Um louvor perfeito


27/09/2008

Miguel Beccar Varela

Uma imagem que representa a Santíssima Virgem — por assim dizer, uma “menina de ouro” — enlevada por sua mãe, encanta os visitantes e os faz perceber as belezas sobrenaturais da inocência infantil

Santana de Parnaíba, a 40 quilômetros da capital paulista, é conhecida como “berço dos bandeirantes”, pois de lá partiam as bandeiras rumo ao sertão. Na venerável igreja matriz daquela cidade histórica encontra-se uma bela imagem de madeira pintada, provavelmente do séc. XVIII, que representa a padroeira da cidade: Santana tendo em seus braços a Virgem Menina.

A elegância e a majestade no porte e no gesto das duas figuras, o brilho e o bom gosto das cores, tudo é de uma perfeição artística que agrada contemplar. Mas não é apenas, nem principalmente, o prazer estético o que atrai nessa imagem, e sim a percepção de algo sobrenatural pairando sobre ela. A arte foi capaz de representar a pureza sobrenatural da inocência, e é isso o que principalmente atrai os visitantes.

A imagem cativa os devotos

A cena é atraente e tocante. Santana, com expressão séria e compenetrada, está ensinando sua pequena filha a ler. Maravilhoso mistério: a criança a quem a mãe ensina é a própria Sede da Sabedoria...

A Virgem Santíssima está atenta e pensativa, nos braços maternais. Como em um trono, tem um livro aberto nas mãos e o olha atentamente. Para dar ao leitor uma certa idéia dessa preciosa imagem que me encantou, diria que é de uma “menina de ouro”: rostinho redondo, nariz pequenino, infantil, tez rosada, lábios vermelhos bem apertados, a fronte alta e luminosa, o conjunto denotando muita concentração.

Ela está regiamente vestida com um tecido estampado e usa ricos brincos. Os olhos estão baixos e fixos no livro aberto. Toda sua atitude é de suma placidez.


Logo que nosso olhar se fixa na sua cativante figura, nosso coração se sente atraído; e começa a adivinhar, mais do que a concluir, o que se reflete na expressão da Santíssima Menina. Parece-nos sentir a harmonia que há entre sua alma e o texto sagrado que Ela tem diante de si. O que a mãe está lhe mostrando, Ela o traduz em um canto de louvor a Deus. Nunca ninguém glorificou tão perfeitamente a Deus, nem O glorificará até o fim dos séculos, como esta Menina o faz. Vêm-nos à memória as palavras de Nosso Senhor em sua entrada triunfal em Jerusalém, no Domingo de Ramos: “Da boca das crianças farei para mim um louvor perfeito” (Mt 21, 16).




A inocência infantil

A ternura inefável de Santana quase passa despercebida, se comparada à que nos parece vislumbrar na luz que envolve a Virgem Menina. Quanto é bela a inocência iluminada pela graça! Quanto é bela a infinita doçura com que Deus acolhe a inocência! Que contraste chocante com a agitação e a sensação de abandono das pessoas no mundo em que vivemos! Um mundo desprovido de sensibilidade e inocência, que se recusa a glorificar a Deus.

Cada vez mais as crianças não são batizadas pelos seus pais, e cada vez mais a luz da graça vai se apagando nas faces infantis. Nas crianças que encontramos pela rua –– cujo número muitos casais procuram criminosamente reduzir –– ou nas que a mídia apresenta associadas a produtos comerciais, elas são propagandisticamente bonitinhas, mas ao mesmo tempo vazias da verdadeira felicidade da inocência e da graça sobrenatural.



Santana de Parnaíba

O centro antigo da cidade ainda permite ter uma idéia – ainda que muito tênue – do que ela teria sido nos tempos da Colônia.

Em meados do século XVI, era um pequeno mundo entre outros dois: “o Reino”, referindo-se a Portugal (de onde lhe vinham o impulso, as instituições, a cultura, a Religião); e “o sertão” (que designava a fronteira, o desconhecido), a vasta selva que representava sua riqueza e seu futuro. O rio Tietê era o único caminho que levava ao vasto oceano e ao contato com Portugal.

Seu primeiro habitante foi Manuel Fernandez Ramos, ali chegado com a expedição que, em 1561, organizou Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil.

Foi esse Manuel Fernandez que construiu a primeira capela, em louvor de Santo Antonio, e foram sua viúva e filhos que construíram a segunda, em 1581, no mesmo lugar da primeira, desta vez dedicada a Santana.

Em frente à igreja atual — construída em taipa de pilão no século XIX —, do lado oposto da praça, encontra-se a Câmara do Conselho. Residência bandeirista urbana da segunda metade do século XVII, na qual, presume-se, residiu o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva — o Anhangüera. É uma edificação típica das construções do século XVII, representando a tradição urbana das primitivas moradas paulistas, que mantêm até hoje seu estilo original. Foi transformada no Museu Histórico e Pedagógico Casa do Anhangüera.

Santana de Parnaíba preserva seu patrimônio histórico. Com suas construções coloniais, a cidade concentra um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos do estado, com 209 edificações tombadas.

Veja:
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