APARECIDA: Trono de Nossa Senhora, Porta do Céu


25/11/2012


Virgem e Mãe Aparecida, Soberana da Terra de Santa Cruz

A Excelsa Mãe de Deus, Rainha do Céu, mas também Rainha do Brasil, tem direitos efetivos sobre a nossa Pátria. Eis alguns trechos de outra conferência de Plinio Corrêa de Oliveira, pronunciada em 5-10-1964, na qual ele expõe aspectos do Brasil enquanto súdito de Nossa Senhora; e de Aparecida do Norte como devendo ser a autêntica capital brasileira — prenúncio do reinado do Coração Imaculado de Maria1 no Brasil.

Nossa Senhora: Rainha das grandes coletividades,
mas também Mãe das pequenas unidades
.

“É belo que exista algo de feudalismo na própria devoção a Nossa Senhora. Porque, assim como existem as grandes devoções universais à Santíssima Virgem, vicejam também as devoções nacionais.

Creio que não existe um só país que não tenha uma grande devoção a alguma invocação especial de Nossa Senhora; e no qual Ela não seja, debaixo de algum título, a Padroeira. Há também as invocações a Nossa Senhora em cidades e em regiões, como, por exemplo, Nossa Senhora da Penha, em São Paulo. E ainda há imagens de Nossa Senhora particularmente invocadas em determinadas paróquias.

Ou seja, Nossa Senhora, com aquela índole materna que é característica da missão d’Ela junto aos homens, se faz grande com os grandes, se faz pequena com os pequenos. Ela se faz universal para as grandes coletividades e se faz como que regional para vários grupos humanos. Desse modo podemos admirá-la em todas as dimensões: como Rainha das grandes coletividades, mas também como Mãe das pequenas unidades.

Eu até tenho visto instituições familiares com uma devoção especial por essa ou aquela invocação de Nossa Senhora, como representando uma relação especial d’Ela com determinada família. Assim, esse padroado de Nossa Senhora toma um sentido ainda mais pormenorizado. Na minha família paterna, por exemplo, há a devoção a Nossa Senhora da Piedade, que é comum entre todos os membros da família Corrêa de Oliveira. Quer dizer, é mais uma invocação, mais uma acomodação desse trato de Nossa Senhora com os homens. E por vezes existe ainda uma devoção para cada um individualmente.

Há, portanto, uma espécie de refração da imagem de Maria Santíssima, segundo várias grandezas, várias distâncias, vários sentidos, várias dimensões, povoando o firmamento mental do homem de vários modos.

*       *       *

Nessa perspectiva é que devemos considerar a devoção a Nossa Senhora Aparecida como Rainha do Brasil. A América Latina tem como Padroeira Nossa Senhora de Guadalupe, e no Brasil nós temos Nossa Senhora Aparecida. O que isso significa para nós?

É interessante notar como essa devoção nasceu, que características tomou e como foi se desenvolvendo ao longo da História do Brasil. Sabemos que ela nasceu no Vale do Paraíba, e conhecemos o seu ponto de partida. Em outubro de 1717, três pescadores [Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso], estavam pescando no rio Paraíba. De repente eles “pescam” com suas redes um tronco de imagem, e mais adiante sua cabeça. A pescaria, que estava muito difícil até aquele momento, tornou-se abundante. Depois eles construíram junto ao rio uma capelinha para a imagem que tinham encontrado, substituída mais tarde por uma capela maior. Muitos anos depois, ergueu-se no local uma igreja.

As graças ali alcançadas foram acentuadamente numerosas. O povo começou a afluir em quantidade, recebendo graças extraordinárias. [...]

*       *       *

Mas, ao mesmo tempo em que isto se dava, a devoção a Nossa Senhora Aparecida foi marcando a vida da Igreja. A tal ponto que, no pontificado de São Pio X, Ela foi coroada solenemente Rainha do Brasil, em 8 de setembro de 1904. Coroação efetivada num ato oficial, na presença de muitos membros do Episcopado nacional. De acordo com um decreto da Santa Sé, Nossa Senhora Aparecida passou a ser Rainha do Brasil. Depois, em julho de 1930, Pio XI declarou Nossa Senhora Aparecida Rainha e Padroeira do Brasil. [...]

