Lembra ele que Plinio Corrêa de Oliveira fundou a Ação Universitária Católica, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo; foi eleito aos 24 anos para a Assembléia Constituinte de 1934, como o candidato mais votado de todo o Brasil; presidiu a Junta Arquidiocesana da Ação Católica, em São Paulo; dirigiu, durante décadas, “O Legionário”, semanário oficioso da arquidiocese paulopolitana; foi o inspirador e principal articulista do então jornal (hoje revista) Catolicismo; até fundar, em 1960, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP). Escreveu numerosas obras.
A posição matizada que o pensador brasileiro tinha a respeito dos Estados Unidos da América do Norte é bem sintetizada por Introvigne. De um lado a denúncia da “cultura de Hollywood”, ou seja, a crítica aos modos novos, liberais e sem compostura, que o cinema norte-americano espalhou pelo mundo, em contraposição aos estilos tradicionais de ser e de agir. E, de outro lado, “consideração pelo papel político desenvolvido pelos Estados Unidos na luta em defesa dos valores ocidentais contra o comunismo, e também contra o nacional-socialismo e os regimes autoritários e estatizantes europeus”.
Após constatar que o Brasil foi um dos países mais atingidos pela crise progressista e pela teologia da libertação de caráter marxista, Introvigne mostra que, precisamente nesse País, através da obra de Plinio Corrêa de Oliveira, “a escola católica contra-revolucionária conheceu, na segunda metade do século XX, um de seus mais significativos desenvolvimentos”.
A crise da Ação Católica nos anos 40
O primeiro livro de Plinio Corrêa de Oliveira, Em Defesa da Ação Católica, merece de Introvigne uma referência cuidadosa que, se não é exaustiva, é muito abrangente nas suas linhas gerais. Trata-se de uma obra que nos proporciona “uma análise extremamente lúcida de como – tendo por base diversos erros doutrinários – a Ação Católica estava em crise”.
Prosseguindo a narração histórica daquela época, o intelectual italiano põe em realce o fato de que, com a entronização na Arquidiocese de São Paulo do Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, o Prof. Plinio perdeu a presidência da Ação Católica, inclusive a direção do “Legionário”. O novo arcebispo preferiu “ouvir com benevolência os críticos de Em Defesa da Ação Católica” (A respeito desse livro, vide p. XX).
No Vaticano, entretanto, a análise da crise da Igreja brasileira, exposta nessa obra e pelo grupo do “Legionário”, “era considerada sempre com a maior atenção, tanto mais que essa crise ia se mostrando em toda sua gravidade”.
Daí resultou que, em 1949, Mons. Montini escreveu uma carta a Plinio Corrêa de Oliveira, em nome do Papa Pio XII, louvando o livro Em Defesa da Ação Católica, “com expressões de um calor pouco comum para uma obra que, além do mais, havia sido publicada seis anos antes”.
Catolicismo, Revolução e Contra-Revolução
Pelo fim da década de 1950, o jornal Catolicismo “opõe-se ao mito populista da reforma agrária, a qual se tornará uma sua batalha central no decênio seguinte”. Catolicismo desenvolve ainda “uma obra sistemática de defesa do papel das elites e da luta contra a vulgarização da cultura. Vão nessa direção, antes de tudo, os comentários metódicos de Plinio Corrêa de Oliveira às alocuções de Pio XII à nobreza e ao patriciado romano, os quais suscitarão, entre outros, o interesse de D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança (1908-1981), Chefe da Casa Imperial do Brasil; dois filhos de D. Pedro tornar-se-ão depois estreitos colaboradores do autor”.
Na série Ambientes, costumes, civilizações, partindo de imagens, fotografias, obras de arte, episódios históricos e filmes, “o pensador brasileiro mostra o influxo das tendências, dos ambientes, das cores e sabores na formação da mentalidade e da cultura”. Tal modo de ver constitui uma das originalidades fundamentais da visão contra-revolucionária do pensador brasileiro.
Em 1959, Plinio Corrêa de Oliveira publica Revolução e Contra-Revolução, obra que “está indissoluvelmente ligada à fama do pensador brasileiro, seja na história do pensamento católico, seja do pensamento político latino-americano”.
* * *
Ainda num outro artigo — fora desta série — em que analisa a última eleição italiana, Massimo Introvigne ressalta os bons resultados obtidos por um dos partidos, pelo fato de que seus dirigentes fizeram um “constante apelo a valores que podem resumir-se no lema ‘tradição, família, propriedade’”. E isto se dá, diz ele, ao mesmo tempo que “ocorre o centenário do nascimento do pensador católico brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995), fato que, presumo, não estava especificamente em vista” para os componentes médios desse partido.