ATARAM-LHE AS MÃOS PORQUE FAZIAM O BEM


20/03/2008

Plinio Corrêa de Oliveira
Catolicismo, nº 16, abril/1952

Apresentação

“Por que tanto ódio? Por que tanto medo, a ponto de terem julgado necessário atar vossas mãos, reduzir ao silêncio vossa voz, extinguir vossa vida? Seria porque alguém receasse ser curado ou afagado? Mas quem teme a saúde? Quem odeia o carinho? Senhor, para compreender esta monstruosidade, é preciso crer no mal. É preciso reconhecer que a natureza humana facilmente se revolta contra o sacrifício; e quando entra no caminho da revolta, não há infâmia nem desordem de que não seja capaz”.

Nas proximidades da Quaresma, todos os anos o secretariado da revista Catolicismo recorria ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (nascido em 13 de dezembro de 1908 e falecido em 3 de outubro de 1995), inspirador e principal colaborador deste mensário, pedindo-lhe que redigisse alguma matéria ara a edição correspondente ao mês da Semana Santa. Ele gentilmente costumava aquiescer, escrevendo algo sobre a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo ou uma meditação apropriada para a época. Procurava sempre mostrar como, de algum modo, em nossos dias a Paixão de nosso Divino Salvador se repete nos padecimentos da Igreja Católica Apostólica Romana, Corpo Místico de Cristo. E insistia muito neste ponto: uma meditação séria sobre a Vida, Paixão e Morte do Divino Redentor não pode estar alheia ao que acontece atualmente na Santa Igreja e em torno de nós.

Com a ausência do inesquecível e saudoso Dr. Plinio, pesquisamos nos arquivos da revista matérias de sua lavra que pudessem ser de utilidade para a meditação de nossos leitores nesta Semana Santa. Dentre inúmeros artigos e conferências, escolhemos duas importantes peças: a) um artigo de Catolicismo, edição de abril de 1952; b) texto transcrito de gravação em fita magnética, de conferência que ele proferiu em 17 de março de 1967. Não tendo sido este último revisto pelo conferencista, cingimo-nos a transcrever excertos dele, com pequenas adaptações necessárias à linguagem escrita, acrescentando título e entretítulos.

ATARAM-LHE AS MÃOS PORQUE FAZIAM O BEM


Com bondade inefável, assumistes nossa natureza humana. Quisestes ter um corpo humano por amor do homem. É para fazer o bem, que foram criadas vossas divinas mãos.

Por que foi o Senhor manietado por seus algozes? Por que impediram eles o movimento de suas mãos, prendendo-as com duras cordas? Só o ódio ou o temor poderiam explicar que assim se reduza alguém à imobilidade e à impotência. Por que odiar assim estas mãos? Por que temê-las?

A mão é uma das partes mais expressivas e mais nobres do corpo humano. Quando os Pontífices e os pais abençoam, fazem-no com um gesto de mãos. Quando o homem inocente é perseguido, se vê saturado de dores e apela para a justiça divina –– seu último amparo contra a maldade humana –– é com as mãos que amaldiçoa. É com as mãos que pais e filhos, irmãos e esposos, se acariciam, nos momentos de expansão. Para rezar, o homem junta as mãos ou as levanta para o céu; quando quer simbolizar o poder, empunha o cetro; quando quer exprimir força, empunha o gládio; quando fala às multidões, o orador acentua com as mãos a força do raciocínio com que convence ou a expressão das palavras com que comove. É com as mãos que o médico ministra o remédio e o homem caridoso socorre os pobres, anciãos e crianças.

E por isto os homens osculam as mãos que fazem o bem e algemam as que praticam o mal.

Vossas mãos, Senhor, o que fizeram? Por que foram atadas?

In principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum” –– No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo, era Deus (Jo 1, 1). Como descrever vossa transcendente, eterna e inefável majestade, quando antes de todas as coisas e de todos os séculos vivíeis a vida supremamente gloriosa e feliz da Santíssima Trindade? São Paulo contemplou esta vida, e a única coisa que sobre ela conseguiu dizer é que não pode ser expressa em palavras humanas. Do alto desse trono, viestes com desígnios de amor para remir os homens. E por isto, com bondade inefável, assumistes nossa natureza humana. Quisestes ter um corpo humano por amor do homem. É para fazer o bem, que foram criadas vossas divinas mãos.

Mãos de Mestre, mas também mãos de Pastor


Mãos de Mestre, mas também mãos de Pastor. Não ensináveis apenas, mas guiáveis. A função de guiar se exerce mais propriamente sobre a vontade; a de ensinar, mais exatamente sobre a inteligência.
Quem pode dizer, Senhor, a glória que estas mãos –– agora sangrentas e desfiguradas, e entretanto tão belas e tão dignas desde os primeiros dias de vossa infância –– deram a Deus, quando sobre elas pousaram os primeiros ósculos de Nossa Senhora e São José? Quem pode dizer com quanta meiguice fizeram a Maria Santíssima o primeiro carinho? Com quanta piedade se uniram pela primeira vez em atitude de prece? E com quanta força, quanta nobreza, quanta humildade trabalharam na oficina de São José?

Mãos do Filho perfeito, que outra coisa fizeram no lar, senão o bem? Quando começou vossa vida pública, fostes principalmente o Mestre, que ensinava aos homens o caminho do Céu. E assim, quando no pugillus grex (Lc 12, 32) [pequeno rebanho] de vossos preferidos ensináveis a perfeição evangélica, e vossa voz se levantava e pairava sobre as multidões enlevadas e reverentes, vossas mãos se moviam apontando a morada celeste ou exprobrando o crime, acrescentando à palavra todos os imponderáveis com que as enriquece o gesto. E os Apóstolos e as multidões criam em Vós e vos adoravam, Senhor.

Mãos de Mestre, mas também mãos de Pastor. Não ensináveis apenas, mas guiáveis. A função de guiar se exerce mais propriamente sobre a vontade; a de ensinar, mais exatamente sobre a inteligência. E como é sobretudo pelo amor que se guiam as vontades, vossas divinas mãos tiveram virtudes misteriosas e sobrenaturais para afagar os pequeninos, acolher os penitentes, curar os enfermos. Amor tão ardente, tão abundante, tão comunicativo, que de lá até hoje, sempre que as mãos de um cristão –– e mais especialmente de um sacerdote –– se movem para afagar os pequeninos, consolar os penitentes, ministrar remédio aos enfermos, o amor que as anima não é senão uma centelha deste infinito amor, meu Deus.

Mãos que fustigam o demônio e suas obras

Mas estas mãos tão sobrenaturalmente fortes –– a cujo império vergavam todas as leis da natureza, a cujo aceno a dor, a morte e a dúvida fugiam –– tinham ainda outra função a exercer. Não falastes do lobo voraz? Seríeis Pastor, se o não repelísseis? E se tudo fazíeis com força irresistível, como poderia alguém não sentir o golpe do látego que empunhásseis?

O lobo, sim... e antes de tudo o demônio. Vossa vida tornou patente que o demônio não é um ente de ficção ou quase tanto, um ser ao qual tão raras vezes é dado o poder de agir, que praticamente a imensa maioria das coisas se passa como se ele não existisse. Os homens hipócritas ou de costumes dissolutos, ostentando vestes de justiça e até do sacerdócio, tudo isto aparece nos Evangelhos, não só como conseqüência da depravação humana em virtude do pecado original e da nossa maldade, mas também como obra do demônio –– ativo, diligente, emboscado ali e acolá, denunciando por vezes sua presença com espetaculares manifestações de obsessão e de possessão.