E Nossa Senhora, portanto, ficou sendo no Céu a verdadeira Rainha de nossa Pátria. Esse fato nos deve ser muito grato, porque devemos ver nele um prenúncio do Reino de Maria.

*       *       *

Nossa Senhora aclamada Rainha do Brasil, o Reino de Maria, juridicamente, já ficou declarado. E juridicamente, para os efeitos celestes e para os efeitos terrestres, Ela tem direitos ainda maiores sobre o Brasil do que se Ela fosse Rainha apenas nesta Terra.

Devido a isto, temos uma obrigação especial de cultuar Nossa Senhora; de dar glória a Ela; de espalhar sua devoção por toda parte; de lutar junto aos outros povos que resistam ao culto de Nossa Senhora; de fazer, portanto, cruzadas em nome d’Ela. Com isso, é toda uma vocação nacional e mundial que se delineia para o Brasil, a partir precisamente dessa devoção a Ela como nossa Rainha.

Daí decorre também outro fato: se o Brasil não fosse oficialmente o País agnóstico e interconfessional que é, o verdadeiro seria — para determinados efeitos — a capital autêntica do Brasil ser Aparecida do Norte.

Após Nossa Senhora ter sido declarada Rainha do Brasil, eu não concebo a possibilidade de que os grandes atos da vida nacional se realizem em outro lugar que não em Aparecida: a promulgação de leis importantes; declaração de guerra; tratados de paz; grandes solenidades das ilustres famílias do País. Eu só concebo tais atos sendo realizados em Aparecida, que, pelo ato dessa coroação, ficou sendo o centro espiritual do País.

No momento em que tanto se discute “Brasília ou Rio”, nós esquecemos o verdadeiro polo: Aparecida, para esses efeitos, a verdadeira capital do País! Assim tem-se a perspectiva de como Aparecida deveria ser considerada.

*       *       *

É bonito imaginar como será a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, quando for instaurado no Brasil o Reino de Maria.1 Que honra, que pompa, que grandeza, que nobreza, que elevação essa basílica deveria ter!

Podemos imaginar uma grande conjunção de ordens religiosas contemplativas que deveriam se estabelecer naquela região; grandes confessores que fossem confessar ali, para fazer bem às almas; centros especiais de cursos para intensificação da devoção mariana; enfim, quanta e quanta coisa.

São desejos que não estão no reino dos sonhos. Estão no reino dos ideais. Nós, que confiamos na Providência Divina, sabemos bem a diferença que há entre um sonho e um ideal. Para o homem que não confia na Providência, todo ideal não é senão um sonho; para o que confia, muita coisa que parece sonho é um ideal realizável. Devemos esperar que Ela realize tais fatos, e fazer tudo para apressar esse dia — dia da constituição naquela localidade de uma ordem de coisas como deve ser, sintoma da remodelação de todas as coisas no Brasil e no mundo, para o cumprimento da promessa de Nossa Senhora em Fátima: ‘Por fim o meu Imaculado Coração triunfará’.

É para o triunfo do reinado do Coração Imaculado de Maria — que no Brasil se apresenta sob a devoção a Nossa Senhora Aparecida — que devemos rezar”.


Sacrílego atentado contra a Sagrada Imagem da Virgem Aparecida

Como vimos, é incomensurável a maternal predileção de Nossa Senhora pelo Brasil. E, certamente por causa disso, é visceral o ódio a Ela por parte dos inimigos da Santa Igreja. É o que passaremos a considerar.

Uma extrema manifestação desse ódio foi a tragédia sem precedentes ocorrida em 16 de maio de 1978, quando a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi arrancada sacrilegamente de seu trono sagrado por um protestante, atirada ao chão e reduzida a 200 pedaços!

Transtornados com esse acontecimento sinistro, todos seus filhos brasileiros se perguntavam se Deus não teria permitido esse nefando atentado como castigo pela nossa incorrespondência ao amor da Santíssima Virgem por nós e pelo fato de o Brasil não estar trilhando o caminho certo.2

Como filho extremamente fiel a Nossa Senhora, Plinio Corrêa de Oliveira repudiou o ato sacrílego e, além de promover uma peregrinação de vários quilômetros a pé até Aparecida, em sinal de desagravo, manifestou sua reparação também no artigo intitulado “A Imagem que se partiu” (“Folha de S. Paulo”, 29-5-1978).

