As grandes perspectivas de Fátima: o castigo, a conversão e o Reino de Maria
18/05/2005
Plinio Corrêa de Oliveira
A devoção ao Coração de Maria salvará o
mundo do comunismo
Basílica de Nossa Senhora,
em Fátima
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Nossa
Senhora descreveu a situação do mundo como gravíssima, apontou como causa
desta situação a espantosa decadência moral da humanidade, ameaçou-nos
com terríveis punições terrenas — nova guerra, alastramento mundial dos
erros do comunismo, perseguições à Igreja — e com uma punição eterna
mil vezes pior, o inferno, se não nos emendarmos; e por fim prescreveu
os meios necessários para que cheguemos à emenda e evitemos tantos castigos.
Em
que pese a alguns doidivanas que fecham os olhos à realidade mais evidente
e se comprazem em afirmar que está em ordem com Deus este mundo em que
vivemos –– de dúvida, de naturalismo, de indisciplina moral e de adoração
da felicidade terrena –– é preciso crer o contrário, pois é o contrário
que Nossa Senhora nos diz.
É bem
certo que alguns sociólogos evolucionistas — muito mais evolucionistas
do que sociólogos — se deleitam em dizer que o dia de hoje é melhor que
o de ontem, e que o de amanhã será necessariamente melhor que o de hoje;
Nossa Senhora porém nos afirma que a verdade é muito outra: o dia de
amanhã só será melhor que o de hoje se nos emendarmos e fizermos penitência.
De outro modo, por mais que o progresso material, a medicina, as finanças,
as diversões –– o conforto da vida, enfim –– se desenvolvam, caminhamos
para um grande e universal colapso.
Também
não faltam, infelizmente, teólogos otimistas, que criam em torno de si
uma agradável atmosfera de simpatia afirmando que quase ninguém se condena
ao inferno. Nossa Senhora contudo ensina o contrário, e o faz não só por
palavras, como ainda com o argumento invencível do fato concreto: abre
o inferno aos olhos dos pastorinhos aterrorizados, para que contem ao
mundo inteiro o que viram. E é em Nossa Senhora, e não em certa teologia
morna, de água de flor de laranjeira, que cumpre crer.
A
vida sobrenatural é a verdadeira solução
Dom Chautard, autor da
admirável obra a "Alma de todo Apostolado"
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Já fizemos
notar de passagem que Nossa Senhora aponta como remédios fundamentais
para o mundo contemporâneo a oração, a penitência, a emenda de vida. É destas
três providências meramente espirituais que Ela faz depender a manutenção
da paz, a preservação do Ocidente contra a propaganda comunista, a sobrevivência
pois da própria civilização.
Poderão
chocar-se com isto muitos católicos mal avisados, que colocam todas as
suas esperanças em meios meramente humanos. Afigura-se-lhes que tudo
estaria salvo no dia em que a Igreja estivesse fortemente dotada de seminários,
universidades, jornais, revistas, livrarias, cinemas, teatros, obras
de caridade e de assistência social. Nesta concepção, tudo se reduz ao âmbito
meramente natural. A descristianização tem como causa a insuficiência
de nossos meios de propaganda e de ação. No dia em que tivermos remediado
esta insuficiência, teremos vencido a descristianização. No entanto,
aparece Nossa Senhora em Fátima, e não diz sobre todos estes meios de
ação uma só palavra. Como explicar este mistério? Onde fica a palavra
dos Papas, que não têm cessado de recomendar tudo aquilo sobre o que
Nossa Senhora silenciou? Estarão as mensagens de Fátima em contradição
com as diretrizes pontifícias?
Seria
fácil responder a todas estas questões, se os católicos se dessem ao
trabalho de ler seriamente e por extenso os documentos pontifícios, em
lugar de se contentar com citações que encontram esparsas aqui e acolá,
em certos livros e jornais empenhados, ao que parece, em fazer uma verdadeira
filtragem de tudo quanto na palavra do Sumo Pontífice eventualmente colida
com seus preconceitos.
Os
Papas não se cansam de recomendar o uso de todos os meios naturais legítimos
para promover o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo
não ficam apenas nisso. Em documentos verdadeiramente sem conta, mostram
que os meios naturais não serão de nenhuma eficácia se não houver nos
que lutam pela Igreja uma vida contínua de piedade, de mortificação,
de sacrifício; se os soldados de Cristo não tiverem em vista constantemente
que os meios de ação naturais devem ser canais da graça de Deus, e que
o apóstolo — clérigo ou leigo — precisa ser ele próprio um reservatório
das graças que devem vivificar suas obras. Em uma palavra, as teses essenciais
do livro incomparável de Dom Chautard, “A Alma de todo Apostolado”, têm
sido inculcadas de todos os modos pelos Papas. E são esses mesmos os
princípios que Nossa Senhora nos ensina em Fátima. A Virgem Santíssima
não diz que não nos dediquemos inteiramente às obras de apostolado. Mas
ela repete o ensinamento de Nosso Senhor em Betânia: é necessário viver
em íntima união de alma com Deus, pois todo o resto daí dimana, e sem
tal união as obras mais sábias, mais úteis, mais oportunas resultarão
miseravelmente estéreis.
