As primeiras aparições de Nossa Senhora
01/08/2005
Valdis Grinsteins
Em função das necessidades da Igreja, e sempre
reguladas pela virtude da sabedoria, houve algumas aparições
da Santíssima Virgem nos primeiros séculos.
Qual o motivo?
Nossa Senhora do Pilar,
Saragoça - Espanha
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Têm sido publicados recentemente
em italiano vários livros enumerando as aparições de Nossa Senhora. Não os
tinha consultado, mas numa recente visita a Roma aproveitei a oportunidade
para fazê-lo, e fiquei surpreso: numa época houve numerosas aparições, noutra
eram muito raras; numa época a Virgem aparecia a certa categoria de pessoas,
noutra a outra categoria completamente diferente; no século XX houve importantíssimas
e comprovadas aparições (por exemplo, Fátima, Lourdes), mas também uma espécie
de “inflação” de aparições falsas, como que indicando a permissão dada ao demônio para
confundir as almas, em castigo por nossos pecados.
Sob certo ponto de
vista, o mais interessante era ver como as aparições iam sempre ao encontro das necessidades mais prementes da Igreja
no momento. Assim, na época da conquista e conversão da América registram-se
várias aparições da Virgem aos índios, ajudando desta forma no apostolado
que realizavam os missionários para catequizá-los, batizá-los e
civilizá-los. Mas nunca ouvi falar de aparições da Virgem a certos “neomissionários” de hoje, empenhados em que os índios fiquem
sem batismo e no estado de barbárie...
No século XIX houve várias aparições da Virgem aos santos fundadores
de congregações religiosas, que tanto ajudaram na
expansão mundial do catolicismo, sem contar o ciclo de aparições ligadas à difusão
da devoção mariana, como a da medalha milagrosa, Lourdes etc.
Veio-me a curiosidade
de analisar mais detalhadamente um ponto: como foram as primeiras aparições da Santa Mãe
de Deus?
Os santos, esses privilegiados
Aparição de Nossa Senhora
do Pilar a São Tiago e seus discípulos - Goya,
1798
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A conversão da Espanha ao catolicismo foi bem mais difícil do que se imagina.
O Apóstolo Santiago esforçava-se e sofria para converter aqueles pagãos endurecidos.
Nossa Senhora ainda vivia, e para encorajar o provado Apóstolo, Ela lhe apareceu
sobre um pilar na cidade de Cesaraugusta (hoje Zaragoza), dizendo-lhe que no futuro a fé daqueles povos
seria profunda e séria. Muito consolado, o Apóstolo continuou seu árduo trabalho,
resultando que hoje uma parte considerável da Igreja Católica reza em espanhol.
E Nossa Senhora do Pilar é a Padroeira da Espanha.
No rigor da linguagem
teológica, esta não foi uma aparição,
mas uma bilocação (estar em dois locais ao mesmo
tempo), pois Nossa Senhora ainda estava nesta Terra. Mas a seguinte pode
ser considerada a primeira aparição da História, no sentido próprio do termo.
Estavam os Apóstolos
reunidos na cidade de Éfeso, atual costa
da Turquia, mas que nessa época era uma cidade grega. Imploravam eles o auxílio
da Santíssima Virgem nas diversas dificuldades da nascente Igreja, quando
a Mãe de Deus lhes apareceu, cheia de luz, e lhes prometeu que jamais os
abandonaria. Esta aparição não deixa de ter um simbolismo muito bonito, pois
Nossa Senhora apareceu aos Apóstolos em seu conjunto, como representação
da Hierarquia da Igreja, e lhes prometeu sua permanente ajuda. Auxílio que
Ela irá demonstrando constantemente ao longo da História.
