Nossa Senhora e o valor da oração
14/06/2005
Valdis Grinsteins
Numerosas
pessoas não entendem o imenso valor da oração.
Mas, quando bem feita e em conformidade com a vontade de Deus, tem um valor
que toca o infinito
“
Rezei e nada consegui! Até que rezei mesmo, mas não fui atendida!
Se tivesse trabalhado, em vez de rezar, teria utilizado melhor o tempo!”
Desabafos do gênero, ouvi algumas vezes durante a vida, mas este caso
concreto era mais grave. A senhora que assim se exprimia era piedosa, mas
com formação religiosa muito deficiente, transpondo a mentalidade
comercial ao campo religioso: “Eu dei X de oração. Por
que Nossa Senhora não deu X de resposta ao meu pedido?” Assim
formulado, Nossa Senhora seria a injusta, e ela a prejudicada da história.
Mas, tendo enveredado pelo caminho do desabafo, nada detinha essa mulher: “E
com Nosso Senhor Jesus Cristo é a mesma coisa. Fui ao santuário
tal e rezei, sem nenhum resultado”. E não me espantou que, devido à sua
péssima formação religiosa, ela ainda se saísse
com um argumento assim: “A Bíblia diz ‘pedi e recebereis,
batei e se abrirá para vós’. Eu fiz tudo isso, e nada”.
Aproveitando uma pequena pausa dela para respirar, contra-argumentei:
—
Mas, dona Fulana, será que a Bíblia diz “pedi e recebereis
na hora”? Ou diz “batei e se abrirá para vós imediatamente?” A
senhora não acha que, se a promessa fosse assim formulada, Deus teria
passado todo seu poder para nós? Se a pessoa que pede vai sempre receber
tudo o que pede, e imediatamente, nós teríamos todo o poder na
mão!
Levou certo tempo para ela se recuperar, mas logo voltou à carga:
—
É injusto! Eu até que rezei mesmo!
Acredito que a senhora rezou de fato, mas será que a sua atitude foi
a mesma que tomava a Santíssima Virgem quando rezava?
Isto a pegou de surpresa, pois imediatamente perguntou:
— E qual era essa atitude?
—
A senhora veja, por eXemplo, como ela agiu nas bodas de Caná. Pediu
ao seu Divino Filho para transformar água em vinho. É um pedido
difícil de atender, pois é milagre mesmo, além do mais
em público. Nosso Senhor não respondeu sim ou não. E o
que fez Ela? Disse aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Ou seja, Ela condicionou seu pedido à divina vontade de Nosso Senhor.
Será que a senhora condicionou seu pedido a que fosse do agrado
de Deus?
—
Ah, não! Não venha com essa! A Bíblia diz ‘pedi
e recebereis’, nada mais.
—
EXatamente. A Bíblia diz só isso. A Senhora percebeu que não
acrescenta ‘recebereis eXatamente o que pedistes’?
—
Como assim? Eu peço uma coisa e recebo outra?
—
A senhora pede X, mas Deus, na sua Sabedoria, vê que isso não
lhe fará bem, mesmo que a senhora ache que sim. E então Ele,
que é justo, dá outra coisa que, esta sim, é boa.
—
Ah, não! Isso não vale! Eu quero o que pedi!
—
Então procure na Bíblia, ou em qualquer outro lugar, uma promessa
nos termos que a senhora diz. Não vai encontrar nada.
A saída dela foi típica:
—
Puxa! Não esperava isso do senhor. Isso desestimula as pessoas a rezar.
Ninguém vai querer rezar, após ouvir uma eXplicação
como essa.
Nem
todo pedido é bom
Devemos
pedir o exemplo de Nossa Senhora nas bodas de Caná, e rezar
com confiança e perfeição |
Aprendi a
duras penas, durante a vida, que uma pessoa habituada a usar argumentos emocionais
costuma ser impermeável aos argumentos lógicos. Portanto,
decidi usar um argumento emocional, um eXemplo que a tocasse de perto.
—
Quando seu filho pede uma motocicleta, o que a senhora faz? Uma primeira possibilidade
seria dizer a ele: “Absolutamente, jamais vou lhe dar uma motocicleta,
porque em nossa cidade isso é perigosíssimo, e não quero
ver você morto”. Outra seria procurar ganhar tempo, sugerindo a
ele trabalhar, para depois poder comprar um carro; eXplicar um pouco os perigos
de um acidente e suas conseqüências físicas e psicológicas;
poderia até dar a seu filho outra coisa, na esperança de que
ele tirasse da cabeça essa loucura da motocicleta.
