2006 O vagalhão da desordem universal
09/01/2007
Luis Dufaur
Saudades da tradição e do bom senso
Em sentido diametralmente oposto
a esta tendência para o mais chulo,
aumentou na humanidade o "fascínio pela rainha decapitada" Maria
Antonieta, da França, retratada por alguns como uma mártir. No
Brasil, o desejo de ver ambientes, situações e personagens distintos
e luxuosos fez reconhecer a um diretor de TV que "o público mais
pobre, em geral, é louco por luxo".(23) O estilo neoclássico
na arquitetura atingiu sucessos de venda. Numerosos brasileiros vêem
nele um símbolo de "permanência, eternidade, um valor seguro
a ser atribuído ao patrimônio".(24) A 27ª Bienal de
São Paulo, tristemente célebre pelos seus absurdos, ficou "às
moscas".(25) O público interessou-se muito pouco pela mostra de
absurdos que, outrora, fazia sensação.
Nesse ambiente de deliqüescência dos costumes católicos,
não espantou a informação do IBGE de que os católicos
em São Paulo passaram de 78,7% para 68,4%, apresentada no plenário
da CNBB.(27)
Católicos resistem e querem o bem oposto
Muitos católicos externaram sua rejeição ao progressismo
e à Revolução sexual. Exemplo disso é o crescimento
da admiração pelo canto gregoriano, que levou fiéis a
lotarem regularmente as igrejas em que ele voltou a ser entoado. Outro sinal
foi o sucesso do documentário alemão de três horas de duração,
O Grande Silêncio, sobre a vida monacal dos cartuxos na Grande Chartreuse,
na França.
O ensino da teoria da evolução de Darwin nas escolas americanas
continua decaindo. Os evolucionistas tentaram impô-la com medidas judiciais.
Para inverter essa tendência, o Museu Americano de História Natural
promoveu exposição em homenagem a Darwin. Mas os antidarwinistas
anunciaram a construção do Museu da Criação, que
ilustrará o Gênesis, o ato criador de Deus e a História
humana segundo a Bíblia.
Reações derrotam ofensivas de blasfêmia
A cantora Madonna multiplicou suas
grosserias e insultos blasfematórios
a Nosso Senhor Jesus Cristo, apresentando-se numa tournée crucificada
numa cruz gigante. Em sentido contrário, outro sinal da resistência
do conservadorismo à Revolução cultural foi a população
carioca repelir com indignação a exposição da obra
blasfema "desenhando em terços", exposta no Centro Cultural
Banco do Brasil e logo retirada da mostra e de outdoors em virtude dos protestos.
Montou-se formidável máquina de propaganda para a difusão
do filme blasfemo O Código da Vinci. Porém, também formidável
foi a reação católica: somente a TFP americana promoveu
nas semanas da estréia do filme 2.092 protestos públicos, com
a participação de mais de 40.000 pessoas em todos os Estados
americanos, e também no Canadá, Austrália, Filipinas e África
do Sul. O filme representou um fracasso de público e de receitas, especialmente
nos EUA. No final do ano ele estava esquecido.
Destino infernal da Revolução Cultural, entrevisto em 2006
Em 2006, a sarabanda da desordem
emitiu lampejos de qual é sua finalidade última:
a entronização do horror infernal. Como sinal, o governo da Grécia
liberou a adoração aos 12 deuses pagãos do Olimpo. A Corte
Suprema dos EUA liberou o culto com chá alucinógeno, praticado
pela seita União do Vegetal; em Porto Alegre, "carta psicografada" foi
aceita como prova para inocentar ré por homicídio; e o Ministério
da Saúde incluiu "tratamentos alternativos" como a astrologia
e a alquimia no Sistema Único de Saúde (SUS).
Nessa matéria, mereceu especial destaque a divulgação
tendenciosa do apócrifo Evangelho de Judas. Sorrateiramente, a propaganda
deu a entender que ele reproduzia a verdade sobre a vida de Nosso Senhor, "reabilitando" Judas,
o apóstolo traidor. A mídia espalhou falsa notícia de
que tal iniciativa contava com altos patrocínios no Vaticano. Na verdade,
apoios aos apócrifos só foram observados em ambientes da teologia
progressista.
* * *
2007: ardente ato de confiança em Nossa Senhora
O desfazimento do tecido
social e o estilhaçamento da ordem jurídica
e política gerou a expressão failed States (Estados falidos),
aplicada a países que pela decomposição das instituições
ficaram ingovernáveis, e nos quais organismos internacionais intervêm
para garantir um mínimo de segurança e de sobrevivência
das populações. Ou seja, países que se desfazem em redemoinhos
de confusão e desvario.