Vós expulsáveis o demônio, Senhor, com terrível império. E diante de vossa palavra grave e dominadora como o trovão, mais nobre e mais solene que um cântico de Anjo, os espíritos impuros fugiam espavoridos e derrotados. Tão derrotados e tão espavoridos, que daí por diante tiveram que obedecer a vossos Apóstolos com docilidade. Por toda a parte onde vossa palavra foi pregada e aceita pelos homens, a impureza, a revolta e o demônio fugiram sempre. E só voltaram a estender sobre a humanidade suas asas de sombra e seu poder de perdição quando o mundo começou a rejeitar vossa Igreja, que é vosso Corpo Místico. Bastará que os homens correspondam novamente à graça de Deus, para que o império das potências infernais mais uma vez decaia; e as trevas, a lascívia, o espírito da revolução, derrotados e impotentes, voltem para os antros secretos dos quais há séculos saíram.

Mãos que empunham o látego na defesa da Causa de Deus


Vós empunhastes o látego para pôr em sangue os vendilhões. É que se tratava, não de direitos meramente humanos, mas da Causa de Deus. E no serviço de Deus há momentos em que não recriminar, não fustigar, equivale a trair.
Vossas divinas mãos não se limitaram a brandir o cajado contra as potências espirituais e invisíveis que, no dizer de São Paulo, pairam nos ares para perder os homens; mas atacaram o demônio e o mal em seus agentes tangíveis e visíveis. Atacastes o mal, antes de tudo considerado em abstrato, e não houve vício contra o qual não falásseis; mas também o mal em concreto, enquanto realizado nos homens. Não só nos homens em geral, mas em certas classes — os fariseus, por exemplo; não só em certas classes, mas em certos homens concretissimamente considerados. Os vendilhões do templo estão imortalizados nas páginas do Evangelho, pelo castigo exemplar que sofreram.

Vós, que recomendastes a mansidão até seus últimos extremos, quando estivessem em jogo somente direitos pessoais; Vós, que quereis que respondamos voltando a outra face, quando recebermos uma bofetada; Vós no entanto empregastes uma ardente e santa difamação para desacreditar os fariseus e empunhastes o látego para pôr em sangue os vendilhões. É que se tratava, não de direitos meramente humanos, mas da Causa de Deus. E no serviço de Deus há momentos em que não recriminar, não fustigar, equivale a trair.

E estas mãos que foram tão suaves para os homens retos como João, o inocente, e Madalena, a penitente; estas mãos que foram tão terríveis para o mundo, o demônio e a carne, por que estão aí atadas e postas em carne viva? Porventura por obra dos inocentes, dos penitentes? Ou por obra dos que delas receberam merecido castigo, e contra esse castigo diabolicamente se revoltaram?

Ataram vossas mãos, reduziram ao silêncio vossa voz



Vossos inimigos amam tanto o mal, que, sob as humilhações das cordas que vos prendem, percebem ainda toda a força de vosso poder... e tremem!
Por que tanto ódio? Por que tanto medo, a ponto de terem julgado necessário atar vossas mãos, reduzir ao silêncio vossa voz, extinguir vossa vida? Seria porque alguém receasse ser curado ou afagado? Mas quem teme a saúde? Quem odeia o carinho?

Senhor, para compreender esta monstruosidade, é preciso crer no mal. É preciso reconhecer que a natureza humana facilmente se revolta contra o sacrifício; e quando entra no caminho da revolta, não há infâmia nem desordem de que não seja capaz. É preciso reconhecer que vossa lei impõe sacrifícios, que é duro ser casto, ser humilde, ser honesto, e em conseqüência é duro seguir vossa Lei. Vosso jugo é suave, sim; e vosso peso, leve. Não porém porque não seja amargo renunciar ao que em nós há de animal e desordenado, mas porque Vós mesmo nos ajudais a fazê-lo.

E quando alguém vos diz não, começa a vos odiar, odiando todo o bem, toda a verdade, toda a perfeição de que sois a própria personificação. E se não vos tem à mão sob forma visível, para descarregar seu ódio satânico, golpeia a Igreja, profana a Eucaristia, blasfema, propaga a imoralidade, prega a revolução.

