Materialismo, evolucionismo, criacionismo
28/07/2005
Carlos Eduardo Schaffer Correspondente – Áustria
Em
torno desses temas, trava-se grande e acalorada discussão entre cientistas de nossos dias. Os evolucionistas
foram forçados a passar de uma atitude de ataque à de defesa de suas
utópicas e incoerentes teorias
Planeta Júpiter (NASA/JPL) |
iena — As tentativas mais sistemáticas e organizadas de afastar
Deus das cogitações do homem datam dos primórdios da Revolução universal
que, desde o fim da Idade Média até nossos dias, se empenha em destruir
a Civilização Cristã até seus mais elementares fundamentos.
O
humanismo da Renascença substituiu
Deus pelo homem no centro de todas as considerações. Se não chegava a negar
Deus explicitamente, colocava-o sub-repticiamente em segundo plano (cfr. Revolução
e Contra-Revolução, de Plinio Corrêa de Oliveira). Tais esforços e
tentativas, entretanto, não prevaleceram de todo, pois as raízes da Fé eram
muito profundas, sendo preciso abalá-las para que o humanismo desse seus
frutos. Esta foi a obra da Revolução protestante, que contestou o magistério
supremo dos Papas, atribuindo a cada indivíduo a capacidade de interpretar
a Revelação.
Ganhava
assim o racionalismo um terreno muito importante, para arvorar mais tarde
a razão em instrumento único
para o conhecimento da verdade. Este passo seguinte foi finalmente dado
pelo iluminismo e pela Revolução Francesa, durante a qual o culto da Razão
teve sua encenação mais simbólica. Em longo cortejo, a deusa razão, representada
(muito apropriadamente, diga-se de passagem) por conhecida prostituta de
Paris, foi entronizada na catedral de Notre Dame.
Confundir
o bom senso – tática da Revolução
Mosaico grego de Deus Criador (detalhe), (séc. VII)
|
Mas
não bastava situar a impiedade
no campo das idéias. Era preciso destruir o bom senso dos homens, que a
cada passo da vida encontram mais uma prova da existência de Deus. Faltavam
substitutos para os atributos de Deus: Criador, Onisciente, Onipotente,
Eterno, Providência Divina etc. Os desenvolvimentos científicos, tecnológicos,
das ciências sociais, da psicologia etc. — em si mesmos louváveis — foram
em larga medida conduzidos, especialmente nos séculos XVIII, XIX e XX,
de modo a ignorar os atributos divinos e até a própria existência de Deus.
O avanço da ciência foi motivo para propagar a idéia de que um dia a humanidade
chegaria a conhecer todos os segredos da natureza; a curar todas as doenças
e até eliminar a morte; a prover, através do Estado, todas as necessidades
do homem e eliminar suas contingências; a criar a vida e a matéria; enfim,
a dominar o Universo inteiro.
Evolucionismo na Astronomia e na Biologia
O evolucionismo de Darwin foi universalmente imposto, durante
anos, no ensino secundário e superior
|
Em
dois campos paralelos — na Astronomia e na Biologia — começaram a surgir teorias para explicar a existência dos
seres humanos e outros, através de fenômenos puramente naturais. Nos séculos
XIX e XX a ciência foi considerada uma aliada do ateísmo, e alegava-se
que chegaria a provar que Deus não existe. Os cientistas, salvo honrosas
exceções, eram considerados uma classe naturalmente atéia, e segundo muitos
deles a ciência não precisa de Deus. Afirmações muito freqüentes eram:
ciência e religião não se misturam; a teologia não apresenta nada como
contribuição para o progresso da ciência; querer colocar Deus no âmbito
dos conhecimentos científicos é limitar o progresso da ciência. A insinuação
era a de que a religião (concretamente a católica) era fruto de mitos e
sonhos irracionais.
Começaram então a aparecer explicações
“científicas” para as origens do Universo, que exigiam quase mais fé para
aceitá-las do que é preciso ter para acreditar na narração da Sagrada Escritura.
Para
tantos e tantos racionalistas, o Universo ou sempre existiu ou apareceu
por um fenômeno de geração espontânea.
A ordem nele existente seria devida unicamente às leis da matéria. Tratava-se
na prática de um materialismo crasso: não seria necessário um Deus criador
e ordenador para explicar o que vemos e conhecemos. Tal materialismo prático,
em questões de astronomia, foi largamente aceito, quase sem resistências.
Charles
Darwin (1809 – 1882) foi um medíocre estudante secundário que, desejando cursar Medicina, após dois
anos abandonou este estudo e passou a estudar teologia na Universidade
de Cambridge, com a intenção de tornar-se clérigo da igreja anglicana,
o que também acabou não realizando. Desenvolveu a teoria do evolucionismo,
sintetizada na sua principal obra A Origem das Espécies (1859).
Tal teoria pretendia explicar o aparecimento do homem sobre a face da Terra
através de um processo puramente natural: por mutações sempre muito pequenas,
ao longo de muito tempo, e por um processo de seleção natural, formas primitivas
de vida teriam evoluído até chegar ao seu estágio atual mais elevado, que é o
homem.
