Plinio Corrêa de Oliveira, desde pequeno, cultivou os valores contra-revolucionários


03/10/2008

Adolpho Lindenberg

Um dos mais renomados engenheiros de nossa época, fundador da Construtora Adolpho Lindenberg (CAL), Dr. Adolpho é das poucas pessoas ainda vivas que teve o privilégio de privar com Plinio Corrêa de Oliveira em sua infância, uma vez que era seu primo-irmão. Na proximidade das comemorações do centenário de nascimento do Prof. Plinio, que ocorrerá em dezembro deste ano, Catolicismo pediu a Adolpho Lindenberg uma colaboração na qual narrasse algumas recordações daquele convívio. Numa linguagem muito atraente, o engenheiro e empresário paulista nos descreve, além dos fatos referentes ao período de infância, o modo como desde pequeno o Prof. Plinio foi forjando seu ideal, que veio a ser inteiramente explicitado décadas depois em sua obra Revolução e Contra-Revolução.

Quais são as mais antigas recordações que guardo, com carinho, dos tempos em que meu primo-irmão, Plinio Corrêa de Oliveira, era moço e eu uma criança?

Nossa diferença de idade era de 16 anos. Ele vivia na casa de nossa avó materna, Gabriela Ribeiro dos Santos, porque tio João Paulo, pai de Plinio, embora muito bom advogado, não teve sucesso enquanto administrador, teve prejuízos com fábricas que tentou dirigir, sem habilidade para tanto. Nossa avó — matriarca de estilo antigo, que marcou época na sociedade paulista de fim do século XIX e início do século XX — era monarquista. No meio republicano em que vivia, nunca escondeu suas relações com a Princesa Isabel, então exilada na França. Podia-se mesmo dizer que vovó foi uma expressão do Brasil antigo, tinha hábitos em que se sentia o Império e o Brasil do interior. Um quadro que pertencia a Plinio, pintado por conhecido retratista francês, apresenta vovó como uma bela senhora, com olhar decidido, vivo, inteligente e maternal.

Ela exigia que seus cinco filhos e respectivos consortes fossem visitá-la diariamente em sua residência situada no bairro dos Campos Elíseos. Isso permitiu que eu tivesse com Plinio um convívio praticamente de irmãos.

Lembro-me de que ele era uma pessoa bem alta para a época, quase 1,80 m, bem gordo, extraordinariamente loquaz, dono de uma voz forte, riso fácil e contagioso, comunicativo ao extremo. Numa palavra, uma personalidade que se impunha pela presença, mas que cativava pela afabilidade e atenção dada a todos os que com ele conversavam.

Na espaçosa residência, falava-se e se discutia de tudo: história, religião, política, o governo de Getúlio Vargas, monarquia, república, divórcio, fatos do dia-a-dia. Nunca vi meu primo contando piadas, mas ele tinha um gosto todo especial em apresentar historietas e episódios históricos, com seus personagens pitorescos, paradigmáticos ou mesmo hilariantes.

Conversava com prazer sobre tudo o que tivesse relação com o mundo cultural ou com questões ideológicas. Com muitas metáforas, ditos de espírito e análises de pessoas, comparações surpreendentes entremeadas de grandes explicitações, mas também com características caseiras e despretensiosas, suas conversas sempre foram consideradas entretidas, interessantes e agradáveis, até por pessoas hostis a seu pensamento.

Um beneditino alemão, que ia freqüentemente ao seu escritório de advocacia para tratar de assuntos da Ordem, confidenciou-me que discordava de quase tudo o que ele dizia, mas julgava sua conversa de tal modo interessante, que nunca perderia a oportunidade de estar com ele. Foi sempre um ótimo ouvinte. Costumava dizer: “A gente conversa sobre o que o outro quer, não sobre o que a gente quer”. Atento, paciente para com os tímidos, como que mergulhava no mundo dos pensamentos daqueles com quem conversava.

Fiz de passagem uma referência a Getúlio, e convém aqui esclarecer que Plinio sempre detestou o getulismo, um movimento político que ele considerava igualitário e revolucionário, responsável pelo fim da “República velha”. Esta, que se caracterizava pela alternância de políticos tradicionais mineiros e paulistas no governo da Nação — o tão conhecido esquema “café com leite” —, tinha laivos aristocráticos, apesar de ser um regime republicano. Os chamados “coronéis” e os “barões do café” governavam então o País, e seu afastamento das lides políticas abriu as portas do Brasil para as ideologias totalitárias, que em menos de dez anos levaram o mundo à maior de suas guerras.

Ambiente familiar aconchegante e tradicional


Com sua irmã Rosée
Talleyrand, grande diplomata francês e exímio homem de sociedade, comentou que não conhecia bem a doçura de viver quem não conhecera a sociedade de antes da Revolução Francesa. Respeitadas as proporções, penso que quem não conheceu as delícias do bem viver de uma família patriarcal, da época de nossa avó, tem dificuldade para compreender como um ambiente familiar pode ser tão aconchegante, agradável, harmônico e cheio de vida.

Plinio viveu nesse meio, fez parte dele e o analisou meticulosamente. Foi nesse círculo social que pôde observar como os preconceitos, tendências e mentalidades podem predispor as pessoas a aderir a esta ou àquela ideologia.

Ele guardava muito vivas as recordações daquela época. Três meses antes de sua morte, estando já doente e enfraquecido, deu-se a última conversa que tive a sós com ele. No fim do encontro, começou a relembrar e a discorrer sobre os antigos tempos, seu convívio com sua irmã Rozenda (Rosée, para os íntimos), primos e amigos, o ambiente – tão vivo por um lado, e tão sério por outro – que reinava na casa de vovó. Fiquei quieto e não o interrompi, compreendendo como ele, ainda muito mais do que eu, sentia saudades da boa ordem, seriedade e bem-estar daquele pequeno mundo, tão agradavelmente patriarcal. Terá esse ambiente contribuído para aumentar em Plinio seu amor à tradição? Creio que sim. No fim da conversa, ele agradeceu minha atenção em ouvi-lo discorrer tão longamente sobre velhas lembranças, e se retirou. Pouco tempo depois, em outubro de 1995, já não estava entre nós.

Foi no convívio com nossa avó, seus pais, seu tio Gabriel, sua irmã Rosée, seus oito primos e os amigos que freqüentavam regularmente a casa, que ele passou sua infância e adolescência, começou a ordenar e estruturar seus pensamentos, formou seu caráter. Foi esse o fundamento que lhe possibilitou depois dedicar sua vida à Igreja e tornar-se o “Cruzado do século XX” — como tão bem o denominou o prof. Roberto de Mattei ao escrever sua biografia.

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