Um abismo atrai outros abismos
Investida para ampliação dos casos de aborto no Brasil


14/04/2005

Padre Davi Francisquini

Inexiste vida indigna de ser vivida


O direito à vida é de Direito divino e também de Direito natural. Portanto, uma obrigação geral e inalienável

Também aqui, embora todos os aspectos levantados sejam extremamente graves, o problema central para um católico não é esse. É fato que muitas de tais crianças nascem já mortas; a maioria vive umas poucas horas; algumas vivem dias, semanas e até meses. O que se deve ter primeiramente em conta são as misteriosas relações da criança com seu Criador, que lhe deu a vida.

Afirma o Dr. Albert Niedermeyer, Doutor em Medicina, Filosofia e Direito, Catedrático da Universidade de Viena: “A vida psíquica dos mentalmente mortos apresenta muitos enigmas não resolvidos. Em alguns casos têm-se revelado fatos surpreendentes ao descobrir, ante a morte iminente, uma exuberante vida anímica soterrada sob a superfície, inclusive em enfermos dementes em absoluto. Também não sabemos o que ocorre com o moribundo. Só pressentimos que precisamente os instantes últimos são para ele de importância decisiva, e que em alguns podem ainda trazer uma pletora de abundantes graças. [...] E o homem priva seus semelhantes desses momentos decisivos da graça, por crer que pode abreviar sua vida uns segundos, imaginando talvez que com isso lhes presta um bom serviço.

“Sob o ponto de vista sobrenatural, não há vida indigna de ser vivida. Ao enfermo aparentemente mais perdido são aplicáveis as inspiradas palavras de São Tomás: ‘É melhor para ele ser assim do que não ser em absoluto’ (melius ei sic esse quam penitus non esse)

Para compreender esta sentença, é indispensável poder conceber que todo ser (esse) representa uma participação no ser de Deus. [...] Proposição misteriosa, que para a arrogância humana, incapaz de elevar o olhar acima do terreno, poderá parecer loucura e escândalo, mas que na realidade nasce de uma profunda sabedoria”.(14)

Pais de anencefálicos: situação psicológica

É muito duvidoso, por fim, que seja um benefício à saúde psíquica da mãe poupar-lhe o trauma psicológico de levar no seu seio um filho gravemente doente. Diz o Dr. Eugene F. Diamond, M.D., Professor da Pediatrics Loyola Stritch School of Medicine: “Não está provado clinicamente que seja benéfico para a mãe abortar em tais circunstâncias. Não há suficientes dados para provar isso. [...] É sem dúvida muito traumático para os pais saber que eles têm um filho anencefálico. [...] Se bem que a atitude convencional seja manter o filho anencefálico separado da mãe, existem graves dúvidas com respeito aos benefícios derivados dessa estratégia de negação. A experiência de apoio aos pais de crianças com defeitos graves de nascença tende em geral a indicar que existem efeitos saudáveis em levar os pais a reconhecer a realidade de sua relação com o menino, por meio de atos como dar a ele um nome, e abraçá-lo enquanto ainda está vivo. O ‘processo do luto’, quando é efetivado e não recalcado ou suprimido, pode ser uma parte integrante da aceitação e da cura final”. Observa o Dr. Diamond: É curioso que “o apoio aos pais dos meninos nascidos com anomalias congênitas é dado tipicamente por neonatalistas, pediatras, assistentes sociais, psiquiatras, ao passo que a proposta do aborto por meio do parto induzido vem normalmente do obstetra”.(15)

Voltamos assim à conclusão inicial, de que o direito à vida é o mais primitivo do homem, e fundamento dos demais direitos humanos, tanto no que se refere ao direito natural quanto ao direito positivo. Não é possível salvaguardar os direitos humanos sem que se lhes anteponha sempre o respeito ao direito à vida, e com isso o respeito ao Criador e Conservador da vida. O direito à vida é juris divini, portanto de obrigação geral e inalienável.

Por trás do aborto, a eugenia dos darwinistas e nazistas


Já no séc. XIX, Darwin propunha “seleção natural” das raças: quem é fraco ou defeituoso não teria direito à vida

Ante a constatação da existência de uma rede mundial pró-aborto, que atua de modo organizado e usa os mesmos slogans e táticas, surge a pergunta: o que impulsiona tais militantes a aderir e a colaborar com essa infame causa? Várias respostas poderiam ser apresentadas:

a – Alguns consideram pesados os sacrifícios e as responsabilidades da paternidade, carga que não estão dispostos a suportar. Consideram os filhos um impedimento para o gozo dos prazeres da vida. O fator decisivo para eles é o egoísmo.

b – Outros justificam sua posição criminosa de modo mais profundo: rebelam-se contra a sabedoria de Deus e julgam-se no direito de escolher entre manter ou tirar a vida dos filhos que concebem.

c – O movimento abortista tem uma ideologia oculta, denominada eugenia, que deseja impor suas idéias no mundo inteiro. São seus objetivos: favorecer as raças e pessoas chamadas superiores — eugenismo positivo; fazer desaparecer as raças e pessoas chamadas inferiores –– eugenismo negativo.

