“Apareceram a bondade e o amor pelos homens, do Salvador nosso Deus” (Ti 3, 4)
05/12/2006
Plinio Corrêa de Oliveira Catolicismo, dezembro de 1955
As palavras do título deste artigo, do grande São Paulo Apóstolo,
exprimem o magno acontecimento da noite de Natal. A partir delas, Plinio Corrêa
de Oliveira desenvolve — na matéria publicada originalmente em Catolicismo
com o título “Apparuit benignitas et humanitas Salvatoris nostri
Dei”, na edição de Natal de 1955 — o princípio
de que cada um individualmente, cada família, grupo, congregação,
ordem religiosa, enfim, cada povo é chamado a louvar e retribuir de modo
próprio a bondade e o amor de Deus para com os homens. O Prof. Plinio
ressalta que todos e cada um têm um lugar junto ao santo presépio,
assim como os Reis Magos e os pastores, os ricos e os pobres, os fortes e os
fracos, os sábios e os ignorantes. Por isso, é importante cada
qual conhecer-se para saber onde se colocar junto ao Menino-Deus. O autor esclarece
ainda qual o modo próprio de amor de Deus que corresponde a Catolicismo,
e de que modo — dentro da enorme variedade de associações — os
redatores e leitores da revista são chamados a glorificar nosso Divino
Salvador. Plinio
Corrêa de Oliveira
Catolicismo, dezembro de 1955
Quem
poderá dizer quantas pessoas, neste Natal, se ajoelharão
diante de um presépio? Quem poderá enumerar os homens de todas
as raças, em todas as latitudes, que se acercarão do berço
do Menino-Deus, a fim de Lhe implorar graças particularmente ricas e
abundantes, nesse dia em que se abrem em toda a sua largueza as portas da misericórdia
divina?
Também nós, diretores, colaboradores e leitores de Catolicismo,
nos preparamos para acercar-nos do santo presépio. Queremos meditar
as lições que dele decorrem, robustecer nossas vontades nas graças
que dele promanam, alentar nossos corações na alegria de que é ele
fonte imperecível.
Junto ao santo presépio, grandes e pequenos são
bem acolhidos
Quis a Providência que o Menino Jesus recebesse a visita de três
sábios — que, segundo uma venerável tradição,
eram também reis — e alguns pastores. Precisamente os dois extremos
da escala humana dos valores. Pois o rei está de direito no ápice
do prestígio social, da autoridade política e do poder econômico,
e o sábio é a mais alta expressão da capacidade intelectual.
Na escala dos valores o pastor se encontra, em matéria de prestígio,
poder e ciência, no grau mínimo, no rés-do-chão.
Ora, a graça divina, que chamou ao presépio os Reis Magos do
fundo de seus longínquos países, chamou também os pastores
do fundo de sua ignorância. A graça nada faz de errado ou incompleto.
Se ela os chamou e lhes mostrou como ir, há de lhes ter ensinado também
como apresentar-se ante o Filho de Deus. E como se apresentaram eles? Bem caracteristicamente
como eram. Os pastores lá foram levando seu gado, sem passar antes por
Belém para uma toilette que disfarçasse sua condição
humilde. Os Magos se apresentaram com seus tesouros –– ouro, incenso
e mirra –– sem procurar ocultar sua grandeza, que destoava do ambiente
supremamente humilde em que se encontrava o Divino Infante.
A piedade cristã, expressa numa iconografia abundantíssima,
entendeu durante séculos, e ainda entende, que os Reis Magos se dirigiram
para a gruta com todas as suas insígnias. Quer isto dizer que ao pé do
presépio cada qual se deve apresentar tal qual é, sem disfarces
nem atenuações. Pois há lugar para todos, grandes e pequenos,
fortes e fracos, sábios e ignorantes. É questão apenas,
para cada qual, de conhecer-se para saber onde se pôr junto de Jesus.
Junto ao santo presépio há lugar para todas as vocações
Ora, o que é Catolicismo? Qual seu lugar na Casa de Deus? Respondendo
a esta pergunta, teremos encontrado nosso próprio lugar junto a Jesus.
Sabemos que os Anjos no Céu, distribuídos nos nove coros, contemplam
diretamente a essência divina, em cuja riqueza infinita cada qual vê mais
nitidamente certas perfeições.
Na Igreja dá-se um fato análogo. As Ordens e Congregações
Religiosas têm, em geral, seu espírito próprio, seu feitio,
sua escola de santificação. E por isto cada qual contempla e
imita mais especialmente certas perfeições do Divino Redentor.
Este fato tem sua repercussão na vida espiritual dos fiéis.
Percorrido pelas mais variadas e fecundas correntes de espiritualidade, nascidas
de Ordens Religiosas ou de santos dos mais variados estados, distribui-se o
laicato em grandes famílias espirituais, de contornos mais precisos
ou menos, cuja vitalidade se identifica com a própria vitalidade religiosa
de um povo. Congregados Marianos, Filhas de Maria, Acistas, Terceiros Carmelitas,
Franciscanos, Dominicanos, Norbertinos, Servitas, Oblatos Beneditinos, Cooperadores
Salesianos e tantos outros representam apenas o ponto de cristalização
mais visível dessas diversas correntes. De fato, o espírito de
Santo Inácio, como o de São Domingos, São Bento, São
Francisco, São João Bosco e demais santos, sopra ainda muito
mais largamente em toda a Cristandade, dotando-a de uma diversidade maravilhosamente
harmoniosa.
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