“Supermercado de religiões”


13/06/2005

Juan Gonzalo Larrain Campbell

Na Ação Católica silenciam toda a apologética

“Como conseqüência rigorosa, repelem certos elementos de modo formal, passam sob silêncio, parecem esquecer e ignorar todas as passagens da Sagrada Escritura, todas as produções dos Padres e Doutores, todos os documentos pontifícios, todos os episódios da hagiografia católica que ressaltem a apologia do denodo, da energia, do espírito de combatividade. Procura-se ver a religião com um olho só, e quando o olho que vê a justiça se fecha para deixar apenas aberto o que vê a misericórdia, este imediatamente se perturba e arrasta o homem à temerária presunção de se salvar, a si e aos outros, sem méritos”.(5)

"Abismo que separa a Igreja da heresia”

A “tática do terreno comum” praticada em círculos da Ação Católica implica em grave erro:

“Quanto filho pródigo renunciaria ao abandono criminoso do lar, se um conselheiro prudente o advertisse dos riscos sem número a que se expõe, deixando os domínios paternos! É imenso o abismo que separa a Igreja da heresia, o estado de graça do pecado mortal, e será sempre uma obra de misericórdia das mais eminentes mostrar aos católicos despreocupados a temível extensão deste abismo, a fim de que não se atirem inconsideradamente em suas profundezas.

“Tudo isto posto, e já que, segundo demonstramos, os mais altos interesses da Igreja e as mais graves imposições da caridade nos levam a agir de preferência sobre os irmãos na Fé, chegamos à conclusão de que, fazer da famosa tática do ‘terreno comum’ a nota dominante, e a bem dizer exclusiva da propaganda da Ação Católica, implica em grave erro.

“Imagine-se o efeito concreto que sobre nossa massa católica teria uma propaganda cujo leitmotiv fosse, invariável e exclusivamente, que do protestantismo nos separa apenas uma tênue barreira; que estamos todos ligados pela Fé comum em Jesus Cristo; e que muito maiores são os laços que as barreiras entre nós. Quem conseguisse fazer prevalecer essa tática entre os católicos mereceria, por certo, um grande cordão de honra, por parte dos protestantes”. (6)

A Fé católica apostólica, romana a grande ausente

Depois de haver publicado Em Defesa da Ação Católica, Plinio Corrêa de Oliveira continuou insistindo sobre os males do falso ecumenismo, nas páginas do “Legionário”, de Catolicismo e da “Folha de S. Paulo”.

Por exemplo, em 1984 advertia que a meta desse ecumenismo seria a exclusão da única religião verdadeira: "Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a formação, em escala mundial, de um sinistro ‘supermercado de religiões’, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia? Ausente do mundo só estaria — se até lá se pudesse chegar — a verdade total; isto é, a fé católica apostólica romana, sem nódoa nem jaça.(7)

* * *

A única religião revelada é a católica

“Acreditamos, pois, que os que afirmam serem cristãos não possam fazê-lo sem crer que uma Igreja, e uma só, foi fundada por Cristo. Mas, se se indaga, além disso, qual deva ser Ela pela vontade do seu Autor, já não estão todos em consenso.

Assim, por exemplo, muitíssimos destes negam a necessidade de a Igreja de Cristo ser visível e perceptível, pelo menos na medida em que deva aparecer como um corpo único de fiéis, concordes em uma só e mesma doutrina, sob um só magistério e um só regime. Mas, pelo contrário, julgam que a Igreja perceptível e visível é uma federação de várias comunidades cristãs, embora aderentes, cada uma delas, a doutrinas opostas entre si.