A seguinte aparição,
a que agora nos referiremos, parece proposital para ensinar os caminhos de Deus aos que pensam
que a Igreja, em sua história, só apresenta progressos espetaculares,
brilhantes, de efeito imediato. Pelo contrário, esta aparição não podia crescer
de modo mais humilde. Por volta do ano 70, vivia em Le Puy,
na atual França, certa mulher convertida havia
pouco à verdadeira Religião. Estava gravemente doente, mas após ter visto
a Virgem Santíssima ficou curada e construiu no local das aparições uma pequena
capela. Ali foram se registrando com o passar do tempo outros milagres, que
contribuíram para a sua popularidade. Entretanto, só muito lentamente as
peregrinações foram surgindo. A igreja edificada no século XIX no local da
antiga capela é ainda um centro de peregrinações. Os bispos locais aceitaram
tal devoção, que se impôs mais pela perseverança ao longo dos séculos do
que por milagres espetaculares ou revelações retumbantes.
Assim ocorrem muitas coisas na Igreja: um pequeno trabalho de todos os dias,
do qual não se vê o fruto imediato, mas que vence pela perseverança e acaba
alcançando êxito e um grande bem.
Aparições e lutas doutrinárias
Santuário de Nossa
Senhora de Puy, na França
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Na seguinte aparição, Nossa Senhora e São João Evangelista apresentam-se
a São Gregório Taumaturgo (já comentada com detalhes nesta revista, em abril/2003:
“Uma aparição mariana no século IV”). Ela apresenta uma característica, que
se repete nas seguintes: havia cessado a era das perseguições e martírios,
e o demônio, que não conseguira destruir a Igreja pelas vias
violentas, queria destruí-la por meio das heresias.
Hoje, o conjunto de
ensinamentos da Igreja — lógicos, sólidos, conseqüentes e
admiráveis — parece-nos a coisa mais normal do mundo. Mas, para chegar até isto,
foram indispensáveis, sob a divina inspiração do Espírito Santo, muito esforço,
intensas polêmicas e pertinaz estudo. Por exemplo,
foram necessários 10 séculos para que a realidade dos sacramentos instituídos
por Nosso Senhor pudesse ser doutrinariamente expressa por uma definição
clara e precisa. Por aí pode-se medir quanta oração foi necessária, quanto
trabalho e esforço empregado para exprimir essa admirável catedral de doutrinas,
muitas delas apenas implícitas nos Evangelhos e na Tradição. Não deve causar
estranheza, pois, o fato de o demônio desejar introduzir pedras falsas nas fundações doutrinárias
– é o caso das heresias – a fim de tentar derrubar todo o magnífico prédio
doutrinal da Igreja de Jesus Cristo.
Para defender a Igreja,
Nossa Senhora aparece aos bispos, sucessores dos Apóstolos, em cumprimento de sua promessa de que jamais os abandonaria.
Assim, estão registradas duas aparições a São Nicolau, Bispo de Mira. A primeira,
quando ele foi nomeado bispo; a segunda, logo após o Concílio de Nicéia.
São Nicolau (o famoso bispo que celebramos no Natal, pela sua admirável caridade)
foi um dos grandes defensores da doutrina católica sobre a natureza divina
de Nosso Senhor.
A História registra, quarenta anos após estas, uma aparição
da Virgem a São Basílio de Cesaréia, grande defensor
da doutrina sobre a Trindade Divina. Aproximadamente no ano 370, Ela apareceu
várias vezes a São Martinho, Bispo de Tours, empenhado
na formação dos futuros bispos santos que iriam mudar a França profundamente.
Hoje em dia muitas
pessoas têm dificuldade em medir a importância
doutrinária ligada a tais aparições. A filosofia e a teologia parecem-lhes
ciências “aéreas”, que se ocupam de problemas nas nuvens, sem conseqüência prática na vida de todos os dias. Nada mais
distante da realidade.
A Igreja esforçava-se para apresentar, com clareza e precisão,
a verdadeira doutrina do Evangelho sobre a natureza de Nosso Senhor Jesus
Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O demônio empenhava-se
em mostrá-lo apenas como homem (e nesse caso, a Igreja Católica não teria
uma origem divina) ou só como Deus, com um corpo apenas aparente (o que esvaziaria
o sentido da Redenção e O tornaria inimitável pelos homens).
Como vemos, naquela época como hoje (basta pensar em Fátima)
as aparições de Nossa Senhora estão profundamente ligadas ao núcleo da luta
entre o bem e o mal.
Veja:
http://www.catolicismo.com.br
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