A aquisição informal de alimentos e bens necessários
não aparece nos dados oficiais. A idéia de milhões de famintos e pessoas abaixo
da linha de pobreza no Brasil, soa falso. De vez em quando a realidade aflora e
mostra que o número de gordos é incomparavelmente maior que o de magros.
O fato se passou no tempo
em que os impostos eram lançados segundo
as aparências. O fiscal percorria as ruas do pequeno município e olhava a
fachada das casas. Se estivessem recém pintadas, bem arrumadas, com enfeites, o
imposto lançado era alto. Mais alto ainda se o dono da casa se vestisse bem,
com requinte. O cidadão de aparência pobre pagava pouco; se fosse maltrapilho,
nada.
Naquele dia, ao final de
seu trabalho, o fiscal estava
cansado. O casario percorrido não
era numeroso, mas as ladeiras eram íngremes e ele estava de língua de fora. Já
no limite entre a cidade e o campo, só tinha diante de si uma casa, melhor se
diria uma choça, caindo aos pedaços, onde pedir um copo de água. Já passara
anteriormente por ela, e fizera o propósito de sugerir ao prefeito que ajudasse
seus moradores, pois certamente estavam passando fome. Espiara pelo vidro
quebrado da janela: dentro, tudo desmoronava. As roupas das crianças eram de
fazer dó. Tratava-se de um grave problema social no município.
Bateu na porta, que se
abriu espontaneamente ao seu toque. Atendido cordialmente por um moçoilo,
sentou-se numa cadeira que ameaçava desabar. Enquanto o rapaz ia buscar a
água, notou uma porta fechada,
certamente a única toilette
da casa. Dirigiu-se a ela e a abriu. Surpresa surpreendente! Não era uma toilette. Caixas
de moedas estrangeiras pelo chão, disputavam o lugar com barras de ouro e
pacotes de dólares. Estava na casa de um avarento!
Dados oficiais enganam
Hoje em dia, a pobreza não
é mais medida pelas aparências. Estamos num mundo evoluído e temos dados
oficiais. As aparências não enganam mais ninguém. Mas... os dados oficiais
enganam. De comum entre a historieta acima e a realidade atual temos o fato de
que, quanto mais um governo socialista carrega nos impostos -- seja a pretexto
de fazer obras sociais, seja de buscar uma igualdade quimérica -- mais a
população se esgueira e procura tirar o corpo. A realidade é que grande parte
vive de bens não alcançáveis pelas estatísticas oficiais. A informalidade
vai-se tornando a regra.
De modo que, falar em
milhões de famintos no Brasil e outros tantos milhões de pessoas colocadas
abaixo da linha de pobreza, soa falso. De vez em quando a realidade aflora, como
no caso do fiscal que abriu a porta errada.
Pobres, mas bem alimentados
Vejam-se estes dados:
“Uma parcela significativa
dos alimentos na área rural do Brasil não é obtida com dinheiro, cartão de
crédito ou cheque. É adquirida por meio de produção própria,
doações, extrativismo, o que garante o acesso a importantes alimentos,
como leite fresco, peixes, ovos, carne suína, frutas e hortaliças (...)
“Essas
aquisições são chamadas de não monetárias pelo IBGE, ou seja, sem uso de moeda
ou outra representação de dinheiro. Alguns exemplos na área rural são
representativos. No caso do leite fresco, 86% da aquisição se dá por meio de
produção própria ou doação. A média de consumo do produto na área rural é de
50,029 litros ao ano, dos quais de 43,884 são adquiridos de forma não
monetária.
“Em relação à aquisição sem
dinheiro de leite e creme de leite, na Região Norte predomina a produção
própria (64,7% do total), enquanto na Região Sudeste prevalece a doação (47,8%).
“Outros
exemplos na obtenção não monetária são carne suína e ovos, na qual a produção
própria responde por 77% e 74% do consumo respectivamente. Isso ocorre porque
na área rural são maiores as chances da produção própria ou de extração de
alimentos da natureza.
Número de gordos ganha de longe dos magros
Há muito mais gordos do que
magros no Brasil. “Contrariamente à idéia bastante alardeada, mesmo dentro do
governo federal, a fome não é mais um problema relevante para a grande maioria
dos brasileiros adultos. Ela está circunscrita a um segmento minoritário (...).
O mais grave agora, na população com 20 anos ou mais, é o excesso de peso.
Dados da 2ª etapa da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revelam que o
excesso de peso atinge 40,6% da população adulta, ou 38,8 milhões de
brasileiros. Desses, 10,5 milhões são obesos (8,9% dos homens e 13,1% das
mulheres). Só 4% da população
apresenta déficit de peso” (cfr. “Folha de S. Paulo, 17-1204).