Como nasceu a providencial obra Revolução e Contra-Revolução
14/10/2009
Caio Vidigal Xavier da Silveira
Esse livro de Plinio Corrêa de Oliveira apresenta as linhas mestras de seu pensamento e vem formando, nos cinco continentes, contra-revolucionários que o têm como “livro de cabeceira”
Por feliz proximidade de datas, em 2008 comemorou-se o centenário do nascimento de Plinio Corrêa de Oliveira; e em 2009, o cinqüentenário da publicação de sua obra-mestra Revolução e Contra-Revolução.
A causa é sempre maior que o efeito, portanto todo autor é maior que sua obra intelectual, qualquer que ela seja. O pensamento vasto e rico de Dr. Plinio vai muito além de sua obra básica, e ele o explicitou através de diversos outros livros e de considerável série de conferências aos membros do movimento por ele fundado em 1960, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — TFP. Aprofundou também esse conteúdo em palestras, comissões de estudos, artigos para jornais e revistas, manifestos, consultas que recebia de simpatizantes dos cinco continentes, sem contar os sábios conselhos que dava, segundo os princípios de Revolução e Contra-Revolução, aos que lhe pediam uma orientação pessoal.
Todo esse vasto ensinamento forma um invulgar acervo de sabedoria, de grande envergadura, e a consideração de uma obra isoladamente não permite medir-se a grandeza da vocação de Plinio Corrêa de Oliveira. Entretanto, nesta imponente manifestação de sabedoria, Revolução e Contra-Revolução ocupa lugar de especial destaque, a tal ponto que o autor desejou que sua cabeça repousasse sobre um exemplar dessa obra em seu esquife.
Mais que uma sinopse de seu pensamento, Revolução e Contra-Revolução é uma síntese do ideal ao qual ele consagrou sua vida. Síntese que haveria de se tornar o ponto de união para a coorte de discípulos que colaboravam com ele no embate contra a Revolução gnóstica e igualitária, visando opor-lhe obstáculos e mesmo destruí-la [Vide quadro à p. 33]. Tinha em vista ainda contribuir para o lançamento das bases do Reino de Maria, pregado por São Luís Maria Grignion de Montfort (1673 -1716) no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, e anunciado por Nossa Senhora em Fátima, em 1917, com as proféticas palavras: “Por fim meu Imaculado Coração Triunfará”.
É a justo título, portanto, que os discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira tomam como tema central de suas reflexões e atividades Revolução e Contra-Revolução — que, a partir deste ponto, denominarei R-CR, sigla com a qual seus seguidores designam a obra desde seu lançamento no centésimo número de Catolicismo (abril de 1959).
Primeiras idéias sobre a Revolução e a Contra-Revolução
Para melhor compreensão desta matéria, iniciarei com uma breve exposição histórica sobre a gênese do livro na vida de Plinio Corrêa de Oliveira e na história do pequeno grupo inicial de seus discípulos.
Nas entrevistas que Dr. Plinio concedeu a jornalistas de diferentes partes do mundo, quase infalivelmente uma das primeiras questões que lhe propunham era esta: “Que livro teve papel determinante em sua vida?”; ou: “Em que obra formou suas idéias?”. Para grande surpresa deles, Dr. Plinio explicava que formara suas idéias no grande livro da vida. Na concepção um tanto “livresca” de alguns desses jornalistas, esta originalidade interrompia a seqüência de livros que nascem uns dos outros. Não foi lendo livros que as primeiras idéias sobre a Revolução e a Contra-Revolução germinaram na mente do jovem Plinio: “Em vez de ler a doutrina num livro e aplicá-la aos fatos, instintivamente tive que tomar posição diante dos fatos e adivinhar a doutrina que eles continham”, explicou ele.
As primícias do pensamento expresso muitos anos depois em R-CR vieram-lhe instintivamente ao comparar o ambiente agitado, vulgar, descortês que dominava o pátio de recreio do Colégio São Luís (dos padres jesuítas, na capital paulista, que freqüentava) com o ambiente digno, solene, recolhido que reinava na residência de sua avó materna, Da. Gabriela Ribeiro dos Santos, que ele associava ao ambiente piedoso e elevado das missas dominicais da paróquia do Sagrado Coração de Jesus.
Foi elaborando seu pensamento ao observar que seus companheiros mais vulgares eram ao mesmo tempo os mais irreligiosos, os mais grosseiros; gostavam de contar piadas impuras, revoltavam-se facilmente contra a autoridade dos professores, preferiam os filmes de Hollywood às revistas que vinham da Europa. Para estarem na moda, proclamavam-se “republicanos” e ridicularizavam os membros da família imperial, destronada poucos anos antes.
