Itália: Peregrinação a San Giovanni Rotondo
07/07/2008
Julio Loredo
Nessa cidade italiana, marcada pela vida do Padre Pio — também conhecido como São Pio de Pietrelcina —, são expostas as relíquias desse santo sacerdote
Roma — Não podíamos faltar no dia da ostentação das relíquias do Padre Pio. Éramos 53 pessoas, a metade composta de italianos, cooperadores da Associazione Luci sull’Est, e a outra metade poloneses da Associação Padre Piotr Skarga, ambas instituições inspiradas nos ideais e atuação do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP brasileira. Partimos de Nápoles, onde no dia anterior tínhamos visitado o Santuário de Nossa Senhora de Pompéia, ao pé do famoso Vesúvio.
Durante a viagem, as naturais barreiras lingüísticas e culturais entre os dois grupos começaram a se evaporar. O terço e as ladainhas foram rezados, parte em latim — língua comum dos católicos — e também em italiano e polonês. Cada grupo cantou hinos religiosos da própria tradição. O grupo de napolitanos deleitou-nos com velhas músicas em seu dialeto, algumas compostas por Santo Afonso Maria de Ligório no século XVIII. Diante de nossos olhos estendiam-se até o horizonte campos de um verde vivíssimo, entremeados de papoulas vermelhas e margaridas brancas.
Dirigimo-nos primeiramente ao santuário de San Michele al Gargano, a poucos quilômetros de San Giovanni Rotondo. Pouco conhecido fora da Itália, esse santuário é um dos principais lugares religiosos do mundo, onde o arcanjo São Miguel apareceu quatro vezes. A primeira, no ano 463, quando disse a um rico proprietário da região: “Eu sou o arcanjo Miguel, e estou sempre na presença de Deus. Esta gruta é sagrada, e eu sou o seu guardião. Aqui serão perdoados os pecados dos homens. Todas as orações serão atendidas”. Nesse monte surgiu então uma basílica dedicada ao Príncipe das Milícias Celestes, lugar de peregrinação dos cruzados antes de partirem para a Terra Santa a fim de combater os mouros. A última aparição ocorreu em 1656, quando São Miguel salvou a região de uma terrível peste. O próprio Padre Pio era muito devoto do arcanjo, e dizia sempre aos fiéis: “Ide rezar a São Miguel, ele é muito poderoso contra o demônio”.
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Chegando a San Giovanni Rotondo, fomos acolhidos por Mons. Juan Rodolfo Laise, bispo emérito de San Luis (Argentina), atualmente residente naquela cidade italiana. Com uma amabilidade que a todos impressionou, Mons. Laise nos foi mostrando os diversos lugares marcados pela presença de Padre Pio: a sua cela; o lugar onde ele se alimentava no refeitório dos frades; a pequena capela onde celebrava a Missa (sempre em latim, pois nunca aceitara as reformas na liturgia); o corredor pelo qual ele passava, deixando-o manchado pelo sangue que vertia de seus estigmas; o jardim onde ele rezava o terço, etc. Em cada um desses lugares, parecia que se via o Padre Pio.
Durante a visita, um guia nos explicava episódios pouco conhecidos da vida do santo sacerdote. Por exemplo, sua firme posição a favor da monarquia no referendum de 1947; sua campanha contra a reforma agrária socialista e em defesa da propriedade privada; seus ardorosos sermões contra o comunismo, que ele considerava “a ruína da sociedade”, etc. Nele conviviam o místico e o homem perfeitamente consciente dos problemas de seu tempo, nos quais não hesitava em intervir, suscitando não poucas inimizades.
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No final, Dom Laise nos levou até a cripta onde é exposto à veneração dos fiéis o corpo do Santo. Fechado numa urna de cristal (foto ao lado), paramentado com o hábito de frade capuchinho, o rosto retocado com uma ligeira capa de silicone, a barba branca como a neve, São Pio de Pietrelcina parece apenas dormir. Dele se desprende uma sensação ao mesmo tempo muito serena e muito forte. Eram precisamente estas as características de sua personalidade: de um lado, uma serenidade celestial, fruto de altíssimas contemplações e constante oração; de outro, uma força ferrenha que, por exemplo, levava-o a negar a absolvição aos penitentes que não demonstrassem perfeita contrição.
Na volta, reinava profundo silêncio no ônibus. As impressões tinham sido tantas, que mal conseguíamos pô-las em ordem na cabeça. Aos poucos começamos a rezar, depois a conversar, e por fim a cantar. Quando chegamos a Nápoles, à noite, pairava uma tal alegria, que mais de uma pessoa exclamou: “Foi o dia mais feliz da minha vida!”.
Veja:
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