A eugenia era praticada pelos pagãos, inclusive os considerados altamente civilizados, como gregos e romanos. Foi a Igreja Católica, ensinando gradativamente aos bárbaros o alto valor da vida humana e seu destino eterno e sobrenatural, que lhes inculcou ao mesmo tempo o horror ao aborto e ao infanticídio. Quando a civilização ocidental e cristã começou a se afastar de Deus, o aborto começou a ser praticado com freqüência cada vez maior. E no século XIX a eugenia foi “redescoberta” por Darwin, cuja teoria evolucionista de “seleção natural” procura explicar a formação de raças superiores e inferiores: “Entre os selvagens, os corpos ou mentes enfermos são rapidamente eliminados. Os homens civilizados, ao contrário, constroem asilos para os imbecis, incapacitados e enfermos, e nossos médicos aplicam o melhor do seu talento em conservar a vida de todos e de cada um, até o último momento, permitindo assim que se propaguem os membros fracos das nossas sociedades civilizadas. Ninguém que tenha trabalhado na reprodução de animais domésticos duvidará de que isso é sumamente prejudicial à espécie humana”.(16)

Movimentos abortistas e herdeiros da eugenia nazista

Instaurada como política oficial do nazismo de Hitler, a eugenia sobreviveu à queda do Terceiro Reich. Refugiou-se e implantou sua base doutrinária em movimentos como Planned Parenthood e instituições da ONU, como UNICEF, além de uma longa lista de movimentos partidários da eugenia.

Margaret Sanger, ícone do movimento feminista, fundadora da Federação Internacional de Planejamento Familiar (Planned Parenthood International), apresentou sua ideologia nazista no livro Pivô da Civilização: “Os seres sadios devem procriar abundantemente, e os ineptos devem abster-se. […] Este é o principal objetivo do controle da natalidade. Mais filhos dos saudáveis, menos dos incapazes [...] para criar uma raça de puro-sangue”.(17)

O movimento ecológico, na sua radicalidade, constitui outra ideologia aparentada com a anterior. Sua expressão doutrinária mais extrema, denominada “ecologia profunda”, afirma que a capacidade da Terra para suportar a população humana é muito limitada, entre um e dois bilhões de pessoas. Muitos crêem que isso os leve a advogar a extinção da humanidade, por ser predatória da natureza. De fato, alguns deles pensam assim, mas seria uma extinção voluntária, consistente em renunciar a ter filhos.(18)

Qualquer que seja, no entanto, o impulso que leva a essa ação criminosa contra os ainda não nascidos, toda essa ofensiva tem sua raiz naquele que é o “homicida desde o princípio” e o “pai da mentira”(19), ou seja, o demônio. Foi o demônio que incitou Caim a matar seu irmão Abel, e desde então a maldição do homicídio pesa sobre a sua raça. Essa raça fundou, como ensina Santo Agostinho, a “Cidade do Homem, em contraposição à Cidade de Deus”. Naquela cidade o alicerce é o egoísmo, o “amor de si é levado até o ódio a Deus” e a seus divinos mandamentos.

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Notas:

1. “O Estado de S. Paulo”, 10-12-04.

2. “O Estado de S. Paulo”, 7-8-04.

3. “O Estado de S. Paulo”, 17-8-04.

4. “O Estado de S. Paulo”, 20-8-04.

5. Cfr. Simone Iwasso, in “O Estado de S. Paulo”, 1º-10-04.

6. “O Estado de S. Paulo”, 21-10-04.

7. Cfr. Declaração sobre o aborto procurado, de 18-11-1974, assinada pelo Cardeal Seper, Prefeito da referida Congregação.

8. Nikki Katz, Abortion statistics, World – U.S. – Demographics – Reasons.

9. Forced Abortions in America do Elliot Institut – Forced Abortions in America: the Hidden Epidemic (Spingfield, IL, 12-6-04).

10. “Folha de S. Paulo”, 11-1-05.

11. Cfr. Free Republic, NARAL, Anti-Catholicism and the Roots of the Pro-Abortion Campaign, 6-2001 by Robert p. Lockwood, posted on 9-7-2001 PMPDT by electrnl.

12. Texto do Catecismo Maior de São Pio X, de 15 de julho de 1905, com pequenas adaptações, Editora Vera Cruz Ltda., São Paulo, 1976.

13. Cfr. E. F. Diamond, MD – Management of a Pregnancy with an Anencephalic Baby, www.asfhelp.com-asf-management-of-a-pregnancy

14. Albert Niedermeyer, Compendio de Medicina Pastoral, Barcelona, Ed. Herder, 1955, p. 223.

15. E. F. Diamond, M.D., op. cit.

16. www.trdd.org/eugbr_1shtm

17. Cfr. Discurso do Deputado federal Severino Cavalcanti na sessão de 13-12-04.

18. Cfr. Deep ecology – Wikipedia, the free enciclopedia, na Internet.

19. Jo, 8, 44.

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Veja:
http://www.catolicismo.com.br/

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