Dois mundos — dois inimigos irreconciliáveis
Plinio Corrêa de Oliveira aos 11 anos de idade |
Assim, aos 11 anos, Dr. Plinio compreendeu os vínculos que existiam entre irreligião, igualitarismo e imoralidade, de um lado; e de outro a Religião, o espírito de hierarquia e a castidade. De onde concluir, ainda em sua infância:“Este mundo novo e eu somos dois inimigos irreconciliáveis. Serei pela Igreja, pela castidade e pela monarquia; serei pela hierarquia social e pelas boas maneiras; ainda que, para isso, eu tenha que me tornar o último dos homens, pisado, esmagado, triturado”.
Compreendeu aos poucos que o choque entre esses dois mundos (o do lar tradicional de sua avó e o do recreio dos alunos na escola dos jesuítas) fazia parte de um processo mais amplo, velho de vários séculos, que abrangia toda a civilização ocidental. Ignorava ainda as características desse processo, que se desenvolvia entre dois pólos: sociedade católica e hierárquica da Idade Média (representada em seu espírito pela figura de Carlos Magno e seus pares, que ele começara a admirar quando durante uma viagem de trem leu um livro a respeito) e a sociedade atéia e igualitária da Rússia comunista, sobre a qual os jornais daquela época davam a conhecer fatos apavorantes todos os dias.
Interação entre libertinagem e comunismo
Mais tarde, ao entrar na universidade, Dr. Plinio chegou à conclusão de que o comunismo e as revoluções sociais precedentes não eram questões puramente políticas, mas predominantemente morais. Se o pólo do bem alimentava-se das virtudes cristãs, o pólo do mal encontrava seu dinamismo nas paixões desordenadas, rebeladas contra a ordem posta por Deus no Universo. Assim, aos 21 anos, explicava em um artigo a revolta dos homens contra a verdade: “Por causa, principalmente, do orgulho e desregramento dos sentidos, rebeldes a todo o freio, a toda a lei” (“O Legionário”, nº 64, de 24-8-30, pp. 1 e 3 –– Quid est veritas?).
Nota-se um aprofundamento desta noção (a ligação entre as paixões desordenadas e as revoluções) em outro de seus artigos para o semanário “O Legionário”, em que fazia uma aproximação de causa e efeito entre a corrupção do carnaval do Rio de Janeiro e o progresso do comunismo:
“Para 90% dos paulistas — a porcentagem talvez seja otimista — nenhum nexo há entre carnaval e comunismo. [...] Entretanto, há um nexo, e não é difícil demonstrá-lo. Depois de três dias de troça imensa, em que foram aplaudidas entusiasticamente e praticadas deliberadamente todas as transgressões da moral privada –– e em que foi malbaratada a dignidade pessoal, foi destruído o lar, e foi talvez maculado o nome de famílias inteiras –– que ardor, que entusiasmo, que empenho poderá ter um carnavalesco em combater o comunismo e o amor livre, e em defender a integridade da família? Não é certo que um carnavalesco é um homem semiconquistado para o amor livre, e por isto mesmo semiconquistado para Lenine? [...]
“A propriedade e a família são duas coisa inseparáveis, e qualquer sociólogo ou filósofo, mesmo de segunda classe, não ignora nem contesta esta verdade. Quem é pelo amor livre tem de ser necessariamente contrário à propriedade individual, e vice-versa. Depravando a família, o carnaval solapa implicitamente a propriedade.
“No entanto a cegueira é tal, que todos colaboram para que nenhum setor da sociedade deixe de ser atingido pela influência de Momo” (“O Legionário”, nº 285, 27-2-38 –– Momo, agente de Stalin).
Em artigo contra o nazismo, podemos constatar que ele percebia, muito antes de escrever o livro R-CR, a conexão entre sensualidade desregrada e comunismo:
“A Providência deu-me sempre a graça de ver a fundo o mal que o liberalismo produzia e produz na sociedade contemporânea, o câncer profundo e voraz que ele instalou no mais íntimo das vísceras do mundo hodierno. Percebi nitidamente como, do bojo de suas doutrinas, saía o comunismo anarquizante e ateu. Detestei de todo o coração a árvore e os frutos; e, respeitador da autoridade por temperamento e por força da educação, na luta contra o liberalismo e o comunismo levei todo o vigor de minhas convicções religiosas, de minhas convicções políticas e das tendências essenciais de meu temperamento” (“O Legionário”, nº 318, 16-10-38 –– A aurora dos deuses).
Dr. Plinio percebia a interação entre liberalismo e comunismo, assim como a cumplicidade dos mais influentes meios na difusão do liberalismo. Mas, desde cedo, teve ainda a intuição de que havia uma conspiração por trás do progresso das paixões desordenadas dentro da sociedade. A leitura do livro A Conjuração Anticristã, de Mons. Henri Delassus, confirmou-o nesta convicção e forneceu-lhe os elementos históricos que lhe faltavam para basear sua tese.
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Veja:
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/
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