepararmo-nos para obter a misericórdia da
Virgem Santíssima, pois com freqüência o noticiário divulgado pela mídia
parece trazer consigo indícios da proximidade desses castigos. Exemplo
recente, na ordem dos fenômenos naturais, foi o cataclismo que abalou
o sudeste asiático o tsunami, que repercutiu
no mundo inteiro. Exemplo na ordem humana: o terrorismo islâmico, que
vem crescendo dia a dia.
Assim
sendo, a trágica
e ao mesmo tempo esperançosa Mensagem continua a iluminar os acontecimentos
presentes. Mas, aconteça o que acontecer, a grande promessa de Fátima é que
por fim se estabelecerá no mundo o Reinado do Imaculado Coração de Maria.
Desse modo, não apenas se resolverá esta ou aquela crise de nossa época,
mas todas elas, com a renovação espiritual de todo o gênero humano. Será o
fim da civilização neopagã atual e a aurora de uma civilização realmente
católica. É o termo radioso para o qual aponta a Mensagem.
Atualidade
da Mensagem de Fátima 88 anos depois
Desde
a publicação
dos três artigos, abundantíssimos foram os acontecimentos a serem analisados à luz
da Mensagem de Fátima. A esse propósito, recomendamos vivamente a leitura
do livro, recentemente lançado, de Marcos Luiz Garcia, Fátima, a grande
esperança, que faz tal análise de modo primoroso. A obra discorre
sobre Fátima, esclarecendo a situação em que se encontra o mundo 88 anos
depois das aparições na Cova da Iria. Vide recensão do mencionado livro
no quadro à p.
35
* * *
O
acontecimento capital do século
Plinio Corrêa de Oliveira
junto à Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima
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Sobre Fátima — como sobre outros assuntos em nosso
País — muito se fala e pouco se sabe de positivo, pelo menos na grande
massa. Ninguém ignora que se trata de uma invocação de Nossa Senhora a
cintilar no firmamento da Igreja. Qual a origem histórica desta invocação?
Qual o seu significado exato? Qual seu alcance para a vida espiritual e
as atividades de apostolado? É o que muitos não saberiam dizer.
Bem
entendido, um simples artigo de imprensa não pode esgotar matéria importante e complexa como esta, sobre a qual
já existe toda uma volumosa bibliografia em todos os países católicos.
Dos fatos, daremos apenas uma narração muito sucinta, o mínimo necessário
para que leitores menos informados possam acompanhar o comentário. Neste
primeiro artigo, desejamos acentuar alguns aspectos das mensagens de Nossa
Senhora, que em geral não se põem no necessário relevo.
Os
videntes: os três pastorinhos de Fátima
Lúcia, Francisco e Jacinta são as três
crianças favorecidas pelas visões de Fátima. Lúcia nascera em 1907, Francisco
em 1908, Jacinta em 1910. Francisco e Jacinta eram irmãos, e Lúcia era
prima deles. Os três provinham de modestíssima família de Aljustrel, vilarejo
próximo do lugar das aparições. Absolutamente ignorantes, tinham por ocupação
o pastoreio. Passavam, pois, fora de casa grande parte do dia, aproveitando
o tempo, na medida em que o trabalho o permitia, para brincar e rezar.
Nessa vida inocente, suas almas conservavam uma candura angélica, e iam
adquirindo uma piedade e uma força de que deram ulteriormente provas admiráveis.
A
Cova da Iria, lugar das visões, era então
um ermo, e pertencia aos pais de Lúcia. Segundo tradições dignas de respeito,
o Bem-aventurado Nuno Álvares Pereira estivera orando ali na véspera da
famosa batalha de Aljubarrota.
As
visões ocorridas em 1915, 1916 e 1917
Conjunto escultural da
aparição do Anjo de Portugal aos três pastorinhos
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As
visões de Fátima se dividem em três
grupos bem distintos. As primeiras se deram, não propriamente na Cova da
Iria, mas em lugar muito próximo, denominado Lapa do Cabeço. Ocorreram
em 1915 e 1916. Apareceu nelas um Anjo que se intitulou o Anjo de Portugal.
As
outras se verificaram na Cova de Iria, em 1917. Apareceu sempre Nossa
Senhora, e uma vez toda a Sagrada Família.
Quer por sua seriação cronológica, quer pela qualidade das pessoas que
se manifestaram, quer pelo conteúdo das mensagens, é fora de dúvida que
as aparições de 1915 e 1916 foram uma preparação para as de 1917. Estas
constituem a parte central de toda a série de visões. Vem por fim um grupo
complementar, constituído pelas aparições de Nossa Senhora aos videntes
depois das que ocorreram em Fátima. Deram-se em datas diversas e a cada
um deles em separado. Constituem complemento, aliás essencial, das anteriores.