Na Paixão, os beneficiados fugiram espavoridos

Estais manietado, meu Jesus. E onde estão os coxos, os paralíticos, os cegos e os mudos que curastes, os mortos que ressuscitastes, os possessos que libertastes, os pecadores que reerguestes, os justos a quem revelastes a vida eterna? Por que não vêm eles romper os laços que prendem vossas mãos?

Curioso paradoxo. Vossos inimigos continuam a temer vossas mãos, embora atadas, e por isto vos matarão. Vossos amigos parecem menos cônscios de vosso poder. E porque não confiam em Vós, fogem espavoridos diante dos que vos perseguem.

Por quê? Ainda aí a força do mal se patenteia. Vossos inimigos amam tanto o mal, que, sob as humilhações das cordas que vos prendem, percebem ainda toda a força de vosso poder... e tremem! Para estar seguros, querem transformar em chaga vossa última fibra de carne ainda sã, querem derramar a última gota de vosso sangue, querem ver-vos exalar o último alento. E ainda assim não estarão tranqüilos. Morto, ainda incutireis terror. Ser-lhes-á necessário lacrar vosso sepulcro e cercar de guardas armados o vosso cadáver. Como o ódio ao bem os torna perspicazes, a ponto de perceberem o que há de indestrutível em Vós!

E, pelo contrário, os bons não vêem isto com a mesma clareza. Reputam-vos derrotado, perdido... fogem para salvar a própria pele. Só têm olhos e ouvidos para pressentir o próprio risco. É que o homem é perspicaz só para aquilo que ama. E se vê melhor seu risco do que vosso poder, é porque ama mais sua vida do que vossa glória.

Não fazer concessões, nem se adaptar aos erros do século

Ó, Senhor, quantas vezes vossos adversários tremem diante da Igreja, enquanto eu, miserável, vendo-a manietada, reputo tudo perdido.

Mas quanta razão tinham vossos inimigos! Ressuscitastes. Não só as cordas e os cravos de nada valeram, mas nem a laje do sepulcro nem o cárcere da morte vos puderam reter. Sim, ressuscitastes! Aleluia!

Senhor meu, que lição! Vendo a Igreja perseguida, humilhada, abandonada por seus filhos, negada pelos costumes pagãos e pela ciência panteísta de hoje, ameaçada de fora pelos erros do comunismo, e por dentro pelos desatinos dos que querem pactuar com o demônio, hesito, tremo, julgo tudo perdido.

Senhor, mil vezes não! Vós ressuscitastes por vossa própria força e reduzistes a nada os vínculos com que vossos adversários pretendiam vos reter nas sombras da morte.

Vossa Igreja participa dessa força interior, e pode a qualquer momento destruir todos os obstáculos com que a cercam.

Nossa esperança não está nas concessões nem na adaptação aos erros do século. Nossa esperança está em Vós, Senhor.

Atendei as súplicas dos justos, que vos imploram por meio de Maria Santíssima. Enviai, ó Jesus, o vosso Espírito, e renovareis a face da Terra.


Ela começou a sofrer já antes de saber que seria a Mãe de Deus. Tendo sido concebida sem pecado original, pensava e tinha profundo conhecimento de tudo que se passava.

A respeito das dores de Nossa Senhora, basicamente pode-se dizer o seguinte: engana-se quem pensa que Ela teve na vida apenas um episódio de dor, no momento supremo da Paixão de seu Divino Filho. Não foi este um momento único, embora tenha sido a maior dor que jamais se tenha sentido no universo, abaixo da dor insondável de Nosso Senhor Jesus Cristo em sua humanidade santíssima. Foi uma dor tão grande, que recapitulou todas as dores do universo e tudo quanto os homens sofreram desde a queda de Adão e sofrerão até o último momento em que haja homens na Terra.

Nosso Senhor Jesus Cristo foi chamado pelo profeta Isaías de Vir Dolorum (Is 53, 3) [Varão das Dores]. A Paixão de Nosso Senhor não foi um fato isolado na sua vida, mas foi o ápice de uma seqüência enorme de dores, que começaram desde o primeiro instante de seu Ser e foram até o momento em que, com um dilúvio de dores, Ele exalou o terrível Consummatum est (Jo 19, 30) [Tudo está consumado].