Ilação entre as profecias de Fátima (1917)
e Nossa Senhora Aparecida (1717)
.

“Em sua brutalidade, o fato é este: O Brasil, há mais de dois séculos, venera Nossa Senhora como sua especial Padroeira. E essa veneração se dirige a Ela sob a invocação de Imaculada Conceição Aparecida.3

— Nossa Senhora Aparecida!

A exclamação acode frequentemente ao espírito dos brasileiros. E sobretudo nas grandes ocasiões. Pode ser o brado de uma alma aflita que se dirige a Deus pela intercessão da Medianeira que nada recusa aos homens, e à qual Deus, por sua vez, nada recusa. Pode igualmente ser a exclamação de uma alma que não se contém de alegria e extravasa seu agradecimento aos pés da Mãe, de quem nos vêm todos os benefícios.

A história da pequena imagem de terracota escura — com o seu grande manto azul sobre o qual resplandecem pedras preciosas, e cingindo à fronte a coroa de Rainha do Brasil — encheria livros. Esses livros, se fossem concebidos como eu os imagino, deveriam conter não só os insignes fatos históricos que a Ela se prendem, mas também, em apêndice, as legendas que a piedade popular a respeito deles teceu. É da amálgama de uma coisa e outra — história séria e incontestável, e legenda graciosa — que resulta a imagem global da Aparecida como ela existe no coração de todos os brasileiros:

— o escravo que rezava aos pés da Senhora concebida sem pecado original, ao mesmo tempo em que dele se acercava o dono inclemente, quando as algemas se rompem, o coração do amo que se comove, etc.;

— o Príncipe Regente que saudava a imagem no decurso do trajeto que o levava do Rio a São Paulo, onde iria proclamar a Independência e fazer-se imperador;

— o ato do novo monarca colocando oficialmente o Brasil sob a proteção da Virgem Imaculada Aparecida;

— a coroação da imagem com a riquíssima coroa de ouro cravejada de brilhantes, oferecida anos antes pela Princesa Isabel, coroação feita em 8 de setembro de 1904 pelos bispos da Província Meridional do Brasil e de outros pontos do País, em razão do decreto do Cabido da Basílica Vaticana, aprovado por São Pio X;

— o velho Venceslau Brás, ex-presidente da República, assistindo piedoso, no jubileu de prata da coroação da imagem, à missa hieraticamente celebrada por D. Duarte Leopoldo e Silva, reluzente daquela como que majestade episcopal tão caracteristicamente dele;

— a solene proclamação do decreto do papa Pio XI, de 16 de julho de 1930, constituindo e declarando ‘a Beatíssima Virgem Maria, concebida sem mácula, sob o título de Aparecida, padroeira principal de todo o Brasil, diante de Deus’;

— a apoteótica manifestação do dia 31 de maio de 1931, em que o episcopado nacional, diante da milagrosa imagem levada triunfalmente ao Rio de Janeiro em trem-santuário, na presença das maiores autoridades civis e militares e em união com todo o povo — mais de um milhão de pessoas! — consagrou o País a Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

E assim por diante, sem falar das curas, aos milhares. Quantos milhares? Cegos, aleijados, paralíticos, leprosos, cardíacos, que direi eu mais! Multidões e multidões sem conta de devotos, vindas do Brasil inteiro, com as mães contando às criancinhas, ao voltarem para os lares, alguma narração piedosa sobre a santa, inventada na hora ou ouvida da avó ou da bisavó. Bem entendido, narração enriquecida, de geração a geração, com mais pormenores maravilhosos. Quem conta um conto...

Tudo isso levava o Brasil inteiro a emocionar-se — e com quanta razão — ante a pequena Imagem de terracota escura, vendo nela o sinal palpável da proteção de Nossa Senhora.

E o sinal se quebrou.

Por sua vez, essa quebra não será um sinal? Sinal de quê? [...]

Amigos meus que conversaram há dias com altíssima personalidade eclesiástica, dela ouviram que o sacrilégio teria relação com a aprovação do divórcio no Brasil.