Entretanto, Cristo Senhor instituiu sua Igreja como uma sociedade perfeita de natureza eterna e perceptível pelos sentidos, a qual, nos tempos futuros, prosseguiria a obra da reparação do gênero humano pela regência de uma só cabeça (Mt 16, 18 ss; Lc 22, 23; Jo 21, 15-17), pelo magistério de uma voz viva (Mc 16,15) e pela dispensação dos sacramentos, fontes da graça celeste (Jo 3, 5; 6, 48-50; 20,22 ss; cfr. Mt 18,18; etc.). Por esse motivo, por comparações afirmou-a semelhante a um reino (Mt 13), a uma casa (Mt 16, 18), a um redil de ovelhas (Jo 10,16) e a um rebanho ( Jo 21, 15-17)”.

_________

Pio XI, Encíclica Mortalium Animos, de 6-1-1928, nº 8.

* * *

Sentinela da Igreja e da Cristandade

Para finalizar, citamos um trecho do Prof. Plinio escrito em 1968, ano da revolta estudantil da Sorbonne, no qual, depois de analisar o panorama político internacional, afirma que a crise progressista que corroía a Igreja em 1968 era a conseqüência daquilo que ele mesmo denunciara em 1943, com a publicação de sua profética obra Em defesa da Ação Católica:

“Parece-me indispensável completar esse quadro doloroso com o que se passa em um mar incomparavelmente mais importante e mais nobre do que o Índico, o Mediterrâneo ou qualquer outro. É o oceano imenso, espiritual, sacratíssimo, da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.

“Neste terreno, o ano de 1968 foi o do estouro. Mil germes de confusão e de deterioração - que de nossa parte vínhamos combatendo desde os dias borrascosos de 1943, em que publicamos Em Defesa da Ação Católica - chegaram a furo. A crise saiu dos bastidores para soprar nas sacristias e nos templos, e daí ganhar as praças públicas. Sem dó nem piedade, ela vai penetrando até nos menores recantos, e quem hoje repetisse as frases – outrora tão verdadeiras e tão gloriosas –– sobre a opinião católica como dique inquebrantável diante do comunismo, provocaria risotas ou compaixão. Esse é o fato mais trágico do ano trágico de 1968.

“Artigo de um pessimista, este? Quem é o pessimista autêntico? É a sentinela que brada alertando sobre o perigo, na esperança de que a gravidade da hora galvanize energias ainda capazes de vencer? Ou é quem, de dentro da cidadela, responde ao brado de alarma: ‘Não há perigo... — aliás o inimigo não é assim tão detestável... — e, principalmente, nada há que fazer; deixe-me dormir até que ele entre, pois tudo está perdido...’”(8)

* * *

À guisa de conclusão, adiantamos ao leitor que, embora os erros denunciados no Em Defesa se tenham difundido amplamente nos setores progressistas da Igreja, causando perplexidades, confusões e até apostasias, têm encontrado também reações, desconfianças e tristeza em muitos setores da opinião católica, que assim escaparam, ao menos em parte, da nefasta influência. O que trouxe como conseqüência uma separação entre a cúpula progressista e boa parte do povo fiel, tornando pedregoso e mais lento o caminhar do ímpeto igualitário no processo revolucionário.

O imenso dano causado à Revolução com a publicação do livro Em Defesa está evidenciado na vastíssima documentação em nosso poder, de adversários ideológicos de Plinio Corrêa de Oliveira que reconhecem a eficácia contra-revolucionária da obra e o prejuízo que ela lhes causou. Sobre isto daremos uma idéia ao leitor em outra ocasião.

                                       

Notas:

1. Revolução e Contra–Revolução, Parte I, Capítulo VII, 3

2. Idem, Cap.VII, 3, A, c.

3. “Legionário”, nº 467, 24/8/41, Sofismas novos, erros velhos.

4. Plinio Corrêa de Oliveira, Em Defesa da Ação Católica, São Paulo, 1983, 2ª edição, p. 196.

5. Idem, pp. 203, 204 e 205.

6. Idem, pp. 221, 222.

7. “Folha de S. Paulo”, 10-1-84, Lutero pensa que é divino!

8. “Folha de S. Paulo”, 25-12-68, Clarividência otimista e pessimismo dorminhoco.

Páginas: 1 2

Veja:
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