Nossa Senhora, sendo um espelho da Sabedoria e da Justiça, reflete em si tudo quanto é de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, pode-se afirmar que Ela foi a Mulier Dolorum, a Dama das Dores. Teve a sua vida inteira invadida pela dor. Foi no entanto uma dor proporcional às forças incalculáveis que a graça lhe dava.

Como dor imposta pela Providência, por mais lancinante que tenha sido, não era dessas dores que põem tudo em turbulência, em provação, e que devastam uma alma. Eram dores imensas, mas muito arquitetônicas, sábias, e recebidas com uma serenidade de alma admirável. Na suprema amargura, conservava a paz. Assim, também de Nossa Senhora pode-se dizer que estava em paz em meio a uma amargura suprema.

No meio de um oceano de dores, tudo era equilibrado, raciocinado, carregado com amor e equilíbrio de alma incomparável, sem super-emoções, embora com uma quase infinitude de sentimentos. Sem torcidas, sem pânicos, mas com muito medo, muita angústia; e, nos momentos devidos, com um peso de dor que chegava quase a estraçalhar.

Durante a vida inteira, Nossa Senhora foi uma grande sofredora, mas teve também alegrias ao longo da vida inteira. Todas as alegrias do mundo –– desde o primeiro instante em que o homem nasceu no Paraíso terrestre até o último momento em que haja homens na Terra, todas elas somadas –– não se comparam às grandes alegrias da Santíssima Virgem. Essas dores e alegrias entrelaçaram-se continuamente. Ela vivia suportando o fardo das mais tremendas dores, e ao mesmo tempo aliviada pelas mais admiráveis alegrias.

Quais foram as dores de Nossa Senhora?

Fundamentalmente, Ela começou a sofrer já antes de saber que seria a Mãe de Deus. Tendo sido concebida sem pecado original, pensava e tinha profundo conhecimento de tudo que se passava. E tinha pela glória de Deus um zelo tal, que daria mil vidas para evitar um pecado mortal. Entretanto passava pela dor tremenda de ver a humanidade inteira inerte no pecado. Mais do que isto, Ela viu os pecados que se cometeriam por ocasião da vinda do Messias e os que viriam depois do Messias até o fim do mundo. E esses pecados causavam-lhe um tormento do qual simplesmente não temos idéia. Santo Inácio de Loyola disse que, se ele tivesse que passar a vida inteira de sofrimentos simplesmente para evitar que se cometesse um só pecado mortal, daria por bem empregados todos os sofrimentos de sua existência, de tal maneira o pecado mortal é um mal insondável.

Mas se esse santo pensava assim, o que pensava Nossa Senhora, diante da qual o maior santo é menos do que uma gota de água comparada a todos os mares? A santidade de Nossa Senhora não tem proporção com nada. Nós não podemos fazer o cômputo da desproporção entre a santidade de Maria Santíssima e a de todos os anjos e santos reunidos. Então, que tormentos isso seria para Ela?

Depois Ela recebeu a notícia magnífica de que seria a Mãe do Verbo Encarnado. Pode-se imaginar a alegria que Ela teve em adorar o Deus encarnado, no primeiro momento em que O concebeu por obra do Divino Espírito Santo. Mas também se pode imaginar a dor, pensando nos sofrimentos inenarráveis que seu Divino Filho padeceria.

Desde a infância de Nosso Senhor até sua morte na cruz


Pode-se imaginar a alegria que Ela teve em adorar o Deus encarnado, no primeiro momento em que O concebeu por obra do Divino Espírito Santo. Mas também se pode imaginar a dor, pensando nos sofrimentos inenarráveis que seu Divino Filho padeceria.
Nossa Senhora passa pelas dores na infância do Menino Jesus, depois pela dor da separação d’Ele. Mais tarde começam os milagres operados por Ele, começam as vitórias d’Ele — é o momento da alegria. Mas, pouco depois, começa a ingratidão dos homens. Começa a se preparar a tempestade das injustiças que levaram Nosso Senhor até a Crucifixão. Ela vai sofrendo com tudo isso. Por exemplo, considerando a ingratidão de que Ele era vítima por toda parte.

