Redes
organizadas exercem ação pró-aborto
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Manifestantes ostentam
cartazes abortistas em manifestação pró-aborto nos EUA
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É um
erro pensar que uma tal avalanche de pecados obedece apenas ao dinamismo
puramente espontâneo de uma sociedade corrompida. Pelo contrário, é notória
a existência de um imenso movimento pró-aborto, presente em todos os países,
que se dedica a promover a legalização e a prática do aborto. Já em 1914,
a revista feminista “The Woman Rebel”, declarava que “o aborto, praticado
por profissional experiente nas melhores condições de higiene, passará brevemente
a ser encarado como útil, necessário e humano, mesmo que a mulher o solicite
pela simples razão de não desejar ter um filho, ou porque não é do seu
agrado tornar-se mãe”. Outro artigo afirmava: “Se uma mulher quer
ser efetivamente livre, deve tornar-se absolutamente senhora do seu próprio
corpo. Deve reconhecer seu direito absoluto [...] de suprimir o germe da
vida”. Tais pontos de vista estavam muito longe de ser predominantes
na vida americana em 1914.
São
incontáveis as organizações públicas e privadas no mundo inteiro que se
dedicam a promover o aborto: NARAL, PP (Planned Parenthood), BEMFAM
(ramo brasileiro do Planned Parenthood), numerosas ONGs, etc. Constituem
uma rede organizada, influente, dispondo de imensos recursos financeiros
e midiáticos.
Anti-abortismo:
causa eminentemente católica
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Nos Estados Unidos existe
uma intensa polarização a respeito do aborto. Na foto, a monumental
Marcha Pela Vida, em Washington
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O
aborto, mais que o divórcio, é uma realidade quotidiana na sociedade contemporânea.
Por ser menos “visível”, alguns podem pensar que é menor seu impacto na
modificação dos valores morais que fundamentam a vida da família. Mas se
as aparências se mantêm um pouco, devido ao segredo que normalmente cerca
o aborto, a destruição moral que provoca na sociedade como um todo não é menor
que a do divórcio. Pelo contrário, é ainda maior, pelo caráter homicida
e monstruosamente antinatural que o caracteriza, implicando um estado de
alma de desprezo pela vida dos próprios filhos, que são a razão essencial
e primeira da família.
A
maioria que se opõe ao aborto sente-se impotente e confusa ante o estrondo
e a violência da ofensiva abortista em sua campanha de desinformação, através
dos meios de comunicação, ocultando os dados mais essenciais do debate.
Argumentos sentimentais a favor do aborto — sofrimento psíquico da mulher
grávida que não deseja seu filho, direito da mulher ao seu próprio corpo
— ocupam ampla e ruidosamente o espaço da mídia.
Do
lado da defesa da vida do nascituro, os meios de comunicação só permitem
divulgar alguns argumentos — verdadeiros e até fundamentais, mas insuficientes
para motivar as pessoas — como, por exemplo, o direito natural à vida que
o feto tem desde a concepção. Muitas verdades como estas são deliberadamente
ocultadas à opinião pública por uma estrita campanha de silêncio. Por exemplo,
a extrema crueldade que é a realidade concreta de um aborto; os graves
perigos físicos e psíquicos que correm as mulheres que abortam.
Mas
sobretudo se silencia o pecado gravíssimo que significa negar ao filho
concebido a vida sobrenatural, além da vida temporal, deixando-o morrer
sem administrar-lhe o Sacramento do Batismo. Pois ninguém deve ter a ilusão
de que nos ambientes onde se pratica o aborto criminoso seja fácil encontrar
quem aceite batizar o feto que está sendo brutalmente assassinado.
Esta é uma
das principais razões pelas quais a causa anti-aborto é eminentemente católica.
As
leis anti-abortistas promulgadas nos EUA no século XIX foram na realidade
iniciativa da sociedade civil. Isso se deveu ao ambiente anticatólico que
predominava naquela época. Mas, quando o crescimento do número e influência
dos católicos no país obrigou certos setores a moderar sua atitude hostil,
os católicos tornaram-se a ponta-de-lança da luta contra o aborto. Embora
existam em muitos países numerosos movimentos não-católicos contrários
ao aborto, a causa anti-aborto é principalmente católica.