Ante o silêncio, decidi continuar com o argumento.
—
Toda mãe quer o bem do seu filho. Pode dar a motocicleta, mas se não
o faz, é por motivos reais. Fica constrangedor apresentar uma negativa
por razões que o filho não percebe ou não entende. Seria
muito diferente se o filho pedisse a motocicleta, mas deiXando à mãe
a possibilidade de atendê-lo ou não. Mais ou menos assim: “Mãe,
gostaria de ter uma motocicleta, mas depende de a senhora achar que é conveniente
ou não”. A senhora não lhe ficaria grata? Não aproveitaria
para apresentar-lhe suas razões com calma e carinho? E não ficaria
predisposta a atender o próXimo pedido de um filho tão compreensivo?
Coitada da minha interlocutora! Ficou abalada mesmo. Limitou-se a dizer:
—
É. A vida é mesmo complicada!
O amor de Deus acima de tudo
Uma religião baseada em emoções não corresponde
aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. É claro que pode haver
boas emoções, que nos ajudam na vida espiritual, e devemos saber
aproveitá-las com critério. Mas não fazer das emoções
o fundo mesmo da religiosidade. A Religião católica é magnificamente
lógica, e devemos ter uma base doutrinária lógica, inclusive
para saber separar as boas emoções das falsas. Portanto, passei
ao contra-ataque apostólico.
—
Não entendo a sua decepção. Pelo contrário, a senhora
acaba de encontrar a chave para abrir a porta dos tesouros do Céu. Se
aceitamos o primeiro Mandamento, que é “Amar a Deus sobre TODAS
as coisas”, amaremos também os planos que Ele tem para nós.
Eu sou imperfeito, portanto o plano que fiz para minha vida pode ter defeitos.
Mas o plano que Deus traçou para mim, esse sim, é perfeito. E
Deus quis que certas coisas boas, que estão nos planos d’Ele,
só as recebamos se rezarmos. Devemos rezar com perseverança.
A frase da Bíblia “pedi e recebereis” é uma promessa,
uma tremenda promessa. Nosso Senhor afirma que vamos receber. Sobre isso não
há dúvida. E a bondade d’Ele chega até o ponto de,
mesmo se pedimos o que não nos convém, utilizar esse pedido para
nos dar outra coisa que nos convenha.
Todo bom católico trata de recorrer à oração tanto
quanto possível. Justamente porque ela traz consigo a aplicação
de várias doutrinas fundamentais de nossa Religião. Para começar,
se rezamos é porque reconhecemos precisar de Deus. Não somos
independentes d’Ele, e além disso somos falhos. E o que não
podemos ou não conseguimos fazer, pedimos a nosso Deus que o faça
por nós. Isto chega ao ponto de termos na Igreja ordens religiosas cuja única
ocupação é rezar o tempo todo.
A oração é um ato de humildade. É também
um ato de caridade. Se amo a Deus, desejo que todos cumpram sua vontade, e
peço-Lhe por aqueles que são rebeldes a ela. Muitas vezes não
consigo, por mim mesmo, convencer outras pessoas de que isto ou aquilo que
fazem é errado. Mas Deus pode fazê-lo. E às vezes Ele só espera
minha oração, para fazê-lo.
* * *
Se em todas as épocas da História foi preciso rezar, mais ainda
agora, tendo em vista a imensa crise em que nos encontramos. Não é à toa
que nas aparições de Fátima Nossa Senhora insiste na penitência
e na oração. É fácil entender por que Ela pede
penitência, pois, se inumeráveis pecados são cometidos, é justo
que se faça penitência para repará-los. Mas por que oração?
Porque são muitos os cegos que nada pedem a Deus, e julgam que podem
levar uma vida sem Ele. Acabarão caindo no abismo.
Mesmo que a pessoa peça algo inútil para si mesma, acabará recebendo
graças para sua salvação. Nada mais importante do que
isso. E a ferramenta para consegui-lo, temo-la à nossa disposição.
Devemos seguir o eXemplo de Nossa Senhora nas bodas de Caná, e rezar
com confiança e perseverança. Nossos pedidos serão atendidos
da melhor forma possível.
A oração, sobretudo se feita através de Nossa Senhora,
Medianeira de todas as graças, nos põe em comunicação
com Deus, nos fortalece na virtude, nos ajuda a vencer os defeitos, nos prepara
para o Céu. Daí Santo Afonso Maria de Ligório dizer: “Quem
reza se salva, quem não reza se condena”.
Veja:
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