Índios em parceria — Outro sistema encontrado pelos índios
para sobreviver nas reservas é a parceria. Os índios cadiuéus
da Reserva Bodoquena, em Mato Grosso do Sul, cuidam do gado dos fazendeiros
vizinhos e ficam com metade dos bezerros que nascerem em suas terras. Os fazendeiros
garantem assistência técnica e fiscalizam o trabalho dos índios,
que se transformam assim em pequenos pecuaristas. “Queremos mostrar que
o índio é trabalhador e sabe coisas”, diz o presidente
da associação indígena, Ambrósio Silva. É um
bom negócio para os dois lados. A reserva, na divisa com o Paraguai,
tem 350 mil hectares e foi doada aos cadiuéus pelo Império, como
recompensa pela sua participação na Guerra do Paraguai. Os parecis,
na Reserva de Formoso, têm quase 500 mil hectares e separam uma parte
para a produção agrícola, feita em parceria com os produtores
de soja da região. Já aprenderam a lidar com o trator e a melhorar
o solo.
Fracasso no maior assentamento — Maior assentamento rural do País,
a Fazenda Itamaraty, com 50 mil hectares — antiga propriedade de Olacyr
de Moraes, a 45 km de Ponta Porã (MS) — reflete a tragédia
da Reforma Agrária. Milhares de famílias, subjugadas por líderes
do MST, CUT e Fetagri, sofrem com a situação criada. Nada funciona
sem a comissão do chefe. Sendo tudo irregular, a propina corre solta.
O plano de desenvolvimento do assentamento baseou-se na ideologia da libertação.
Invasores de terras partiram para o "diagnóstico participativo".
Ex-bóias-frias e desempregados urbanos são chamados a decidir
sobre a exploração agropecuária. Conforme auto-elogio
do documento oficial, esses elementos constroem juntos o conhecimento. Sob
a compulsão das idéias socialistas que inspiram a Reforma Agrária,
implantam-se áreas comunitárias e trabalho coletivo.
Passados quatro anos, quem visita o Assentamento Itamaraty constata que os
níveis de produção são baixíssimos, e a
qualidade de vida sofrível. Campeiam a prostituição e
a corrupção. Lotes são vendidos descaradamente.
O frágil e ilusório sucesso do Assentamento Itamaraty depende
do fato de que as áreas de exploração, supostamente coletivas,
encontram-se cedidas a produtores da região. Soja, milho, algodão
e mamona saem da Itamaraty como se gerados fossem pelo assentamento. Nessa
ilusão produtiva, a pecuária também encontra seu nicho.
Por R$ 7/cabeça/mês alugam-se pastagens de capim braquiária.
Há corrupção financeira. A renda é paga diretamente
ao chefe do grupo, que a reparte entre os apadrinhados. O socialismo agrário
transforma-se em grossa picaretagem (cfr. Xico Graziano, in “O Estado
de S. Paulo”, 12-9-06).