"Justiça" estranha: miséria para os não-índios; latifúndio para indígenas...
11/01/2006
D. Geraldo Majella, presidente da CNBB |
Entrevistado pela conhecida emissora alemã Deutsche Welle-World,(1) o
Arcebispo de Salvador e presidente da CNBB, Cardeal Geraldo Majella Agnelo, fez
afirmações surpreendentes. A explicação delas pode-se
encontrar na defesa reiterada das reformas de base socialistas, que vem sendo
feita por essa entidade episcopal. Veja-se o texto abaixo:
Deutsche Welle — O governo Lula falhou na área social?
D. Agnelo — [...] Nós bispos achamos que a prioridade deve ser
a realização das reformas sociais. Temos problemas que vêm
de longa data, como reforma agrária [...].
Deutsche Welle — O que impede o governo Lula de fazer uma reforma agrária
mais conseqüente do que seus antecessores?
D. Agnelo — É a tradicional questão da concentração
da propriedade nas mãos de poucas pessoas, que não querem dividir
de jeito nenhum com os que não têm nada e ficar apenas com o que é justo
para a sua sobrevivência. Temos casos, por exemplo, de terras indígenas
em Roraima, que mesmo depois de delimitadas pelo governo e esgotadas as medidas
judiciais, são reivindicadas à força pelo homem branco.
* * *
Injustiça — Atribuir os problemas agrários brasileiros
ao fato de que “poucas pessoas não querem dividir de jeito nenhum
com os que não têm nada” é, no mínimo, de
um simplismo chocante. A ser verdade o que diz o Sr. Cardeal, os proprietários
agrícolas brasileiros (ao menos os grandes e médios) seriam todos
uns aproveitadores sem escrúpulos, que se estariam apropriando daquilo
que não lhes pertence. Todo o bem feito ao País pela classe rural
ao longo dos anos é assim ignorado. É uma afirmação
notoriamente injusta.
Í ndios,
grandes latifundiários, cidadãos privilegiados... |
Fundamento ideológico — Logo a seguir, porém, o Sr. Cardeal
apresenta o fundamento ideológico de sua posição: “[Não
querem] ficar apenas com o que é justo para a sua sobrevivência”.
O sentido natural dessas palavras é que o “justo” seria
o proposto pelo comunismo. Desde que alguém tenha o suficiente para
não morrer de fome, ele se encontra numa situação “justa”,
e o que vai além disso seria uma injustiça. Não seria “justo”,
assim, querer progredir, almejar condições melhores de vida.
A frase parece propor a doutrina da igualdade na miséria, o que entra
em choque aberto com a autêntica doutrina social da Igreja.
Latifúndio indígena — Depois disso, o Purpurado defende
exatamente o contrário... quando se trata dos índios. Estes podem
e devem tornar-se grandes latifundiários! Segundo o insuspeito Conselho
Indígena de Roraima,(2) nos estados de Roraima, Amazonas, Tocantins,
Pará e Maranhão, “cerca de 870 índios vivem nas
cinco reservas homologadas [em 19-4-2005]. Somadas, as áreas totalizam
224,8 mil hectares”. O que dá, para cada índio, 258,38
hectares. Se considerarmos uma pequena família de quatro pessoas, totalizaria
1.033,52 hectares por família. Será que a sobrevivência
dos índios exige que eles sejam grandes latifundiários, enquanto
os não-índios têm de se contentar apenas com o necessário
para sua sobrevivência, ou seja, uma situação de miséria?
O Cardeal Majella Agnelo dar-se-á conta de que está fazendo
uma discriminação descomunal a favor dos silvícolas, instituindo-os
como os cidadãos privilegiadíssimos do Brasil? É esse
um conceito bastante insólito de "justiça"!
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Notas:
1. www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1793926,00.html
2. www.cir.org.br/noticias_050419_cinco.asp
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
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