“Combatei hoje, com o Exército dos anjos bons, o combate do Senhor”


22/09/2005

Plinio Maria Solimeo

Papel dos anjos, segundo sua hierarquia


Demônios expulsos de Arezzo – Giotto di Bondone, (séc. XIII-XIV). Basílica Superior em Assis

Considerando os anjos dos três primeiros Coros angélicos, os do primeiro, os serafins (do grego “séraph”, abrasar, queimar, consumir), excedem os anjos dos demais Coros no fervor de sua caridade. Os querubins (do hebreu “chérub”, que São Jerônimo e Santo Agostinho interpretam como “plenitude de sabedoria e ciência”) excedem os dos Coros inferiores na plenitude de sua ciência. No terceiro Coro da primeira hierarquia temos ainda os tronos, chamados algumas vezes de sedes Dei, sedes do Todo Poderoso, que excedem os dos demais Coros inferiores no ver a Deus e, com mais perfeição, na compreensão da razão de suas divinas obras.

Os anjos dos três Coros seguintes estão mais relacionados com a conduta geral do universo. Aqueles que distribuem aos anjos inferiores suas funções e seus ministérios são chamados Dominações. Os que executam as grandes ações que dizem respeito ao governo universal do mundo e da Igreja, e que operam para isso prodígios e milagres extraordinários, são chamados Virtudes. Aqueles que mantêm nas criaturas a ordem desejada pela divina Providência e impedem eficazmente que esta seja perturbada pelos esforços dos demônios e de qualquer outra causa maligna, são chamadas Potestades.

Enfim, os anjos dos três Coros inferiores são os que mantêm relação com a conduta particular dos Estados e das pessoas, que presidem os países, as províncias e as dioceses. Os Principados são os que têm uma intendência mais estendida e mais universal. Os que são enviados por Deus para executar tarefas de maior importância e levam as mensagens mais consideráveis são chamados Arcanjos. Finalmente, os que têm como missão a guarda de cada homem em particular, para o desviar do mal e o encaminhar ao bem, defendê-lo contra seus inimigos visíveis e invisíveis e conduzi-lo à salvação, são chamados anjos, “pela apropriação que lhes foi feita em particular do nome comum a todos os espíritos celestes”.(1)

Serafins enviados em missões na Terra

Ao ler as Sagradas Escrituras, constatamos fatos admiráveis a respeito de anjos em favor dos homens. Por exemplo, um anjo lutou com Jacó a noite toda, e não pôde prevalecer contra ele (Gen. 32, 22-25); outro desceu do Céu para despertar e animar o profeta Elias e dar-lhe de comer (I Reis 19, 5-8). Para defender o povo escolhido, o anjo do Senhor apareceu no campo dos assírios e feriu 185 mil homens; no dia seguinte pela manhã só havia cadáveres (II Reis, 19,35). E ainda outro levou o profeta Habacuc pelos cabelos até Babilônia, para dar de comer ao profeta Daniel na cova dos leões (Dan. 32-35), e fechou a boca dos animais famintos para que não despedaçassem esse Profeta (Id. 6, 21). Foi também um anjo que, depois de ter levado o diácono Felipe para batizar o eunuco etíope de Candace, Rainha da Etiópia, levou-o depois pelos ares até a cidade de Azoto (Atos 8, 26-40).

São Paulo diz que todos os soberanos espíritos angélicos são ministros do Senhor, enviados para o bem dos que hão de herdar a salvação e a bem-aventurança eterna. E afirma o real profeta: “Bendizei ao Senhor, vós todos os seus anjos, fortes e poderosos, que executais as suas ordens e obedeceis as suas palavras” (Sl 102, 20).

Entretanto, segundo teólogos e doutores, os anjos dos três primeiros Coros comumente não são enviados aos homens. Somente em algumas ocasiões muito importantes podem vir até nós, visando nosso bem. Assim, São Gabriel Arcanjo, que disse de si mesmo que era um dos que “assistiam diante do trono de Deus” (isto é, segundo alguns, um Serafim), “desde o primeiro ano de Dario medo, estava junto dele para o sustentar e fortificar” (Dan. 11, 1). Foi enviado também ao sacerdote Zacarias para anunciar-lhe o nascimento do Precursor, e à Virgem Santíssima para pedir-lhe o consentimento para a Encarnação do Verbo de Deus. São Rafael, que também disse de si que era “um dos sete (espíritos principais) que assistimos diante do Senhor” (Tob. 12, 15), portanto, também seria um Serafim, foi escolhido para guiar Tobias. E, de São Miguel, é dito também, no livro de Daniel (10, 13), que é “um dos primeiros príncipes” (da Corte Celeste). E acrescenta que foi incumbido de ser protetor do povo hebreu. São Miguel também, segundo São João, “guerreou contra o dragão”. Na era da Redenção, ele é o anjo tutelar da Santa Igreja.

Foi um Serafim quem purificou os lábios de Isaías com um carvão ardente, antes que ele começasse a pregar (Is 6, 6). Por outro lado, foi um querubim o anjo enviado ao Profeta Ezequiel sob a aparência de uma figura misteriosa (Ez 1, 4-28).

“ Houve no Céu uma grande batalha”


“ Houve no Céu uma grande batalha: Miguel e os seus Anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejava contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no Céu”. (Apocalipse, São João)

Ao falarmos dos espíritos angélicos, é forçoso tratar também dos anjos maus rebelados, ou demônios.

Depois da queda, eles conservaram sua natureza angélica com os dons que lhe são naturais. Santo Tomás “observa que, depois da queda, o demônio é ainda chamado ‘querubim’, mas não mais ‘serafim’. É que a palavra ‘querubim’ significa ‘plenitude de ciência’, enquanto que serafim significa ‘que abrasa’ do fogo da caridade. A ciência é compatível com o pecado, mas não a caridade”.(2)

Como se deu a queda dos anjos maus? O conceituado teólogo e autor francês Mons. Henri Delassus diz a esse respeito: “Desde a sua criação, Deus chamou a inumerável multidão dos anjos a contrair com Ele uma aliança de amizade tal que, se eles permanecessem fiéis, ela levá-los-ia a gozar da vista de seu Ser, a contemplá-Lo face a face, a penetrar na sua vida íntima e a dela participar. Sua Bondade os cumulou de amor; a eles incumbia o dever de corresponder a essa antecipação”.(3)

Santo Tomás diz que todos os anjos, sem exceção, sob a moção de Deus, fizeram primeiramente atos bons, que os uniram mais a Deus, autor de sua natureza. Restava-lhes fazer um segundo ato de amor mais perfeito, o ato de caridade, o ato de amor sobrenatural. A isso a graça os convidava e os levava a se voltarem para Deus enquanto objeto da Beatitude.(4) Ora, nem todos os anjos a isso corresponderam. Enquanto São Miguel e o grande número dos que com ele estavam responderam com entusiasmo e gratidão a esse chamado divino, Lúcifer e os que o seguiam recusaram-se a dobrar-se à munificência divina.

Seja como for, São João diz no Apocalipse que “houve no Céu uma grande batalha: Miguel e os seus Anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejava contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no Céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na Terra, e foram precipitados com ele os seus anjos” (Ap 12, 7-9).

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