Anjo
de Portugal prepara a vinda da Virgem Santíssima
Em
1915, entre abril e outubro, deu-se uma primeira manifestação sobrenatural. Lúcia guardava o rebanho com três
outras meninas, quando “viram pairando sobre o arvoredo do vale, que
se estendia a seus pés, uma nuvem, mais branca do que a neve, algo transparente,
com forma humana”. Francisco e Jacinta não estavam presentes. Em dias
diferentes, esta aparição se repetiu duas vezes
|
Em
1916, deu-se nova aparição, desta vez
em presença de Lúcia, Jacinta e Francisco. Não havia outras crianças. Repetiram-se
assim mais duas aparições. O Anjo se manifestava sob a forma de um jovem
resplendente, de uma consistência e um brilho como do cristal atravessado
pelos raios do sol. Ensinou-os a rezar, com a fronte curvada até o chão,
a seguinte prece: “Meus Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-vos
perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam”.
E acrescentou que os Corações de Jesus e de Maria estavam atentos à voz
de suas súplicas. Recomendou-lhes que oferecessem “tudo que pudessem”,
em reparação pelos pecados e pela conversão dos pecadores. Declarou que
era o Anjo de Portugal, e que deviam orar por sua pátria. Na terceira aparição,
o Anjo trazia um cálice na mão, e sobre ele uma Hóstia da qual caíam dentro
do cálice algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos
no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a seguinte oração: “Santíssima
Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos
o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente
em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios
e indiferença com que é ofendido. E, pelos méritos infinitos de Seu Santíssimo
Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-vos a conversão dos pobres
pecadores”. Depois, deu a Hóstia a Lúcia; e o cálice, deu-o a beber
a Francisco e Jacinta, dizendo ao mesmo tempo: “Tomai e bebei o Corpo
e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajados por homens ingratos.
Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus”.
Nesta
narração sucinta, reproduzimos só o
essencial, omitindo a profunda impressão que as palavras do Anjo produziram
nas três crianças, os numerosos sacrifícios com que a partir desse momento
começaram a expiar pelos pecadores, a oração a bem dizer incessante, em
que se transformou sua vida. Estavam assim sendo preparadas para as revelações
de Nossa Senhora.
Nossa
Senhora pede a conversão dos pecadores
Foto dos três pastorinhos
logo após a visão do inferno
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As
aparições de Nossa Senhora foram em
número de seis, respectivamente nos dias 13 de maio, junho, julho, setembro
e outubro de 1917. A aparição do mês de agosto ocorreu no dia 19, e não
no dia 13. Os três pastorinhos estiveram presentes a todas. À primeira,
não estavam na Cova da Iria senão eles. Nas outras, o número de pessoas
presentes foi crescendo a ponto de se transformar, na última, em verdadeira
multidão, calculada em 70.000 pessoas.
Na
primeira aparição, Nossa Senhora anunciou
que viria mais cinco vezes, em cada mês seguinte, e mais tarde voltaria
uma sétima vez. E, diga-se de passagem, esta última promessa ainda está para
se realizar. Em que ocasião será? Prometeu Ela o Céu aos pastorinhos, e
lhes pediu que aceitassem os sofrimentos que a Deus aprouvesse enviar-lhes
para reparação dos pecados e conversão dos pecadores. Os três aceitaram.
Nossa Senhora lhes predisse então que sofreriam muito, mas a graça de Deus
não os abandonaria. E por fim lhes recomendou que rezassem diariamente
o Terço para alcançar o fim da guerra e a paz do mundo.
Devoção ao Rosário e ao Imaculado Coração
de Maria
Na
segunda aparição, Nossa Senhora insistiu
sabre o Terço diário e recomendou às três crianças que aprendessem a ler.
Ensinou-lhes também uma jaculatória, a ser rezada no Terço, entre mistério
e mistério: “Oh meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno
e os pobres pecadores, especialmente os mais necessitados”. Nesta aparição,
Nossa Senhora prometeu que levaria para o Céu, em breve, Francisco e Jacinta,
e anunciou que Lúcia viveria por mais tempo, para cumprir na terra uma
missão providencial: “Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer
e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração".
E como Lúcia se mostrasse apreensiva, confortou-a Nossa Senhora prometendo: “O
meu Imaculado Coração será teu refúgio e o caminho que conduzirá até Deus”.
Ainda
nesta aparição, a Santíssima Mãe
mostrou aos pastorinhos um coração cercado de espinhos que o penetravam:
era o Coração Imaculado de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade.
E prometeu assistir na hora da morte, com as graças necessárias para a
salvação, a todos os que, no primeiro sábado de cinco meses seguidos, se
confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Lhe fizerem
companhia durante quinze minutos, meditando nos quinze mistérios do Rosário
com o fim de A desagravar.
