Radiografia da marcha dos sem-terra
24/05/2005
Plínio Vidigal Xavier da Silveira
A
marcha do MST rumo
a Brasília foi muito mediatizada, mas não
empolgou ninguém e o “show” caiu no vazio. Uma gastança
do dinheiro público e a promessa de mais terras aos desocupados.
A marcha dos sem-terra chegou a Brasília e, na data marcada por seus
líderes, 17 de maio, o presidente Lula os recebeu durante três
horas, acompanhado de quatro ministros e do presidente do INCRA. Lula apressou-se
em colocar na cabeça o boné dos invasores.
À
marcha foram "incorporados" habitantes de periferias urbanas, que
jamais haviam tido qualquer experiência no trato com a terra. Também
apareceu como um de seus representantes o bispo D. Tomás Balduíno.
O que tem ele a ver com os sem-terra? Oficialmente nada. Como presidente da
CPT, seria normal que ele representasse a CNBB, não o MST. Entretanto,
ninguém se surpreendeu com a presença do Prelado, pois brasileiramente
todo mundo sabe que quem está por detrás do MST é a esquerda
católica. O MST não seria nada se não fossem os bispos,
padres e freiras (100 delas marchavam) que o impulsionam. A CNBB deu total
apoio à marcha.
A caminhada de Goiânia a Brasília, entremeada de doutrinação
marxista e invasões de propriedades alheias, foi um acontecimento mediático.
Fotos, reportagens, entrevistas, não houve estardalhaço que a
mídia não fizesse para tentar obter da população
interesse pelo acontecimento.
Brasília - Entrevista do monge Marcelo Barros no acampamento do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no estacionamento do estádio
Mané Garrincha. Foto: Valter Campanato/ABr.
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Confissão do fracasso
Mesmo assim, informa o “Jornal do Brasil” (17-5-05), “o MST
não tem conseguido mobilizar a população em torno da reforma
agrária”. A coordenadora nacional do MST, Marina dos Santos,
afirmou que está se “tornando cada vez mais difícil a mobilização: — Há poucas
categorias se mobilizando e o MST não consegue chamar as categorias — reconhece
Marina”.
Mas se a população, de modo geral, está contra o MST,
isso significa que a marcha por ele realizada não tem importância?
Longe disso. Não só ele tem apoio de forças muito poderosas,
como a “esquerda católica” e grande número de políticos
(o senador Suplicy, por exemplo, engajou-se na marcha), como consegue dinheiro
com facilidade. O governo de Goiás e diversas prefeituras investiram
grosso. O gasto foi de pelo menos R$ 5,5 milhões.
Adestramento paramilitar
Brasília - Polícia Militar dispersa manifestação
dos Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), na Esplanalda dos Ministérios.
Foto: Valter
Campanato/ABr |
A marcha constituiu ademais um treinamento de estilo militar.
Caminhadas, hierarquia rígida, obediência estrita, regras apertadas. Toda essa militarização
causa preocupação.
Tanto mais que os sem-terra não se furtaram, em Brasília, em
agredir a Polícia Militar e provocar um confronto na Esplanada que quase
vira batalha campal. Saíram feridos 18 polícias (quatro deles
com gravidade) e 32 sem-terra, com ferimentos leves. Já antes disso,
os manifestantes provocaram um tumulto diante do Palácio do Planalto,
furando à força o cordão policial que protegia o edifício.
Não ficou claro se tais conflitos foram provocados para dar maior visibilidade à marcha,
que estava causando pouco interesse na população, ou se foi a
irrefreável agressividade do MST que entrou em cena. De qualquer modo,
estamos diante de um movimento violento.
Pacto de mais desapropriações
Foto:
José Cruz/ABr |
No encontro no Palácio do Planalto, Lula avaliou que a atuação
do MST é "correta". O governo garantiu que vai liberar os
recursos necessários para cumprir metas de assentamento e reafirmou
o compromisso de enviar mensalmente ainda mais cestas básicas às
famílias acampadas.
O mais preocupante é que o governo prometeu ao MST a atualização
do índice de produtividade das propriedades rurais nas próximas
semanas. Tal atualização ameaça desarticular a estrutura
de produção que sustenta as exportações agrícolas
brasileiras. Passarão a ser qualificadas como “improdutivas”,
com uma penada, propriedades até agora consideradas “produtivas”.
E com isso ficarão sujeitas a ser desapropriadas, através da
Reforma Agrária, para serem entregues aos sequazes do MST, que certamente
se encarregarão de transformar tais terras em novas favelas rurais.
Ceder para nao perder?
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, está dando mostras de
fraqueza na defesa dos produtores rurais e já fala em ceder um tanto.
Acusa os atuais índices de serem “antigos e superados” e
acena para o fato de a Reforma Agrária exigir mais desapropriações.
É
o que informa o jornal “O Estado de S. Paulo” (20-5-05): “Rodrigues
disse que o governo estuda mudar os índices de produtividade, pois os
atuais são muito antigos e superados. Quando a proposta surgiu, causou
irritação entre produtores rurais e o ministro anunciou sua discordância
publicamente. Ontem, no entanto, ele preferiu discurso mais vago. ‘Faço
parte do governo que defende a reforma agrária e é a favor de
que isso aconteça. Estamos lutando nessa mesma direção’,
afirmou”.
Resta saber se os produtores rurais estão dispostos a embarcar nessa
canoa do ministro da Agricultura, ou se, pelo contrário, dar-se-ão
conta de que o pior mal não está nos sem-terra, mas sim numa
Reforma Agrária socialista e confiscatória, que é insaciável
e quer demolir o agronegócio e toda agropecuária nacional, para
fazer do Brasil um novo Zimbábue.
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