O
evolucionismo de Darwin foi praticamente imposto no ensino secundário e superior em todo o mundo, e acabou de fato
sendo ensinado como a única teoria verdadeira para explicar o aparecimento
e o desenvolvimento dos seres vivos. A narração bíblica da criação do gênero
humano ficava relegada à categoria de mito ou de linguagem simbólica até em
muitos colégios católicos. Elaborou-se depois uma teoria intermediária,
que ainda salvaguardava em alguma medida os dogmas da Fé, pela qual Deus,
para criar o homem, serviu-se de algo preexistente, pois isto está dito
no Gênesis (2, 7). Segundo tal composição doutrinária, o homem teria sido
criado a partir de um macaco evoluído, no qual uma alma humana foi infundida
por Deus. Nesta hipótese, Adão e Eva não seriam seres humanos de rara beleza
e perfeição, o que se compagina com a teoria criacionista, mas sim seres
intermediários entre macacos e homens, peludos, feios, emitindo ainda grunhidos
animais como maneira de exprimir seus pensamentos, vivendo em plena natureza,
com hábitos de primatas. Paraíso terreno, pecado original, expulsão do
paraíso, tudo isso fica evidentemente a explicar dentro desta perspectiva
que busca ser conciliadora.
Começam os problemas para a Revolução
A Igreja condenou as doutrins evolucionistas do Pe. jesuita francês
Teilhard de Chardin
|
Dentro
das fileiras católicas, teve
o evolucionismo um defensor ardoroso, o Padre Pierre Teilhard de Chardin
(1881 – 1955), jesuíta francês cujos escritos sobre a evolução do Universo
foram proibidos e colocados no Index Librorum Prohibitorum. Embora
o Index tenha sido posteriormente abolido pela Igreja, a inclusão
nele desses escritos do Padre Teilhard de Chardin mostra que a Igreja se
opõe às suas teorias. Catolicismo dedicou à refutação das idéias
desse paleontólogo e teólogo vários artigos, na década de 1950.
Até cerca de 1950, tudo parecia ir
muito bem para os evolucionistas e materialistas. Dentro de alguns anos
ou décadas — ou talvez séculos, na pior das hipóteses — tudo estaria explicado
evolutivamente, até a própria aparição da matéria no Universo.
Para
infelicidade dos evolucionistas e materialistas, no entanto, de uns 50
ou 60 anos a esta parte, muito especialmente
nos últimos 10 ou 15 anos, a própria ciência vem, de maneira cada vez mais
irrefutável, chegando a conclusões diametralmente opostas às dessas correntes.
E isto se dá tanto no macro-universo sideral como no micro-universo do átomo,
das formas primitivas de vida celular bem como dos vegetais, dos animais
e do homem.
A
teoria do "Intelligent Design”
No
campo da Astronomia, as sondas e os chamados ônibus espaciais americanos, os rádio-telescópios, os telescópios
espaciais e outras tecnologias para medir os fenômenos do espaço sideral
aprofundaram muitíssimo o conhecimento do Universo e permitiram testar
experimentalmente teorias elaboradas no passado sobre a estrutura deste.
Os
argumentos científicos demonstrando
a falsidade da teoria evolucionista e da visão materialista do Universo
foram se tornando tão evidentes, que no início dos anos 1990 começou a
se formar nos EUA uma corrente de cientistas em torno do chamado Intelligent
Design Movement (Movimento do Desenho Inteligente - IDM). Esta corrente
defende que a ordem e a complexidade do Universo e dos seres vivos não
podem ser explicadas sem se admitir a existência de uma inteligência superior
que tenha “desenhado” o mundo que conhecemos.
Wiliam Paley afirmava que só uma inteligência superior poderia
ter criado a ordem do Universo...
|
A
expressão Intelligent Design (ID)
foi empregada pela primeira vez por William Paley (1743 – 1805),(2) utilizando
para ilustrá-la um exemplo muito simples: se alguém andando por um campo
encontrar um relógio no chão, não lhe passará pela cabeça que tenham sido
as forças da natureza que o produziram.
Atribuirá sua existência, sem sombra
de dúvida, ao trabalho de um relojoeiro e considerará débil mental quem
opte pela primeira hipótese.
Nesse
relógio, cada peça tem sua
função, e se uma só delas faltar ou estiver deslocada o relógio não funcionará corretamente.
E
completava: ora, a ordem do universo inanimado e dos seres vivos é incomensuravelmente mais complexa do que
a de um relógio, logo uma inteligência superior a “desenhou”.
...a exemplo da inteligência do relojoeiro em relação ao relógio
|
Na
realidade, esta expressão é apenas
um eufemismo para evitar que algum cientista escrupuloso, influenciado
pelas correntes que afirmam que ciência e religião não se relacionam, possa
atribuir tudo a um ser que ele não ousa chamar de Deus. Isto tem a vantagem
de tornar mais suave para estes a passagem de uma posição atéia para outra
aberta à existência de Deus.
Analisemos
em primeiro lugar o erro deste materialismo prático na consideração do
Universo.
Páginas: 1 2 3
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
|