2006 O vagalhão da desordem universal


09/01/2007

Luis Dufaur

Na América Latina, esquerdistas vencem tapeando

Mais espalhafatosa e desavergonhada foi a metamorfose operada pelo ex-guerrilheiro Daniel Ortega na Nicarágua. Ele exibiu-se publicamente montando um cavalo branco com belos arreios tradicionais, e a bandeira dos EUA em suas costas [foto 23]. Disfarçou o apoio que recebia do presidente venezuelano Hugo Chávez; deixou de se referir a seu passado marxista; substituiu o hino sandinista por uma canção de paz e encheu suas arengas com alusões ao catolicismo. Apoiou a lei que baniu o aborto em todos os casos — coisa que nem Bush ousou tentar — aliou-se com direitistas famosos e apresentou-se como garantia de defender o livre-mercado e a iniciativa privada. Que imensa metamorfose para ganhar a presidência! E ainda assim só a obteve em virtude de uma obra-prima de alfaiataria eleitoral para que pudesse eleger-se presidente no 1º turno, com apenas 38% dos votos!

No Equador, o candidato chavista à presidência, Ricardo Correa, amargou fraquíssimo resultado no 1º turno; e em menos de 24 horas renegou o comunismo, ameaçou Chávez caso este se imiscuísse nos assuntos equatorianos; fez profissão pública de catolicidade praticante e declarou-se amigo do povo americano para se eleger, o que conseguiu.

Menos astuto foi o candidato chavista peruano Ollanta Humala [foto 24], que perdeu a eleição presidencial no 2º turno para Alan Garcia, apesar de seu opositor estar desprestigiadíssimo. Ainda mais dramático foi o fracasso de outro chavista que não se disfarçou como direitista: Antonio Manuel López Obrador, do México. Há anos sua ascensão ao palácio presidencial era dada como certa, mas bastou que o candidato conservador governista Rafael Calderón apelasse ao sentimento patriótico, à devoção a Nossa Senhora de Guadalupe, defendesse a propriedade e a família para que o eleitorado o elegesse.

Derrotado nas urnas, López Obrador auto-empossou-se presidente e seus deputados tentaram evitar o juramento do presidente eleito no Congresso, com indecorosas cenas de violência. Agindo segundo o esquema esquerdista clássico, López Obrador tenta precipitar o México num conflito civil.

No quadrante conservador, foi facílimo para Álvaro Uribe reeleger-se na Colômbia, com altíssima votação, no mês de maio, prometendo mão firme contra a narcoguerrilha marxista e a criminalidade.

No outro extremo do continente, as enquêtes insistiam que o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, atingia altíssimos níveis de popularidade. Mas eis que Kirchner apoiou uma reforma da Constituição da província (equivalente a um Estado brasileiro) de Misiones para instituir a reeleição indefinida do governo provincial. A manobra servia de teste para a tentativa de análoga reforma federal em favor do presidente. Este não poupou artifícios legais e eleitoreiros, mas acabou sofrendo uma tal derrota, que o levou a pensar em eleger como sucessora sua própria mulher!

Castrismo ambíguo e malfazejo

A exceção veio da Venezuela. Hugo Chávez, na iminência da eleição presidencial, fingiu se distanciar publicamente de Fidel Castro; garantiu que a Venezuela não será outra Cuba; que ele não é comunista, e que seu socialismo não é marxista. No dia seguinte, entretanto, confirmada a vitória, ameaçou as classes médias, que votaram contra ele, de promover uma reforma constitucional visando alijar a propriedade privada e a livre iniciativa. E viajou ao Brasil e à Argentina para obter apoio. Contradição e ambigüidade flagrantes para dissimular sinistro objetivo: aplicar o miserabilismo marxista cubano.

Enquanto isto, Fidel Castro entrou em fase terminal, atingido por doença mantida em segredo. Há meses ele extingue-se num local incógnito de Cuba, quase incomunicável, sem sucessor com análoga capacidade revolucionária [foto 25]. Nem Frei Betto foi admitido a vê-lo. "Esta revolução pode se autodestruir", admitiu Fidel desanimado em entrevista.(14) Paradoxalmente, as quase únicas vozes que se fizeram ouvir em favor do ditador gravemente enfermo foram as do episcopado cubano, exortando os fiéis a rezar por ele e a manter as conquistas do socialismo.(15)

Brasil: vitória de Pirro de um PT descolado da opinião pública

A enxurrada de desordem, subversão, crimes e escândalos em 2006 abriu os olhos de inúmeras pessoas e engrossou as tendências conservadoras. As esquerdas precisaram se travestir de direitas ou apelar para jogos verbais enganosos. Infelizmente não houve quem representasse autenticamente no tabuleiro político o lado conservador e centrista do público.

No ano que findou, o Brasil perdeu a liderança na atração de investimentos estrangeiros diretos na América Latina. O nosso PIB ficou apenas acima do PIB do Haiti, o pior do continente. A classe média trabalhou 113 dias –– colhidos pelos impostos –– para pagar serviços devidos pelo Estado. O Brasil ficou no último lugar do ranking do Banco Mundial em tempo gasto pelas empresas para cumprir suas obrigações tributárias. A carga tributária ficou em torno de 39% do PIB [foto

No início do ano, o MST estendeu a todo o País o 2006 vermelho, mas nas proximidades das eleições presidenciais anunciou uma trégua, visando não prejudicar seu candidato natural, o presidente Lula. O mesmo fizeram seus congêneres da Via Campesina e outras siglas. Após o pleito, reiniciaram a sua funesta série de atropelos, invasões, violências, saques, queima de estoques e sementes, destruição de mudas e laboratórios de pesquisas avançadas.

Em junho, o MLST, uma das siglas do agro-reformismo, invadiu a Câmara dos Deputados espalhando a destruição e fazendo feridos no mais clássico esquema leninista de "golpe popular"(16) [foto 27]. A operação fora cuidadosamente planejada e financiada também por entidades ligadas à CNBB.(17) O MLST é financiado com dinheiro público, e o presidente Lula lhe tinha concedido R$ 5,6 milhões.(18)

O crime organizado utilizou técnicas de guerrilha urbana para conturbar São Paulo a partir de maio, causando centenas de mortes, sublevações em massa de presídios, incêndios de ônibus, etc. Assim, espalhou o pânico com objetivos que iam além do crime comum e vazaram para o terreno político.

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