No momento da Paixão, Ela vê tudo o que Nosso Senhor sofreu, em cada transe, e sofreu junto. Se há santos e santas que desmaiaram ao terem a revelação do que Nosso Senhor sofreu na Paixão, como avaliar o que seria para Nossa Senhora o mínimo episódio da Paixão?

Afinal, vendo seu Filho no alto da cruz, as dores de Nossa Senhora atingem o inenarrável. Ela fica nessa alternativa: de um lado, desejar que Ele morra logo, para diminuir as dores; de outro lado, desejar que a vida d’Ele ainda se prolongue, porque toda mãe deseja prolongar a vida de seu filho; mas também devido à idéia de que assim Ele sofreria mais, e seria melhor para a remissão dos pobres pecadores. Ela adere à Paixão, adere ao prolongamento desse sofrimento, e mantém o propósito de concordar em que Nosso Senhor seja imolado.


Ela ama tanto a alma de cada um individualmente, que ainda que houvesse um só para ser salvo por aquele período de dores, Ela aceitaria que o Filho d’Ela passasse por aqueles tormentos para salvar essa alma.

Aceitação do sacrifício da cruz pela salvação das almas

A Santíssima Virgem desejava tanto a salvação de nossas almas, que aceitou que seu Filho passasse por tudo aquilo, pela alma de cada
um de nós. Ela ama tanto a alma de cada um individualmente, que ainda que houvesse um só para ser salvo por aquele período de dores, Ela aceitaria que o Filho d’Ela passasse por aqueles tormentos para salvar essa alma.

Imaginem Nossa Senhora vendo todos os tormentos. Por exemplo, a coroa de espinhos penetrar na fronte de Nosso Senhor e produzir lesões nervosas, fazendo todo o corpo estremecer no meio de todas aquelas dores; a coroa de espinhos chegando a atingir os olhos sagrados d’Ele; na Cruz, os braços d’Ele semi-separados dos ombros; a sede tremenda; o sangue que escorria de todos os lados; a febre altíssima; os estertores de todo o corpo contorcido pela dor.

Ela sabia de tudo isso, media tudo isso, entretanto aceitava tudo. Desejava que fosse assim. Era como que um sacrificador, um sacerdote que imola a Vítima Divina no alto do Calvário. Ela queria que aquilo fosse assim, pois se era este o preço para salvar uma alma, Ela queria que o Filho d’Ela sofresse o que estava sofrendo.

Aqui está a grandeza de Nossa Senhora. Não tanto na enormidade das dores que Ela sofreu, mas por ter desejado sofrer o que sofreu. Ela quis que o Filho d’Ela fizesse esse sacrifício tremendo e admirável por amor a cada um de nós, porque Deus quis sacrificar por amor de nós o seu Filho Unigênito.

Eu tenho idéia do que tem sido a minha ingratidão?


Na Semana Santa, minha primeira preocupação deve ser a de pensar na minha alma. Pensar sem temor, sem pânico, porque Deus é o Pai de Misericórdia e Nossa Senhora é a Mãe e canal de todas as misericórdias. Pensar com seriedade, pensar a fundo. Colocarme diante do Sangue de Cristo que corre, avaliar o que fiz desse sangue
A Semana Santa está se aproximando, e é o momento de fazermos uma reflexão a esse respeito. Cada um deve se colocar sozinho diante do Crucifixo, diante da imagem de Nossa Senhora das Dores, e esquecer o mundo inteiro. Diante de Deus, fazer esta pergunta: eu tenho consciência do que custou a minha salvação? Tenho idéia das dores que custaram as graças todas que tenho recebido? Tenho idéia de que, no alto da Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo pensou nominalmente em cada homem, desde o começo até o fim do mundo? E que, portanto, eu passei pela mente divina d’Ele, com pensamento de misericórdia, de bondade e de salvação?