Devoção
ao Anjo tutelar da Pátria
Notemos
agora muito rapidamente outros aspectos das mensagens de Fátima. A aparição
do Anjo de Portugal nos faz lembrar a doutrina da Igreja, de que cada
povo tem seu próprio Anjo da Guarda. Houve tempo em que cada nação tinha
particular devoção ao seu Anjo Custódio, invocando-o em suas tribulações,
e especialmente na luta pela manutenção do povo no grêmio da Igreja.
Temos pensado nisto? Cultuamos o Anjo da Guarda do Brasil?
O
Anjo reza em presença dos pastorinhos, profundamente inclinado, com a
face em terra. É um exemplo que devemos imitar. Em nossas orações, cumpre
sejamos confiantes, íntimos, filiais. Mas é preciso não esquecer que
a verdadeira piedade filial não exclui, antes supõe o mais profundo respeito. É este
mais um ponto em que as revelações de Fátima contêm preciosos ensinamentos
para o homem moderno. Pois, à força de falarmos em democracia em tudo
e para tudo, acabamos não raras vezes por deformar de tal maneira nossa
mentalidade, que introduzimos um tônus igualitário até em nossas
relações com Deus!
Devoções
que o progressismo combate
Cerimônia litúrgica progressista
em igreja católica nos Estados Unidos
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Ultimamente,
o liturgicismo [progressismo aplicado à liturgia] tem instilado nas fileiras
católicas preconceitos tenazes contra certas devoções, entre as quais
o culto ao Santíssimo Sacramento “extra Missam” e o Santo Rosário.
Ora,
ambas estas devoções são fortemente inculcadas em Fátima.
Se
houvesse no culto eucarístico “extra Missam” qualquer coisa de intrinsecamente
contrário à verdadeira maneira de entender a Presença Real, seria impossível
que a Providência determinasse que a adoração eucarística do Anjo e a
primeira comunhão dos pastores se realizassem do modo por que efetivamente
se realizaram.
Quanto
ao Santo Rosário, seria difícil recomendá-lo com insistência maior. “Eu
sou a Senhora do Rosário”, disse de si mesma a Santa Virgem na última
das aparições. E em quase todas elas inculcou explicitamente esta devoção
aos pastorinhos. Como pretender, pois, que o Rosário perdeu algo de sua
atualidade?
Apregoa-se
ainda que a meditação do inferno é inadequada a nossos dias, e capaz
apenas de incutir um temor servil. Esta afirmação cai por terra fragorosamente, à vista
do que ocorreu em Fátima, pois a visão do inferno com que os três pastorinhos
foram favorecidos destinava-se evidentemente a acrisolar seu amor e seu
senso de apostolado.
Devoção
aos Sagrados Corações de Jesus e Maria
A providência como que
quis superar a si própria, apontando aos homens como alvo de
sua piedade o Coração de Maria, que de certo modo requinta e
leva à sua plenitude o culto ao sagrado Coração de Jesus
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Em
Fátima se inculca igualmente, com expressiva insistência, a devoção ao
Sagrado Coração de Jesus, que, ela também, tem sido posta na penumbra
por certa tendência de espiritualidade muito em voga em nossos dias.
O culto ao Sagrado Coração de Jesus foi considerado por todos os teólogos
como uma das mais preciosas graças com que a Santa Igreja tem sido confortada
nos últimos séculos. Destinava-se ela a reanimar nos homens o amor de
Deus entorpecido pelo naturalismo da Renascença, pelos erros dos protestantes,
jansenistas, deístas e racionalistas. No século passado, foi por meio
desta devoção que o Apostolado da Oração produziu um admirável reflorescimento
de vida religiosa em todo o mundo. E, como os males de que o Sagrado
Coração de Jesus nos deve preservar crescem dia a dia, é evidente que
dia a dia se acentua a atualidade desta incomparável devoção.
Contudo é preciso
acrescentar que, na agravação dos males contemporâneos, a Providência
como que quis superar a si própria, apontando aos homens como alvo de
sua piedade o Coração de Maria, que de certo modo requinta e leva à sua
plenitude o culto ao Sagrado Coração de Jesus. Os estudos e a devoção
cordimariana não são novos. Quer nos parecer, entretanto, que a simples
leitura das mensagens de Fátima demonstra com quanta insistência Nossa
Senhora os quer para nossos dias. A missão que Ela confiou à Irmã Lúcia
foi especialmente a de ficar na terra para atrair os homens ao Coração
Imaculado de Maria. Várias vezes esta devoção é recompensada durante
as visões. Este Coração Santíssimo nos aparece mesmo, na segunda aparição,
coroado de espinhos pelos nossos pecados, a pedir a oração reparadora
dos homens. Parece-nos que este ponto como que compendia em si todos
os tesouros das mensagens de Fátima.
* * *
Em
seu conjunto, pois, as aparições de Fátima de um lado nos instruem sobre a
terrível gravidade da situação mundial e sobre as verdadeiras causas de nossos
males. E de outro lado nos ensinam os meios pelos quais devemos obviar os castigos
terrenos e eterno que nos ameaçam. Aos antigos, mandou Deus profetas. Em nossos
dias, falou-nos pela própria Rainha dos Profetas. Assim estudado quanto Nossa
Senhora quis, o que dizer? As únicas palavras adequadas são as de Nosso Senhor
no Santo Evangelho: Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça...
(Catolicismo nº 30,
junho/1953)
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Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
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