A revolução sexual destrói a família


07/11/2005

Alfredo MacHale

Por detrás da ideologia de gênero, as aberrações de Marx


Abolir a família: uma das metas precípuas de Marx e Engels (estátuas acima). Hoje tornou-se o objetivo principal da esquerda universal e do feminismo radical

Como se sabe, “abolir a família” foi uma das principais metas de Marx e Engels, que o comunismo durante três quartos de século procurou impor aos países que subjugou. Hoje tornou-se o objetivo principal da esquerda internacional, em união com o feminismo radical e com poderosas organizações que procuram controlar a população (tanto ou mais que o nazismo ou o comunismo), sob o disfarce dos direitos humanos e da igualdade da mulher.

A “ideologia de gênero” é uma reinterpretação das idéias de Marx, segundo as quais a história é uma contínua luta de classes entre “opressores” e “oprimidos”, caracterizada, durante o século XX, pela oposição ente operário X patrão e pobre X rico. Hoje essa aberração foi transposta para a família, onde o homem seria o “opressor”, e a mulher ou os filhos os “oprimidos”.

Procura-se, assim, impor mudanças, leis e medidas coercitivas: aborto para as mulheres, crianças livres da tutela paterna, “casamentos” homossexuais, quotas idênticas para homens e mulheres nas empresas, governos, colégios e universidades. Tudo conforme o desejado expressamente por Marx, visando a extinção das classes e o triunfo da utopia igualitária.

A semelhança entre o marxismo e esta forma de pensar já era palpável no livro A origem da família, a propriedade e o Estado, de Engels: “O primeiro antagonismo de classes coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher unidos em casamento monogâmico, e a primeira opressão de uma classe à outra, com a do sexo feminino pelo masculino.” (Cfr. Frederick Engels, The Origin of the Family, Property and the State, International Publishers, New York, 1972, pp. 65-66).
Karl Marx exigia que os meios de “produção e reprodução” fossem arrebatados dos opressores e dados aos oprimidos. E afirmava que as classes desapareciam quando: se eliminassem a propriedade privada e a família encabeçada por um pai; se estabelecesse a libertinagem sexual; se facilitasse o divórcio unilateral; se aceitasse a filiação ilegítima; se conferisse às mulheres direitos reprodutivos que incluem o aborto; se forçasse a entrada delas no mercado de trabalho; fossem coletivizadas as tarefas domésticas; se colocassem as crianças em instituições estatais, livres da autoridade dos pais; se eliminasse a religião.

Tudo isso procuraram realizar as tiranias comunistas. Estas se viram contudo obrigadas a retroceder nos ataques à família por causa do repúdio da população, cingindo-se primordialmente à coletivização econômica. E quando o regime soviético se desfez, tomou força a “ideologia de gênero” como um marxismo metamorfoseado, que recolheu e lançou seus mais notórios erros já não no Oriente, mas em todo o Ocidente.

A esse respeito, numerosas “feministas de gênero” reclamam dos líderes da seita vermelha no sentido de que o colapso da revolução comunista na Rússia deveu-se ao seu fracasso em destruir a família, que é a verdadeira causa da opressão psicológica, econômica e política. (Cfr. Dale O’Leary, artigos em http://www.catholic-pages.com/dir/feminism.asp; ver também Shulamith Firestone, The Dialectic of Sex, Bantam Books, New York, 1970). Segundo elas, o sexo implica classe, e esta pressupõe desigualdade. Para eliminá-la, elaborou-se a teoria de que o gênero não é definido pela natureza, mas é uma construção social ou cultural. Ou seja, é inculcado e aprendido; portanto é passível de ser mudado, podendo uma pessoa do sexo masculino adotar um gênero feminino, e vice-versa.

Segundo essa ideologia, não se nasce como homem ou como mulher, mas se aprende a ser uma coisa ou outra, como afirma a existencialista bissexual Simone de Beauvoir. Ela diz também que a atração heterossexual é aprendida, e que o instinto materno não existe. Enquanto tais aberrações percorrem o mundo, organismos internacionais de esquerda impõem a diversos países subdesenvolvidos sua “agenda de gênero”, promovendo o aborto e a homossexualidade. A ajuda financeira internacional é condicionando ao alinhamento dos governos a essas posições. Para Uganda a ONU cortou as verbas, porque aquele país africano resolveu incentivar oficialmente, em vez dos preservativos, a castidade e a fidelidade conjugal como antídotos contra a Aids.

Se demolida dessa forma a família, se inundada a sociedade pela promiscuidade mais abjeta, se os piores vícios têm cidadania e a moral é perseguida, como poderão formar-se as crianças e os jovens dentro de certa retidão, para que cheguem a ser adultos úteis à sociedade e respeitosos da moral e da lei? Com muito poucas exceções, será quase impossível. Terá sido a realização completa dos desígnios de Marx.

Por mais monstruosa que seja tal ideologia, conta ela com numerosos adeptos, muitos deles bem colocados, que vão passando de contrabando seus propósitos. Na maioria dos casos, sem que haja uma oposição clarividente e organizada. Alguns bispos — um no Peru, outro na Espanha, ainda outro no México, além de um na América Central — a censuraram fortemente. Mas a imensa maioria dos prelados, como é tão freqüente em relação a temas graves de moral católica, não se pronunciou. Em conseqüência, a grande maioria dos católicos ignora que essa aberração está se tornando dominante.