Ele viu a minha alma, viu minha pessoa. Ele amou o meu ser, criado por Ele, e se imolou num ato de amor, porque quis minha salvação. Tenho idéia de que a minha salvação custou tudo isso? Tenho idéia do modo pelo qual eu tenho correspondido a isso? Tenho idéia do que tem sido a minha ingratidão? Quantas faltas cometidas, muitas vezes por imprudência, simplesmente porque não quis evitar uma ocasião de pecado, porque eu não quis fazer uma pequena mortificação! Pecando, peguei o Sangue de Cristo e o joguei na sarjeta. Sangue derramado por mim, e mesmo assim eu me pus em condições de perdição. E Deus ainda me tolerou nesta vida, me suportou e me esperou com outras graças novas, ainda maiores do que aquelas graças que eu tinha recebido.

E agora estou mais uma vez no momento da Semana Santa, uma ocasião de graças. O flanco de Nosso Senhor Jesus Cristo está aberto, jorrando misericórdia para mim e chamando-me à contrição, à penitência, à reconciliação magnífica com Ele. Há uma efusão de bondade e de carinho, como eu jamais poderia imaginar. Na Semana Santa, minha primeira preocupação deve ser a de pensar na minha alma. Pensar sem temor, sem pânico, porque Deus é o Pai de Misericórdia e Nossa Senhora é a Mãe e canal de todas as misericórdias. Pensar com seriedade, pensar a fundo. Colocar-me diante do Sangue de Cristo que corre, avaliar o que fiz desse sangue.

“Que utilidade houve no meu sangue?”

Nosso Senhor fez esta pergunta, e foi um dos maiores sofrimentos d’Ele: Quae utilitas in sanguine meo? Em última análise, do que adianta o meu sangue? Ele pensou em tantas almas que haveriam de pisar no sangue d’Ele. Levianamente, estupidamente, por uma ninharia, por uma bagatela. Por uma risada de criada, como no caso de São Pedro. Por trinta dinheiros, como Judas. Por preguiça, por vontade de dormir, como os outros Apóstolos. Por medo, por oportunismo, por sensualidade, por quantas coisas as almas haveriam de rejeitá-lo!

Nosso Senhor teve em vista a nossa época, e Nossa Senhora também. Ele teve em vista todas as traições de nossos tempos, todos os abandonos, tudo quanto as almas sacerdotais O fizeram sofrer. Se o pecado de qualquer homem tanto fez Nosso Senhor sofrer, quanto o faria sofrer o pecado dos próprios membros da Santa Igreja?

David, no Livro dos Salmos, tem esta queixa em relação a um que lhe fez mal: “Se o ultraje viesse de um inimigo, eu o teria suportado; se a agressão partisse de quem me odeia, dele me esconderia. Mas eras tu, meu companheiro, meu íntimo amigo, com quem me entretinha em doces colóquios; com quem, por entre a multidão, íamos à casa de Deus”. (Sl 54, 13-15).

Tudo de nossa época foi visto por Ele, mas visto também com amor. Pelo fruto desse sangue infinitamente precioso, haveria de brotar uma graça especial para alguns que são tão ruins quanto os outros — e às vezes piores do que os outros, mas que, por essa graça especial, foram chamados para serem fiéis nessa hora de infidelidade –– para serem aqueles que estão junto à cruz, como São João Evangelista, junto à ortodoxia, junto à verdadeira doutrina, na hora em que todo o mundo a abandona. São aqueles que compreendem o martírio da Igreja, a tragédia da Igreja corroída internamente pelo progressismo e entregue aos seus piores adversários. Esses foram chamados para lutar por Ela, para compreender sua dor, meditar sobre essa dor e viver essa dor — a dor da Santa Igreja Católica Apostólica Romana em nossos dias.

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