2004 Expansão do caos e vitórias conservadoras


18/01/2005

Luís Dufaur

Família debilitada pela desagregação moral


Manifestação em prol do combate à AIDS, em São Paulo

A família foi profundamente vulnerada. O ministro da Saúde e a prefeita paulista lançaram um programa de educação sexual municipal. Eles mesmos ficaram constrangidos pela crueza da simulação de ato sexual representado por estudantes na aula inaugural.(28)

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou um pacote de mudanças no Código Penal que põe fim à punição do adultério, dos crimes de sedução e rapto consensual e tirou do Código Civil a expressão “mulher honesta”.(29) Outro projeto “eleva a prostituição, feminina e masculina, à categoria de profissão dos ‘trabalhadores da sexualidade’; [...] [incluindo] strippers, dançarinos que se exibem nus ou seminus, garçons e garçonetes que trabalham de forma a despertar a libido de terceiros, e gerentes de prostíbulos”.(30) 75 mil brasileiras se prostituem no exterior, segundo a Organização Internacional de Migrações.(31)

O Brasil ocupou o 4º lugar no ranking da pedofilia na Internet, com 17.016 sites. Em maio, o Disque-Denúncia federal ultrapassou 6 mil denúncias anuais de violência sexual contra crianças e adolescentes. O aborto por anencefalia vigorou por alguns meses. Em dezembro, o governo lançou debate tendente a conduzir à sua legalização civil (o aborto é punido com excomunhão pelo Código Canônico).

Em São Paulo, a prefeita petista entregou a primeira pensão a uma lésbica a título de companheira.(32) Em Curitiba, um cartório registrou por primeira vez um “casamento” homossexual.(33) No Rio Grande do Sul, decisão judicial permitiu essas uniões,(34) e no Distrito Federal outro tribunal entregou uma criança em custódia a um travesti.(35)

Houve Paradas do Orgulho Homossexual em São Paulo e no Rio. Em Brasília, o presidente Lula elogiou em carta tais eventos, por darem visibilidade aos homossexuais, bissexuais e transgêneros, os quais, segundo ele, “por muitos séculos não puderam se expor, muito menos reivindicar seus direitos”.(36)

Na América Latina, o Brasil liderou a dramática estatística de Aids da ONU, com 80.000 contágios e mais de 30.000 mortes num ano. A Organização Internacional do Trabalho alertou que o Brasil pode perder 1,2 milhão de trabalhadores até 2015 por causa da doença. Mas o diretor mundial da Onusida (o programa da ONU sobre HIV e Aids), Peter Piot, saiu satisfeito com o País. Triste satisfação... Obteve adesão do presidente Lula e julgou ter recebido apoio do secretário-geral da CNBB, D. Odilo Scherer, para convencer outros episcopados latino-americanos a não obstarem as campanhas de difusão de preservativos.(37)

IlussaoIlusão: liderança de países “pobres” X países “ricos”

 


O presidente Kirchner e o Pres. Lula: dificuldades no Mercosul

A diplomacia do governo Lula visou liderar uma frente de países “pobres” contra os “ricos” — ou do “sul” contra o “norte”. O presidente visitou a China vermelha, sem dizer uma palavra em defesa dos direitos religiosos e humanos violados escancaradamente naquele país marxista.(38) Pouco depois, o regime de Pequim suspendeu as importações de grãos produzidos no Brasil, causando prejuízo de 1 bilhão de dólares. Apesar de múltiplos danos comerciais, o governo reconheceu a China comunista como “economia de mercado”;(39) deu ao Vietnã marxista o “status de nação mais favorecida na OMC” ; (40) fez concessões unilaterais à Argentina(41) e perdoou a dívida de países como o Gabão — que tem um PIB per capita superior ao do Brasil —, Moçambique, Cabo Verde e Bolívia. Tudo em aras à aliança dos países pobres!

Em agosto, o Itamaraty tentou criar um Grupo de Amigos de Cuba, para favorecer a ditadura cubana.(42) Em dezembro, o presidente Lula liderou a fundação de uma Comunidade Sul-americana de Nações. Essa iniciativa recebeu epítetos como “geopolítica fantástica”, “aventura infeliz”, “fiasco” e “sintoma do isolamento diplomático do Brasil”.(43)

Rumo ao objetivo: Leviatã socialo-castrista

Em 2004 o Legislativo gastou a maior parte do seu tempo votando Medidas Provisórias da Presidência, e o Brasil passou a ter como ministros dois membros de um partido comunista (PC do B), que não renegaram seu passado marxista.

O pensador socialista francês François Chesnais veio ao País para proclamar: “Se houvesse uma mudança política como a que ocorreu em Cuba nos anos 60, o novo sistema seria invencível”.(44) Nessa hora, a ocupação dos organismos do Estado por afiliados do PT — ou aparelhamento — já era sistemática, crescendo os temores da eternização do PT no poder.(45)

O favorecimento do PT e aliados na distribuição de verbas acelerou-se nas vésperas das eleições municipais. Entre março de 2003 e junho de 2004, 91,1% dos empréstimos municipais do BNDES destinaram-se a prefeituras petistas.(46) O PT também coletou milhões provenientes de uma porcentagem sobre os salários de militantes beneficiados pelo aparelhamento.(47)

Multiplicaram-se os projetos visando controlar parlamentares e membros do Ministério Público, da Justiça, da imprensa, da cultura, da Internet e dos telefones, delineando-se um “dirigismo cultural” no estilo soviético ou cubano, “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante”.(48) “Mordaça”, “escutas celulares”, sigilos rompidos, chantagens a empresários e políticos com base em dados obtidos em CPI, foram lugares comuns do noticiário político.

