Número de gordos ultrapassa de longe o de magros


17/12/2004

Era o tempo em que os impostos eram lançados segundo as aparências

A aquisição informal de alimentos e bens necessários não aparece nos dados oficiais. A idéia de milhões de famintos e pessoas abaixo da linha de pobreza no Brasil, soa falso. De vez em quando a realidade aflora e mostra que o número de gordos é incomparavelmente maior que o de magros.

O fato se passou no tempo em que os impostos eram lançados  segundo as aparências. O fiscal percorria as ruas do pequeno município e olhava a fachada das casas. Se estivessem recém pintadas, bem arrumadas, com enfeites, o imposto lançado era alto. Mais alto ainda se o dono da casa se vestisse bem, com requinte. O cidadão de aparência pobre pagava pouco; se fosse maltrapilho, nada.

Naquele dia, ao final de seu trabalho, o fiscal estava  cansado.  O casario percorrido não era numeroso, mas as ladeiras eram íngremes e ele estava de língua de fora. Já no limite entre a cidade e o campo, só tinha diante de si uma casa, melhor se diria uma choça, caindo aos pedaços, onde pedir um copo de água. Já passara anteriormente por ela, e fizera o propósito de sugerir ao prefeito que ajudasse seus moradores, pois certamente estavam passando fome. Espiara pelo vidro quebrado da janela: dentro, tudo desmoronava. As roupas das crianças eram de fazer dó. Tratava-se de um grave problema social no município.

Bateu na porta, que se abriu espontaneamente ao seu toque. Atendido cordialmente por um moçoilo, sentou-se numa cadeira que ameaçava desabar. Enquanto o rapaz ia buscar a água,  notou uma porta fechada, certamente a única toilette da casa. Dirigiu-se a ela e a abriu. Surpresa surpreendente! Não era uma toilette. Caixas de moedas estrangeiras pelo chão, disputavam o lugar com barras de ouro e pacotes de dólares. Estava na casa de um avarento!

Dados oficiais enganam

Hoje em dia, a pobreza não é mais medida pelas aparências. Estamos num mundo evoluído e temos dados oficiais. As aparências não enganam mais ninguém. Mas... os dados oficiais enganam. De comum entre a historieta acima e a realidade atual temos o fato de que, quanto mais um governo socialista carrega nos impostos -- seja a pretexto de fazer obras sociais, seja de buscar uma igualdade quimérica -- mais a população se esgueira e procura tirar o corpo. A realidade é que grande parte vive de bens não alcançáveis pelas estatísticas oficiais. A informalidade vai-se tornando a regra.

De modo que, falar em milhões de famintos no Brasil e outros tantos milhões de pessoas colocadas abaixo da linha de pobreza, soa falso. De vez em quando a realidade aflora, como no caso do fiscal que abriu a porta errada.

Pobres, mas bem alimentados

Vejam-se estes dados:

“Uma parcela significativa dos alimentos na área rural do Brasil não é obtida com dinheiro, cartão de crédito ou cheque. É adquirida por meio de produção própria, doações, extrativismo, o que garante o acesso a importantes alimentos, como leite fresco, peixes, ovos, carne suína, frutas e hortaliças (...)

“Essas aquisições são chamadas de não monetárias pelo IBGE, ou seja, sem uso de moeda ou outra representação de dinheiro. Alguns exemplos na área rural são representativos. No caso do leite fresco, 86% da aquisição se dá por meio de produção própria ou doação. A média de consumo do produto na área rural é de 50,029 litros ao ano, dos quais de 43,884 são adquiridos de forma não monetária.

“Em relação à aquisição sem dinheiro de leite e creme de leite, na Região Norte predomina a produção própria (64,7% do total), enquanto na Região Sudeste prevalece a doação (47,8%).

“Outros exemplos na obtenção não monetária são carne suína e ovos, na qual a produção própria responde por 77% e 74% do consumo respectivamente. Isso ocorre porque na área rural são maiores as chances da produção própria ou de extração de alimentos da natureza.

Número de gordos ganha de longe dos magros

Há muito mais gordos do que magros no Brasil. “Contrariamente à idéia bastante alardeada, mesmo dentro do governo federal, a fome não é mais um problema relevante para a grande maioria dos brasileiros adultos. Ela está circunscrita a um segmento minoritário (...). O mais grave agora, na população com 20 anos ou mais, é o excesso de peso. Dados da 2ª etapa da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revelam que o excesso de peso atinge 40,6% da população adulta, ou 38,8 milhões de brasileiros. Desses, 10,5 milhões são obesos (8,9% dos homens e 13,1% das mulheres). Só 4% da população apresenta déficit de peso” (cfr. “Folha de S. Paulo, 17-1204).

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