"Consulte, Presidente, consulte"


19/12/2007

Cid Alencastro

O filme Tropa de Elite surpreendeu muitos pela grande repercussão que alcançou; entretanto, para se entender o sentido profundo dessa repercussão, é preciso relacioná-la com várias outras realidades.


Plinio Corrêa de Oliveira no programa de TV
Não basta dizer que o brasileiro deseja ver bandido na cadeia. Isso é verdade, mas não suficiente para medir todo o alcance do fenômeno que surge, inesperado, por detrás das repercussões de Tropa de Elite. Estamos tocando num assunto da maior importância para se entender o Brasil de hoje, e tentaremos apresentá-lo convenientemente.

Um amigo fez-me um relato do filme, mas não interessa aqui a análise da trama ou dos cenários, de seus possíveis defeitos ou qualidades, nem das intenções de seu diretor. Nossa atenção incide sobre outro ponto: a reação da opinião pública, que encontrou nessa projeção cinematográfica a possibilidade de um desabafo há muito contido, e como que provindo do fundo de sanidade da natureza humana.

Para entender o que se passou, convém que o assunto do filme seja relacionado com a Reforma Agrária, o desarmamento, o MST, as drogas, os impostos extorsivos e o aborto. Isto não é uma blague, é uma realidade, mas vamos por partes.

Reforma Agrária

Para nos situarmos bem no tema, é preciso retroceder ao ano de 1985, início da abertura democrática, quando o então Presidente José Sarney resolveu aplicar em grande estilo a truculenta lei de Reforma Agrária (Estatuto da Terra), aprovada durante o regime militar. Para esse fim, um ministro farfalhante (Nelson Ribeiro), indicado para o cargo nada menos do que pela CNBB, elaborou um Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) de caráter nitidamente socialista, como aliás o era também o Estatuto da Terra.

Desmitificando a onda criada pela esquerda católica, pelo governo e pela mídia, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em entrevista a uma importante televisão de Brasília, afirmou que a Reforma Agrária seria um desastre para a agricultura nacional, constituindo um passo para o comunismo, e além disso não era desejada pelo povo brasileiro. E desafiou: façam um plebiscito para conhecer a verdadeira posição do povo brasileiro. Impressionou muito a ênfase com que ele apresentou sua proposta: “Consulte, Presidente, consulte o povo brasileiro!” (http://br.youtube.com/watch?v=i3IQyqW4kWs).

Passados mais de 20 anos desses fatos, está patente que a Reforma Agrária só vem produzindo “favelização” do campo, é um instrumento de grupos socialistas que visam impor sua ideologia, e sobretudo não é desejada pelo povo brasileiro.

Fisionomia moral do País

Daqui tiramos uma lição importante, que poderia ser expressa na letra de uma das músicas dos carnavais antigos: “Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai”. Entenda-se: nem tudo que é apresentado como reivindicação popular, é de fato desejado pelo povo. Não raro são interesses ideológicos ou outros, que se escondem sob a capa de reivindicações populares!

Da mesma forma, está aos olhos de todos a imensa pressão que vem sendo exercida para aprovação de leis que favoreçam o aborto, o “casamento” homossexual, o consumo de drogas. Ora, pelos princípios da democracia, seria normal consultar o povo para saber se ele quer a aprovação de leis que tendem a mudar de modo tão grave a fisionomia moral do País. Por que não convocam tal plebiscito? Tudo indica que temem uma derrota arrasadora, como a que ocorreu na tentativa de desarmamento das pessoas de bem.

A caricatura e a realidade

A respeito de todos esses temas, é importante considerar a diferença fundamental entre as autênticas aspirações do povo e a caricatura que delas faz uma certa propaganda a serviço de interesses vários. Só assim estaremos aptos a compreender os dias que estamos vivendo.

Seria uma grande tolice defender a tese de que a população brasileira estaria desengajada do processo universal de Revolução, que arrasta toda a humanidade. Mas trata-se aqui de outra coisa: denunciar a pressão monumental com que se procura forçar o povo a aceitar leis, situações, costumes que visam debilitar tendências profundas, que ele ainda conserva como fruto longínquo da Civilização Cristã ou de uma certa retidão natural. Tendências essas que, fortalecidas pela graça divina ou por ela suscitadas, podem criar, em diversos pontos, obstáculos ponderáveis ao seguimento do processo revolucionário.

Injustiças em nome do povo

Também as invasões de propriedades rurais e urbanas costumam ser apresentadas como reivindicações populares. Pois os pobres, grande maioria da população, não agüentariam mais essa situação de injustiça, na qual teriam sido colocados pelos abastados. Entretanto, contra esse mito levanta-se uma onda popular de horror e desagrado, que atinge de cheio o MST, a CPT e congêneres. A tal ponto que já não se fazem mais pesquisas para saber o que os brasileiros de todas as classes sociais acham das invasões, pois em número crescente nossos patrícios vinham se declarando totalmente contrários a elas. No entanto, para o MST não falta dinheiro, apoio governamental, cargos públicos e tudo o mais.

Alguém já pensou qual seria o resultado de um plebiscito para saber se os brasileiros estão contentes ou não com a atual carga de impostos? Mas a carga tributária cresce sem cessar.

Mme. Roland, a revolucionária de 1789 a 1792, guilhotinada em 1793, exclamou ao subir ao cadafalso: “Liberdade, liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!”. Poderíamos parafraseá-la: “Povo, ó povo, quantas injustiças se fazem em teu nome!”.

Um desabafo

Chegados a este ponto, estamos em condições de abordar a questão colocada no início do artigo, referente ao filme Tropa de Elite. Segundo o meu amigo que assistiu ao filme, este tem aspectos muito inconvenientes, como um escachoar contínuo de palavras de baixo calão e algumas cenas que ofendem o pudor.

Mas não é preciso ter assistido à projeção para dar-se conta de que não foram esses aspectos do filme que marcaram a fundo o público que o assistiu. O que provocou manifestações entusiásticas foi o fato de que os bandidos são tidos como bandidos, e devem ser combatidos enquanto tais.

Essa idéia simples e primeira, quase se diria inocente, de que os bandidos devem ser perseguidos e punidos, vem sendo soterrada nas almas pelo entulho da propaganda unilateral dos direitos humanos, da esquerda, de certas ONGs. Tal idéia encontrou, de repente, um conduto de respiração no filme. E, ao que parece, os brasileiros resolveram respirar a plenos pulmões.

Um desabafo semelhante ao que levou a população a se pronunciar, em grandíssima maioria, contra o desarmamento dos homens honestos.

Tal é o fio condutor que liga temas tão diferentes entre si, como Reforma Agrária, desarmamento, MST, drogas, impostos, aborto e outros mais. A respeito de cada um deles ressoam as palavras veementes do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira: “Consulte, Presidente, consulte”.

Veja:
http://www.catolicismo.com.br/

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