Coerência doutrinária ao longo dos
séculos
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Anti-abortistas protestam
diante dos escritórios da Planned Parenthood na Flórida (EUA)
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A
razão disso é que a doutrina católica, de modo mais coerente e estável
ao longo dos séculos, com coragem e sem jamais ceder em um único ponto,
enfrentou a incompreensão e a hostilidade do mundo, defendendo os direitos
de Deus, do nascituro, da família e da sociedade contra os efeitos demolidores
do aborto. Tertuliano, na sua Apologia do Cristianismo, escrita
no ano 197, afirma que a Igreja católica sempre condenou o aborto. Os pagãos,
então incitados pelos judeus, acusavam os cristãos de vários tipos de crimes,
entre os quais a infâmia de que na Santa Missa os cristãos sacrificavam
e comiam criancinhas. Tertuliano responde: “São os pagãos, e não os
cristãos, que matam seus filhos em cerimônias religiosas. A nós cristãos,
o homicídio é absolutamente proibido. Não é permitido destruir a criatura
concebida no útero materno. É uma antecipação do homicídio impedir o nascimento,
não importa se o que se está matando é uma alma já plena ou uma que está nascendo.
Já é um homem o que está tornando-se tal, todo fruto já está na semente”.
Os
promotores do aborto têm alegado que os católicos não têm direito de impor
aos que não têm fé suas crenças baseadas na fé. Os católicos teriam uma
atitude preconceituosa. Sua posição seria própria de fanáticos. Nada mais
falso.
Quando
os católicos se opõem ao aborto, o fazem baseados também em dados científicos,
os quais mostram a falsidade e a nocividade, sem qualquer sombra de dúvida,
dos argumentos pró-aborto. A medicina e a higiene são ciências naturais
e servem-se de meios naturais de investigação. Mais ainda, sendo o homem
o sujeito da medicina e da higiene, composto tanto de matéria quanto de
espírito, essas ciências têm um conteúdo ético e moral, e na sua aplicação
prática devem sujeitar-se às regras que lhe são intrínsecas.
A ética é o
estudo e a prática da lei moral, como se deduzem lógica e racionalmente
do estudo da natureza das coisas, isto é, da Lei natural. A moral é o estudo
e a prática da lei fundada na Revelação. A harmonia e a concordância que
existem entre ambas são tais, que não existe nem pode existir oposição
entre a ciência médica e a moral católica. Quando o católico defende com
vigor as leis divinas, não está impondo arbitrariamente uma crença pessoal,
mas exigindo que a justiça, a verdade, a santidade da vida humana sejam
protegidas e postas em prática. O aborto é, portanto, um crime não só para
um católico, mas também para todo ser humano. E ninguém tem direito de
praticar um crime por considerar individualmente que tal ato não é crime.
Desejo
dos abortistas: não levantar
a questão moral
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“Católicas” pró-legalização
do aborto. O Brasil, segundo estatísticas, é o País com a maior
ocorrência de abortos no mundo
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O
Governo federal, a princípio, determinou ao grupo que discutirá a descriminalização
do aborto não colocar em questão a moralidade da prática, e sim seu efeito
sobre a saúde pública. Com isso, os setores envolvidos com o assunto pretendem
minimizar a pressão de grupos religiosos, notadamente a Igreja Católica,
contra a legalização do aborto”.(10) Os ativistas pró-aborto sabem que
o tema desagrada à maioria, e que seu movimento é minoritário. Mas levantar
o espectro do poder dos católicos como ameaça às liberdades civis, procura
ser uma bandeira que congregue maior número de adesões na opinião pública.(11)
Tendo,
assim, inicialmente excluído a participação de organismos religiosos na
comissão que reverá a legislação do aborto, o Governo recuou posteriormente,
e incluiu nessa comissão o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC),
que engloba, além da CNBB, mais seis confissões religiosas: a chamada igreja
cristã reformada, a episcopal anglicana, a evangélica de confissão luterana,
a metodista, a presbiteriana e a ortodoxa (cismática).
A
tendência de não incluir na temática a imprescindível questão moral corresponde à orientação,
por exemplo, da NARAL (National Abortion and Reproductive Right Action
League), a mais importante organização pró-aborto nos EUA. Seu presidente
Lawrence J. Lader pertence à linha “ecológica”, que considera a presença
do homem uma ameaça ao equilíbrio ecológico do mundo. Nos anos 1930-40,
envolveu-se com o movimento Crescimento Populacional Zero, e em
1971 escreveu a obra Breeding Ourselves to Death (Reproduzindo-nos
para a morte). A idéia de Lader e de NARAL é não enfocar o debate diretamente
na questão do aborto.
Além de vítimas de homicídios, privados
da visão beatifica
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Além de serem privadas
da vida, as crianças abortadas sem o batismo, sobretudo ficam
privadas da visão beatífica
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Há um
dado essencial, na polêmica sobre o aborto, que é cuidadosamente silenciado
pelos meios de comunicação: o fim último do homem.