Os “direitos humanos”, ao sabor do relativismo


Convite na Universidade de Utah (EUA): tenta-se transformar o feminismo em força revolucionária radical

Soma-se ao anteriormente dito outra cadeia de aberrações doutrinárias, lançadas com suposta base nos decantados “direitos humanos”. Na maioria dos ambientes, fala-se deles sem que sequer se saiba quais são esses direitos, o que incluem, como devem ser entendidos e hierarquizados, quais deles prevalecem quando entram em conflito, e que limitações têm, em virtude do bem comum. Por exemplo, por que não apresentam o direito de propriedade como um direito humano? E o direito à vida do nascituro?

É claro que, sob o rótulo de “direitos humanos”, a esquerda inclui tudo aquilo que serve aos propósitos e métodos da Revolução anticristã, e nada do que a contraria, mesmo quando se trate do direito mais básico, universal e indiscutível. Ou seja, está vigente um conceito relativista, que proclama hoje como “direitos humanos” atos que ontem não eram considerados tais, e que amanhã tampouco o serão. Simplesmente porque terá passado a hora em que convinha à Revolução universal servir-se deles, e chegado o momento de substituí-los por outras fórmulas sofísticas, que serão a bandeira dos novos revolucionários que entrem em cena.

Os ideólogos dos “direitos humanos” afirmam sem pejo que o conceito destes é evolutivo, dependendo da ideologia cujo predomínio eles mesmos desejam. Por exemplo, quando queriam explicitamente implantado o comunismo stalinista, consideravam que os supostos direitos do proletariado — ou seja, as faculdades que os marxistas atribuíam a este — eram fundamentais, e as vítimas não tinham direito algum. Como agora desejam a explosão das “diversidades” para a instauração do caos moral, doutrinário, cultural e legal, o que qualificam de indispensável é o “direito à diferença”.

Há poucas décadas, a ninguém em sã consciência ocorreria pensar que a homossexualidade e a prática do aborto poderiam algum dia ser considerados “direitos humanos”. Hoje, contudo, são relativamente poucos os que se atrevem a negá-lo. De modo inverso, durante séculos os direitos de propriedade privada, de herança e de livre iniciativa foram considerados, de acordo com a ordem natural e a moral católica, como absolutamente essenciais à natureza humana. Hoje eles são negados de modo ufano e desafiante por demagogos baratos, por politólogos pedantes e por clérigos avançados.

Quem enfrenta tal processo de descristianização do mundo?


Oboedire opportet Deo magis quam hominibus (Importa obedecer antes a Deus do que aos homens - At 5,29). Assim, Nosso Senhor Jesus Cristo reinará sobre todos

O mundo contemporâneo se submeteu ao mais crasso relativismo. Por quê? Sem dúvida porque grande parte daqueles que têm por obrigação proclamar os princípios verdadeiros — com validade absoluta e permanente baseada na vontade de Deus — raras vezes o fazem. E quando o fazem, é com tais vacilações, timidez e cautelas, que dão a impre ssão de crerem muito pouco neles, e portanto não os consideram essenciais. Procedem assim porque temem o risco de ser qualificados de intransigentes, intolerantes e reacionários.

Diversos documentos emanados da Santa Sé, nos últimos anos, impugnaram o relativismo imperante no mundo de hoje, muitos dos quais assinados pelo atual Papa Bento XVI quando dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé, ou já na Cátedra de Pedro. Aponte-se um só pronunciamento de alguma Conferência Episcopal no mundo que lhes tenha feito eco de modo categórico até o momento...

Haverá algum bispo ou sacerdote que o tenha feito para o bem de seus próprios fiéis, em especial daqueles que não têm acesso fácil aos documentos pontifícios? É possível, mas após uma cuidadosa investigação, não encontramos qualquer notícia que fale nesse sentido. Ou seja, documentos de grande importância — quer pelo conteúdo, quer pela eminência da autoridade que os exarou — caem simplesmente no vazio, para se colocar em realce ideologias absurdas e sinistras como as assinaladas acima.

Após descrever sumariamente o panorama da destruição da família, cabe perguntar: onde estão os defensores da família verdadeira, que Deus dotou de todos os atributos e direitos, consignado como está em incontáveis documentos pontifícios ao longo de 20 séculos? São muito escassos, pois a grande maioria se reduziu ao silêncio, com temor de enfrentar o virulento processo de descristianização em curso.

Eis o principal campo de batalha dos católicos de hoje: resgatar do silêncio os irmãos na Fé, para que sejam preservados da sanha revolucionária, lembrando-lhes que tal sanha não se vence com silêncios ou contemporizações, mas sim com a afirmação destemida e completa da verdade católica. A animá-los e orientá-los, deve prevalecer a invencível máxima: Oboedire opportet Deo magis quam hominibus (mais importa obedecer a Deus do que aos homens – At 5, 29). Seguindo esse ditame, Nosso Senhor reinará não só em nós, mas também em torno de nós.

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