Eleições municipais e o comuno-progressismo

O presidente da CNBB, D. Geraldo Majella Agnelo, “tradicional aliado do PT”,(49) criticou líderes protestantes que promoviam seus candidatos, em geral não-petistas. Entretanto, D. Pedro Luiz Stringhini (bispo auxiliar de São Paulo) e o padre Renato animaram o palanque da candidata Marta Suplicy;(50) em Minas, grande número de sacerdotes disputou prefeituras pelo PT; e o bispo de Quixadá (CE), quando processado pelo PT, respondeu: “Nunca vi o bispo Morelli e o Frei Betto serem condenados porque apóiam o PT em nível nacional”.(51)


Frei Betto coloca na cabeça boné do MST na comemoração dos 20 anos do movimento

A instrumentalização do poder público e a demonstração de poder econômico do PT na campanha das eleições municipais alcançaram proporções espantosas. Em São Paulo, um quinto dos eleitores foi visitado em sua residência por propagandistas pagos pelo PT. E o presidente Lula foi multado em R$ 50 mil por fazer propaganda indevida em favor da candidata petista à reeleição do município de São Paulo.(52)

Assim, pouco antes das eleições, a determinação do PT para instalar um sistema à cubana era notória.

Oo   Brasil diz não à escalada comuno-progressista...

Apesar de todo esse empenho petista, o Brasil calmo e pacato não se deixou levar pela propaganda do partido nas eleições municipais, propiciando uma inesperada surra aos seus candidatos.

O PT perdeu as prefeituras de grande representatividade política e simbólica, como São Paulo, Porto Alegre e Curitiba; no Rio Grande do Sul, Pelotas e Caxias do Sul; São Bernardo e Santo André na periferia paulista; Ribeirão Preto e Campinas. “O Brasil que sai das urnas é melhor que a ficção cosmetizada pela máquina de enganação das massas. O bom senso inspirou a decisão”.(53)

Apenas um quinto dos candidatos petistas foi eleito; a meta de ganhar mil prefeituras foi frustrada, devendo o partido contentar-se com apenas 7,5% dos municípios; a rejeição da classe média irradiou-se pelo eleitorado das periferias urbanas. O resultado foi decepcionante para o PT em sete Estados do Norte e do Nordeste. Até o município de Guaribas — ponto de partida do Fome Zero — recusou o candidato petista. Genoíno, presidente do partido, reconheceu: “Há resistências, porque somos um partido de esquerda”.(54)

O fiasco desencadeou pugna interna no PT. Foram defenestrados ministros e altos funcionários, especialmente da área social. O governo tentou distanciar-se da esquerda católica. Mas qual é a autenticidade desse afastamento se Frei Betto, um dos sacrificados, afirma com farto conhecimento que “Lula é fruto do movimento popular. Sem as CEBs, o MST, a CUT, a Central dos Movimentos Populares e outros movimentos não haveria o Lula presidente”.(55)

... embora prossiga a descatolicização do País


O dep. petista (direita) Luiz Bassuma afirmou falar como possuído por um espírito

E enquanto bispos e sacerdotes da esquerda católica impulsionavam as revoluções agrária, indigenista e urbana, progredia a descatolicização do País. As primeiras universidades budista, umbandista e islâmica abriram as suas portas em São Paulo. No Rio, iniciou-se a construção, com patrocínio oficial, do primeiro santuário ecológico-panteísta ecumênico.

Em Brasília, o Conselho Nacional Antidrogas aprovou o consumo do alucinógeno ayahuasca, usado em cultos indígeno-esotéricos. O Congresso Nacional celebrou ainda sessão solene em louvor do fundador do espiritismo. Nela, o deputado petista Luiz Bassuma passou a falar e a agir no pódio como possuído por um espírito.(56)

Reações esperançosas do Brasil autêntico

No transcurso de 2004, ocorreu no País uma reatividade nos meios conservadores, sobretudo em questões morais. Assim, por exemplo, o divórcio da prefeita de S. Paulo, seguido de nova união, representou um fator importante para sua derrota eleitoral.(57) Pesou negativamente também seu apoio às questões homossexuais.

Mal ou nada representados na mídia, ausentes da política, largos setores do Brasil não participavam da ciranda esquerdizante. Trabalhavam e produziam, salvando a nação da degringolada econômica. Na dianteira, o agronegócio, que até novembro proporcionou ao País 36,037 bilhões de dólares em exportações; gerou centenas de milhares de novos empregos, impulsionou a indústria associada e a prosperidade das cidades ligadas à lavoura.

A infra-estrutura nacional está quase abandonada. Mas em Mato Grosso, 42 consórcios de produtores rurais começaram a construir 3,2 mil quilômetros de rodovias. Agricultores americanos vieram ao Brasil para aprender o pulo do gato. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o Brasil virou uma superpotência agrícola que deve ser tratada como país rico.

Eis no Brasil o grande contraste de tendências que marcaram 2004: a dos grupos que rumaram para o caos comunistizante; e a de enormes setores que aspiram por ordem, trabalho, dignidade, moral, família, propriedade.

Nas eleições municipais, estes últimos deram uma soberana lição aos primeiros. Mas terão estes aprendido? Ou tentarão uma loucura como o já anunciado “2005 vermelho”? Acompanhemos com toda atenção o ano que começa.

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