Todo
ser humano tem uma alma imortal, sendo seu fim transcendente Deus. As relações
de cada alma com Deus são um mistério que paira absolutamente acima do
desenvolvimento mais ou menos perfeito de sua sensibilidade, e mesmo de
sua inteligência. Essas relações começam já quando a criança está sendo
formada no seio materno. Deus disse a Jeremias: “Antes que saísses do
seio materno, Eu te consagrei” (Jer 1,4). Também Isaías exclama: “Atendei, ó povos
distantes! Yavé me chamou desde antes do meu nascimento, desde o seio de
minha mãe me chamou por meu nome” (Is 49,1).
Ensina
a Igreja Católica, depositária da Verdade revelada, que as crianças que
morrem sem o batismo não podem alcançar a visão beatífica. Ainda que não
tenham sequer aberto os olhos à vida, e conseqüentemente não tenham cometido
qualquer pecado atual. O III Catecismo da Doutrina Cristã é claro
quanto a esse ponto: “567 – É necessário o batismo para salvar-se? R:
O batismo é absolutamente necessário para salvar-se, tendo dito expressamente
o Senhor: quem não renascer na água e no Espírito Santo não poderá entrar
no reino dos Céus”.(12)
Anencefalia, atual “cavalo de batalha”
dos abortistas
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O
significado literal de “anencefálico” é “sem cérebro”. Mas
o termo não é apropriado, porque as crianças com esse defeito congênito
têm uma parte do sistema nervoso central, que lhes permite manter o coração,
os pulmões, rins e fígado funcionando. A criança anencefálica não pode
ver, ouvir, nem mesmo sentir. Também não pode pensar, pelo menos no sentido
comum da palavra. Por tudo isso, afirmam alguns que são “mentalmente
mortos”; outros consideram o anencefálico um “sub-humano”, e
chegam a afirmar que a criatura assim concebida no seio materno é inferior
a um “macaco saudável”.(13)
Atualmente
a ofensiva midiático-legislativa para impor uma ampliação dos casos de
aborto legal é centrada em torno do tema da interrupção da gravidez nos
casos de diagnóstico de anencefalia.
Coloca-se
assim uma questão especialmente delicada para as consciências católicas.
Com efeito, encontrarão na sua luta contra essa lei “aliados” que de fato
não o são. Trata-se de um importante setor do ambiente médico que propugna
que a gravidez de tais fetos seja levada a termo, e que nasçam vivos para
se poder imediatamente arrancar-lhes os órgãos vitais (coração, pulmão,
fígado, rins) com fins de transplante para outras crianças doentes.
Médicos, mas também
inescrupulosos e algozes
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Os órgãos
da criança que assim nascesse, graças aos bons ofícios desses comerciantes
da vida, seriam coletados como se o recém-nascido fosse uma espécie de “granja
de órgãos”, não uma vida humana com um fim natural e sobrenatural,
a ser respeitado acima de tudo.
Existe
uma forte pressão desses setores para que sejam modificados os critérios éticos
e legais que impedem retirar os órgãos vitais da criança anencefálica ainda
viva. Nos EUA, por exemplo, o Conselho de assuntos éticos e jurídicos havia
estudado, em 1988, os aspectos éticos do uso de órgãos dos neonatos anencefálicos,
concluindo ser eticamente aceitável retirar órgãos dos anencefálicos só depois
de mortos. Em 1994, depois de um ano de discussão, o Conselho mudou sua
posição e decidiu que “é eticamente aceitável retirar órgãos vitais
de anencefálicos ainda antes da sua morte”.
Como
a lei atual considera que a morte ocorre quando se produz a parada cardíaca
ou o desaparecimento de toda função cerebral (eletroencefalograma “chato”),
coloca-se para eles o problema de que o recém-nascido vivo anencefálico
tem atividade cerebral e seu coração ainda bate. É necessário, portanto,
que a lei “abra uma exceção” e permita a retirada dos órgãos de
uma criança ainda viva.
O
leitor pode facilmente ver as desconfianças que desperta essa corrente,
pois a conclusão imediata do público ante essa proposta tem sido a pergunta óbvia:
se a regra “doador morto” é violada uma primeira vez, quais serão
as vítimas da próxima tenebrosa “exceção”? Crianças com outras doenças
graves, velhos que não podem valer-se por si mesmos, qualquer indivíduo
em “estado vegetativo” prolongado?