Nossa
Senhora apareceu pela terceira vez a 13 de julho. Depois de haver recomendado
mais uma vez a recitação diária
do Terço, ensinou aos pequenos pastores uma nova jaculatória a ser rezada
com freqüência, e especialmente quando fizessem algum sacrifício: “Oh
meu Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores, pelo Santo Padre
e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.
A
visão do inferno e anúncios de castigos
Representação do inferno:
condenados devido ao pecado da gula
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Maria
Santíssima, então, fez ver o inferno
aos três pastorinhos: “Vimos um mar de fogo, e nele mergulhados os demônios
e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas,
com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que saíam
delas mesmas juntamente com nuvens de fumo, caindo por todos os lados —
como as fagulhas nos grandes incêndios —, sem peso nem equilíbrio, entre
gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer
de pavor. [...] Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas
de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões
em brasa.
“Assustados, e como que a pedir socorro,
levantamos a vista para Nossa Senhora, que nos disse com bondade e tristeza:
— “Vistes o inferno,
para onde vão as
almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no
mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.
Se fizerem o que Eu vos
disser, salvar-se-ão
muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar; mas, se não deixarem de
ofender a Deus, virá outra pior”.
Estas últimas palavras abriam naturalmente
caminho para outro assunto. A Santíssima Virgem continuou: “Quando
virdes uma noite iluminada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal
que Deus vos dá de que vai punir o mundo dos seus crimes por meio da guerra,
da fome e da perseguição à Igreja: os bons serão martirizados, o Santo
Padre terá muito que sofrer, e várias nações serão aniquiladas. Por fim,
o Meu Imaculado Coração triunfará”.
O milagre do sol e o segredo
de Fátima
Dezenas de milhares de
pessoas testemunham o milagre do sol ocorrido em 13 de outubro
de 1917
|
A
13 de agosto não houve aparição: os pequenos
videntes estavam presos, à disposição do Administrador de Ourém, movido
de zelo laico e republicano. Nossa Senhora apareceu entretanto, e inesperadamente,
no dia 19 do mesmo mês. Neste dia, a Santíssima Mãe de Deus prometeu um
insigne milagre para outubro, comunicou suas instruções relativamente ao
emprego do dinheiro que os fiéis deixavam no local das aparições, e mais
uma vez recomendou orações e penitência: “Rezai, rezai muito e fazei
sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno, por não
haver quem se sacrifique e peça por elas”.
A
13 de setembro, a Virgem Santíssima insistiu
também na recitação diária do Terço para alcançar o fim da guerra, elogiou
a fidelidade dos pastorinhos à vida de mortificação que lhes tinha pedido
e recomendou que se moderassem algum tanto neste ponto. Confirmou a promessa
de um milagre na aparição de outubro, e anunciou que os três veriam então
a Sagrada Família. Prometeu também operar algumas das curas pedidas por
eles.
Foi somente a 13 de outubro que Nossa Senhora
revelou sua identidade aos pastorinhos, dizendo: “Eu sou a Senhora do
Rosário”. Anunciou que a guerra terminaria em breve, e recomendou: “Não
ofendam mais a Nosso Senhor, que já está muito ofendido”. Lúcia pediu
a cura de algumas pessoas. A Senhora respondeu que curaria “uns sim,
outros não”. E acrescentou: “É preciso que se emendem, que peçam
perdão de seus pecados”. Apareceu em seguida a Virgem com São José e
o Menino Jesus. Em certo momento, apresentava-se como a Senhora das Dores.
Pouco depois, como a Senhora do Carmo.
Foi
durante esta aparição que ocorreram
os sinais prometidos para autenticar o que narravam os pastorinhos.
Na
visão de julho, a Santíssima Virgem
comunicou seu famoso segredo. A parte que se conhece é da maior importância.
Nossa Senhora pediu que a humanidade se convertesse de seus pecados e que
o Santo Padre, com todos os Bispos, consagrasse a Rússia a seu Imaculado
Coração. Se não, sobreviria nova guerra, que muitas nações seriam aniquiladas,
a Rússia espalharia os seus erros, o Santo Padre teria muito que sofrer.
Acerca
da consagração da Rússia ao Imaculado
Coração de Maria, a Irmã Lúcia teve nova visão em 1929, segundo refere
o Pe. João de Marchi (Era uma Senhora mais brilhante que o Sol, p.
308). Nessa visão, ocorrida na capela das Irmãs Dorotéias, em Thuy, na
Espanha, Nossa Senhora mais uma vez pediu a consagração da Rússia ao seu
Coração, a ser feita pelo Papa em união com os Bispos de todo o mundo.
* * *
Esta é, em síntese, a história das aparições
de Fátima. O texto das mensagens, extraímo-lo de Era uma Senhora mais
brilhante que o Sol, do Revmo. Pe. João de Marchi, e de Francisco, do
Revmo. Pe. J. Rolim.
(Catolicismo nº 28,
abril/1953)
Páginas: 1 2 3
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
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