A hipótese faz pensar. Talvez, entristecida a fundo pela promulgação do divórcio, Nossa Senhora, ao permitir o crime, tenha querido fazer ver ao povo brasileiro seu desagrado pelo fato. Seria bem isso? Sem dúvida, a introdução do divórcio foi um gravíssimo pecado coletivo cometido pela Nação brasileira. [...]

Há dois aspectos pelos quais a aprovação do divórcio pode ser relacionada com o crime sacrílego. De um lado, se o divórcio foi aprovado, é porque a resistência contra o mesmo foi insuficiente. Quando o sr. N. Carneiro era aclamado aos brados pelo plenário do Congresso e por uma minoria que abarrotava as galerias, logo depois da aprovação da lei, a Nação dormitava. E essa soneira em hora tão grave exprime, por sua vez, uma flagrante falta de zelo. Pois não nos basta não fazer uso da lei. Se não a queríamos, por que não a impedimos?

Por outro lado, como não reconhecer nesse censurável indiferentismo, não um estado de espírito de momento, mas uma atitude de alma resultante de efeitos ainda muito mais profundos?

Quando a moralidade das modas decai assustadoramente, quando os costumes sociais se degradam a todo momento e a limitação da natalidade, praticada por meios condenados pela Igreja, vai ganhando proporções assustadoras, prepara-se o caldo de cultura para o comunismo. Este, embuçado em criptocomunismos, eurocomunismos, socialismos e outros disfarces ideológicos, vai avançando. Como não reconhecer nisto um complexo de circunstâncias nas quais se insere, com toda a naturalidade, o divórcio?

*       *       *

Isto dito, como não lembrar a profecia de Nossa Senhora, feita em Fátima pouco depois da queda do tzarismo?

Eis as palavras d’Ela: ‘Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará’.

É impossível não perguntar se existe uma relação entre essa trágica e materna previsão, desatendida pelo mundo ao longo dos últimos 60 anos, e a também trágica ocorrência de Aparecida. Não será esta um eco daquela? Um eco destinado especialmente ao Brasil, pois que entre nós, e contra a imagem de nossa Padroeira, o crime se deu.

Especialmente para o Brasil, sim; exclusivamente para o Brasil, quiçá não. Pois nosso País é o que tem hoje em dia a maior população católica do globo. E Aparecida é, depois de Guadalupe, o santuário mariano de maior afluxo de peregrinos em todo o orbe. Pelo que, quanto aqui ocorra em matéria de devoção marial tem um significado para o mundo inteiro.

Muitos dirão que a ilação entre Fátima e Aparecida não pode ser afirmada, por falta de provas cabais. Não entro aqui na análise da questão. Pergunto simplesmente se há quem se sinta com base para negá-la...”


A metáfora da Rainha Destronada, os inimigos e o pugilo de fiéis

Se muitos querem não apenas abolir o título de Nossa Senhora Aparecida como Rainha e Padroeira do Brasil, mas ultrajá-La e arrancá-La de seu trono de glória, seus filhos fiéis não podem permanecer indiferentes diante disso. Pelo contrário, devem oferecer reparação, manifestando a Ela amor e dedicação ainda mais profundos. Nesse sentido se exprime Plinio Corrêa de Oliveira, usando linguagem metafórica, em conferência de 26-2-1966:

A Rainha vai ser arrancada do trono.
Pergunta-se: o que nós vamos fazer?

“Nossa Senhora é como uma Rainha que está sentada no seu trono. A sala está cheia de inimigos. Os inimigos já lhe arrancaram o dossel, já tiraram da sua fronte veneranda a coroa de glória a que Ela tem direito, já lhe arrancaram das mãos o cetro. Ela está amarrada para ser morta.

Dentro dessa sala cheia de gente poderosa, armada, influente — todos diante da Rainha que não faz outra coisa senão chorar —, há também um pugilo de fiéis, e Ela evidentemente olha para tais fiéis. Assim, ou este olhar faz em nós o que o olhar de Jesus fez em São Pedro, ou não há mais nada para dizer…

A Rainha vai ser arrancada do trono. Pergunta-se: o que nós vamos fazer? Nesta hora de tal olhar, isso não me interessa? Este olhar não me sensibiliza?

Poder-se-ia então perguntar: quem sou eu? Eu sou o homem para quem Nossa Senhora olhou!

Mas serei o homem a quem Ela terá olhado em vão?”.

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