2006 acabou, 2007 começa.
O que pensar?
O marasmo que desfaz países, famílias e indivíduos gerou
em 2006 a "síndrome do Titanic": a sensação
possante de que "novos icebergs ameaçam o mundo com a força
daquele que desventrou o famoso transatlântico. [...] A crosta da civilização
está ameaçada por um inimigo silencioso que age nas profundezas
do oceano social, [...] oculto em algum lugar no futuro nebuloso, o qual atingiremos
e depois afundaremos ao som de música...”(27) No que consiste
esse iceberg? Tem nome? Quando será a colisão? É um só ou
são vários? As perguntas se acumularam em 2006.
Efeito dessa síndrome foi a decisão de mais de cem países
de instalar um cofre gigante de alta segurança numa ilha remota dentro
do Círculo Polar Ártico. Ele ficará fechado com herméticas
portas de aço, rodeado de cercas e detectores de movimento. Guardará sementes
de todas as espécies vegetais conhecidas, na previsão de um cataclismo
que possa aniquilar quase todos os seres vivos.
A idéia até há pouco teria parecido maluca. Hoje, não
mais.
Nossa esperança e a força de todos nossos combates
A
verdadeira e mais profunda razão de esperança para o mundo
não se guarda em cofres de metal. Ela se funda na dulcíssima
Mãe do Redentor, a Santíssima Virgem, Rainha do Céu e
da Terra, vida, doçura e esperança nossa [foto 32].
Por isso, aconteça o que acontecer, o verdadeiro espírito católico
entra em 2007 pronto a enfrentar todos os imprevistos, a fazer todos os sacrifícios,
com confiança sempre crescente nas promessas de Nossa Senhora do advento
de uma Civilização autenticamente católica.
Essa mesma confiança leva o verdadeiro católico a não
ficar de braços cruzados, mas a reagir com ânimo redobrado. Percebendo
que a desordem universal é filha de uma Revolução anticristã,
gnóstica e igualitária, ele se levanta e prepara-se para o embate
pela restauração da ordem. E por “ordem” ele não
entende a mera ordenação das coisas, mas — como escreveu
profeticamente o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — "se a Revolução é a
desordem, a Contra-Revolução é a restauração
da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja,
a Civilização Cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente
sacral, antiigualitária e antiliberal”.(28)
Empunhando com coragem o gládio das verdades perenes, o católico
fiel entra em 2007 elevando o olhar, cheio de confiança, à Santíssima
Virgem: "Ad te levavi oculos meos qui habitas in Coelis" — “Elevei
meus olhos a Ti que habitas no Céu”. Na certeza de que nunca se
ouviu dizer que alguém que tenha recorrido à proteção
da Santa Mãe de Deus, e reclamado seu socorro, tenha sido por Ela desamparado
[foto 61].
___________
Notas:
1. “Time”,
4-12-06.
2. “Jornal do Brasil”,
Rio, 9-2-06.
3. “Le Monde”,
Paris,
3-1-06.
4. “O Estado de S. Paulo”,
15-11-06.
5. “OESP”,
6-5-06.
6. Cfr. “OESP”,
30-11-06.
7. “OESP”,
20-9-06.
8. “Courrier Internacional”,
Paris, 14 a 20-9-06.
9. “OESP”,
18-11-06.
10. “Le Monde”,
18-11-06.
11. “OESP”,
28-5-06.
12. “Le Monde”,
7-11-06.
13. “Folha de S. Paulo”,
10-11-06.
14. “FSP”,
14-5-06.
15. “FSP”,
5-8-06.
16. “OESP”,
7-6-06.
17. “OESP”,
7-6-06.
18. “OESP”,
9-6-06.
19. “O Globo”,
Rio,
7-12-06.
20. “FSP”,
30-8-06.
21. “OG”,
7-2-06.
22. “OESP”, 22-4-06 e “FSP”,
22-4-06.
23. “FSP”,
25-6-06.
24. “FSP”,
27-6-06.
25. “OESP”,
28-11-06.
26. “OESP”,
10-5-06.
27. “OESP”,
12-2-06.
28. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução,
Artpress, São Paulo, 1998, p. 93.
Páginas: 1 2 3 4 5 6 7
Veja:
http://www.catolicismo.com.br
|