Revolução Cultural: oposição radical à sabedoria


01/03/2006

Dom Luiz de Orleans e Bragança
Chefe da Casa Imperial do Brasil

Apesar de o processo revolucionário ter atingido um auge com a Revolução Cultural, surge em muitas almas o desejo de voltar à sabedoria da casa paterna conforme a parábola evangélica.


Dom Luiz de Orleans e Bragança
Chefe da Casa Imperial do Brasil

Encontramo-nos, nos dias de hoje, numa situação em que no mundo inteiro tudo parece ter enlouquecido. As relações internacionais, a política, a economia, a cultura, os costumes e as modas, a própria vida de família, tudo imergiu numa crise em que nada parece ter lógica, nada parece ter solução.

No Ocidente, a causa de tal situação é uma gigantesca Revolução — magistralmente descrita pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Revolução e Contra-Revolução — que é, em última análise, um afastamento, uma recusa da sabedoria cristã. Ela se processou ao longo dos séculos, a partir da decadência da Cristandade medieval no século XIV, e teve também seus efeitos nos países não cristãos. Para não alongarmos demais este artigo, referir-nos-emos unicamente à crise no Ocidente.

Não se trata de um processo fortuito, mas provocado. O Papa Pio XII fala de um “inimigo” da Igreja, sutil e misterioso: “Ele se encontra em todo lugar e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral, social, da unidade no organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem a fé; a liberdade sem a autoridade; às vezes a autoridade sem a liberdade. É um ‘inimigo’ que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulos que ainda surpreende: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito ímpio: Deus está morto; e, até, Deus jamais existiu. E eis, agora, a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em indicar como as principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um Direito sem Deus, uma política sem Deus”.(1)

O plano de Deus na criação


Deus criou o Universo magnificamente diversificado:anjos...

Para nossos leitores compreenderem melhor toda a profundidade desse processo, que de um auge de fé, de sabedoria e de Civilização Cristã nos arrastou até a loucura dos nossos dias, começaremos por algumas noções preliminares, que revelarão, na medida do possível, aquilo que Deus desejava para os homens; e como eles, com o pecado, afastaram-se desse plano divino.


.. homens

Ao criar o Universo, em sua infinita sabedoria, Deus Nosso Senhor o fez magnificamente diversificado: anjos, homens, animais, vegetais e minerais se organizam hierarquicamente. Uma primeira hierarquia se subdivide em outras hierarquias menores, em múltiplas espécies e subespécies, elas mesmas com grande número de ramificações e indivíduos diversificados. Deus assim o quis para que o conjunto das criaturas e a soma de seus incontáveis atributos refletissem tanto quanto possível seu infinito esplendor, poder, bondade e riqueza, também infinitos.


...animais

Nesse magnífico conjunto de criaturas, Ele quis que o homem fosse como que o resumo de todas as outras: com corpo e alma, ele está situado abaixo dos anjos, que são puros espíritos, e acima dos animais, vegetais e minerais. Sua natureza tem algo de angélico, algo de animal, algo de vegetal e mineral. Sua alma imortal é espiritual e possui inteligência, vontade e sensibilidade; seu corpo é animal e contém também em si qualidades e atributos dos vegetais e minerais. Ele, por assim dizer, compagina toda a Criação.


.vegetais

São Luís Grignion de Montfort afirma em seu livro O Amor da Sabedoria Eterna (nº 35): “Se o poder e a doçura da Sabedoria eterna se manifestou com tanto esplendor na criação, na beleza e ordem do universo, brilhou muito mais ainda na criação do homem, pois ele é sua admirável obra prima, a imagem viva de sua beleza e de suas perfeições, o grande vaso de suas graças, o tesouro admirável de suas riquezas, e seu único auxiliar sobre a terra:


... e minerais se organizam hierarquicamente

*Sapientia tua fecisti hominem, ut dominaretur omni creatura quae a te facta est'”. (Sab. 9, 2). (Por vossa sabedoria formaste o homem, para ser o Senhor de todas as Vossas criaturas).(2)

Luz da sabedoria no homem

No Paraíso terreno, Adão e Eva eram detentores de abundantes virtudes e dons e, em particular, o da sabedoria, que é, segundo a aludida obra de S. Luís Grignion de Montfort (nº 13), “uma ciência saborosa, ‘sapida scientia’, ou o gosto de Deus e de sua verdade”. E esclarece que: “a verdadeira sabedoria se distingue em sabedoria natural e sobrenatural. A sabedoria natural é o conhecimento das coisas naturais de uma maneira eminente em seus princípios. A sabedoria sobrenatural é o conhecimento das coisas sobrenaturais e divinas nas suas origens”.(3)

Mais adiante, ensina o admirável santo: (nº 38)“Tudo no homem era luminoso sem trevas, belo sem feiúra, puro sem manchas, regrado sem desordem e sem nenhuma mácula nem imperfeição. Ele tinha como apanágio a luz da Sabedoria em seu espírito, pela qual conhecia perfeitamente seu Criador e suas criaturas. Tinha a graça de Deus em sua alma, pela qual ele era inocente e agradável aos olhos do Altíssimo. Tinha em seu corpo a imortalidade. Tinha o puro amor de Deus em seu coração, sem medo da morte, pelo qual ele O amava continuamente, sem cessar e desinteressadamente, por amor a Ele mesmo. [...] Sem que tivesse nenhuma paixão a vencer nem nenhum inimigo a combater”.(4)

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Veja:
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