Procuram-se Babettes
23/03/2006
Bruno de Santa Maria
No
célebre filme A Festa de Babette, apresentando um magnífico
jantar do século XIX, com saborosas iguarias francesas, encontra-se um
incentivo para o bom costume de refeições em família
Babette
na cozinha degusta um vinho |
Uma realização cinematográfica de conteúdo bastante útil
e formativo, ao lado de milhares de obras perversas, é A Festa de Babette.
A personagem do título é uma jovem francesa que, obrigada a fugir
da guerra, vai parar numa aldeia da Dinamarca, notável por seu protestantismo
rígido e puritano. Aí é acolhida por duas observantes
solteironas filhas do falecido pastor.
Babette mede bem a diferença
entre a vida borbulhante de seu país
e aquela taciturna e tristonha do vilarejo nórdico, mas nada parece
ter força para mudar os costumes locais. Em certo momento ela ganha
um prêmio na loteria, e manda vir da França as melhores iguarias
para oferecer um banquete aos habitantes do lugar. Os saborosos pratos da
culinária
francesa acompanhados dos melhores vinhos, num ambiente decorado com requintado
bom gosto, conseguem afinal quebrar o gelo imposto pela mentalidade protestante,
e acabam tocando fibras enrijecidas dos até então rudes e sombrios
camponeses. E a alegria volta a brilhar naquelas fisionomias carregadas pela
interpretação mal compreendida e deformada do Evangelho.
A mesa posta com requintado gosto para o jantar |
O filme não chega a falar em conversão, mas é notório
que o espírito católico acaba adquirindo algum direito de cidadania
naquele ambiente hirto e desprovido de louçania..
Uma contribuição para a solidez da vida em família
Os
saborosos pratos acabam vencendo a sombria mentalidade protestante |
Na vida diária, não é preciso um banquete para dar alegria
a um lar. Basta um pouco de esforço, de dedicação e vontade
de agradar. Conheci casas pobres, onde a mãe de família não
dispunha de outra matéria-prima além do trivial arroz, feijão,
frango ou bife, algum legume ou verdura. No entanto, conseguia fazer aprazíveis
refeições com os poucos elementos de que dispunha.
De muitos lábios se ouvia o comentário: “Nada como o arroz
da fulana, ou o feijão da sicrana...”. Era a consagração
do esforço ou dedicação amorosos da dona-de-casa que não
tinha preguiça, que se aplicava em aprender e criar. E que cumpria com
amor seu dever, procurando a perfeição. Ela contribuía
assim para a alegria do lar e para a solidez do casamento.
A mesa
das crianças – D. Entraygues Charles Bertrand (séc.
XIX) |
O pai e a mãe têm obrigação de educar os filhos,
e o bom exemplo é ótima escola. Entretanto, às vezes não
basta, é preciso ter a paciência de ensiná-los. Educar
não é apenas repreender alguma coisa mal feita ou palavra feia. É também
e sobretudo ensinar de modo atraente o cumprimento do dever, encaminhando-os
a considerar o futuro, a fazer o bem.
Os pais que cumprem o seu
dever, em geral são premiados com o amor
dos filhos. Podem também sofrer desilusões cruéis, é verdade.
Mas terão o conforto da consciência limpa, que, segundo o ditado, é o
melhor travesseiro.
As refeições em família são excelentes oportunidades
para toda essa atividade formativa. Se houvesse mais Babettes, menor seria
o número de divórcios. E muitos teriam aquela felicidade de situação,
por vezes tão simples, que a ilusão criada pelas novelas de televisão,
pelas novidades das modas e pelos mexericos destrói implacavelmente.
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
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