Nova edição italiana de Revolução e Contra-Revolução


11/01/2010

Julio Loredo

Em congresso no auditório do Pontifício Instituto Augustinianum, homenagem a Plinio Corrêa de Oliveira por ocasião do cinqüentenário de sua magna obra.

Roma — De acordo com os antigos romanos, habent sua fata libelli (os livros têm o seu destino): alguns saem da tipografia e vão diretamente para o lixo, não interessam a ninguém; outros, insuflados por potentes propagandas midiáticas, convertem-se logo em best-sellers, para serem esquecidos logo que a propaganda desliga suas tubas. São poucos os livros que, sem nenhum suporte da propaganda, conseguem penetrar nas mentes e nas consciências até se converterem em verdadeiros clássicos, cuja importância cresce com o tempo.



Maître à penser da direita italiana

A esta última categoria pertence, sem dúvida alguma, a obra-mestra do grande pensador católico brasileiro Plinio Corrêa de Oliveira –– Revolução e Contra-Revolução (R-CR).

Já na época de sua publicação, em 1959, o então decano do Sagrado Colégio dos Cardeais, S. Ema. Eugenio Tisserant, comentara: “Esta obra é da mais alta importância para os tempos em que vivemos”. Hoje, meio século mais tarde, podemos dizer que esta importância não fez senão aumentar. Com 30 edições em oito línguas, Revolução e Contra-Revolução é, sem dúvida alguma, um dos livros mais importantes de nossos tempos.

Concretamente na Itália, a repercussão dessa obra a coloca como uma das que mais têm influído em vastos setores da opinião pública nacional: “O que existe hoje de catolicismo tradicional na Itália é da escola brasileira de Corrêa de Oliveira”, escreveu em 1996 o conhecido teólogo e jornalista Pe. Gianni Baget Bozzo. Já em 1993, o diário romano “Il Tempo” qualificara o Dr. Plinio como “um dos maîtres à penser da direita italiana”. Mais recentemente, o site do prestigioso Istituto Storico per l’Identità Nazionale, de Roma, registrou: “Revolução e Contra-Revolução tem sido o livro de cabeceira, o livro de reflexão e o guia para a ação de várias gerações de católicos italianos”.

Uma pesquisa nos sites italianos da Internet mostra mais de 10.000 menções ao líder brasileiro. A ele são dedicados diversos sites, blogs e grupos Facebook. É comum ver seu nome citado em jornais e revistas. Suas obras são estudadas em universidades e em seminários. E não podemos esquecer que na Itália se publicou em 1996, a primeira biografia dele, escrita pelo Prof. Roberto de Mattei: Il crociato del secolo XX, Plinio Corrêa de Oliveira.

Revolução e Contra-Revolução na Itália

A história da R-CR na Itália começa em 1964, com a primeira edição traduzida por Giovanni Cantoni e publicada por Dell’Albero, de Turim. Em 1973, a segunda edição italiana foi editada por Cristianità, de Piacenza, órgão de Alleanza Cattolica, fundada por Cantoni.

Em 1977, em vista de uma nova edição do livro, Giovanni Cantoni pediu ao Dr. Plinio, com quem mantinha estreitos contatos de amizade, alguns comentários para atualizar a obra. O autor preferiu escrever a Parte III, sob o título Vinte anos depois, analisando os novos panoramas que se abriam, sobretudo a partir da revolução da Sorbonne em 1968.

Em 1992, Dr. Plinio acrescentou ao livro algumas notas e um posfácio.

Em 1998, para comemorar os 90 anos do nascimento de Plinio Corrêa de Oliveira, a Associazione Luci sull’Est, de Roma, publicou a quarta edição italiana com um ensaio introdutório sobre a gênese do pensamento do autor, amplamente difundida pelo correio em todo o país.

E chegamos assim a 2009, ano do cinqüentenário da obra, que agora sai à luz em nova edição preparada por Giovanni Cantoni e publicada pela Sugarco, de Milão (foto ao lado). Contém a obra original na sua íntegra, uma série de escritos do próprio Dr. Plinio que desenvolvem as teses do livro, além dos prólogos às diversas edições e outros textos atinentes.

Brilhante congresso no Augustinianum

A edição italiana comemorativa do cinqüentenário de Revolução e Contra-Revolução foi lançada em 21 de novembro último, num congresso realizado em Roma no auditório do Pontifício Instituto Augustinianum, ao lado da Praça São Pedro. Organizado pela Associazione Tradizione Famiglia Proprietà – TFP e por Alleanza Cattolica, o encontro contou com centenas de participantes. Presentes na primeira fileira figuravam S. Exa. D. Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Karaganda (Cazaquistão), e S. Exa. D. Juan Rodolfo Laise, bispo emérito de San Luis (Argentina). Participaram também monsenhores e muitos sacerdotes. Chamava a atenção a jovem idade destes últimos, prova de que precisamente nas novas gerações a Tradição encontra seus maiores entusiastas.

 

O congresso comportou duas sessões: a primeira foi presidida por S.A.I.R. Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil; a segunda, por Dr. Caio Xavier da Silveira, presidente de Pro Europa Christiana. Apresentaram os oradores, respectivamente, Sr. Juan Miguel Montes, da TFP italiana, e Dr. Attilio Tamburrini, de Alleanza Cattolica.

O Sr. Montes [foto ao lado], a propósito da capa do livro com a imagem de Nossa Senhora do Apocalipse, esclareceu que este símbolo evoca a eterna inimizade entre Maria Santíssima e o demônio, entre os filhos da Virgem e os filhos das trevas, descrita no Gênesis, e a luta entre a Revolução e a Contra-Revolução, um desenvolvimento dessa luta milenar em nossos dias.


Exprimindo-se em francês, o Príncipe Dom Bertrand lembrou os estreitos vínculos que uniam a Família Imperial brasileira com a família de Dr. Plinio, especialmente a íntima amizade deste com seu pai, o Príncipe Dom Pedro Henrique, autor do prólogo à primeira edição francesa: “Uma grande afinidade ideológica unia meu pai a Plinio Corrêa de Oliveira, e assim aderiu à escola de pensamento e de ação por ele fundada”.

Beleza da Cristandade x vulgaridade do moderno

 

O primeiro orador, Prof. Massimo Introvigne [discursando, na foto à esquerda], é vice-diretor de Alleanza Cattolica, presidente do CESNUR (Centro Studi sulle Nuove Religioni), sociólogo, historiador, escritor de fama internacional, autor do recente livro Una battaglia nella notte: Plinio Corrêa de Oliveira e la crisi nella Chiesa nel secolo XX (Sugarco, Milão, 2008) e animador do dinâmico grupo Facebook Amici di Plinio Corrêa de Oliveira.

Com o título “Revolução e Contra-Revolução no contexto brasileiro de 1959 — A beleza da Cristandade contra a vulgaridade do moderno”, o Prof. Introvigne passou em revista a luta de Dr. Plinio contra as tendências revolucionárias da época, especialmente o populismo e o integralismo. Aparentemente opostas, estas correntes estavam mancomunadas pela adoração da modernidade igualitária, contra a qual Dr. Plinio opunha o ideal de restauração da civilização cristã.

Na linha de uma série de recentes pronunciamentos do Papa Bento XVI, o orador apresentou a beleza da cristandade como uma de suas características essenciais, ou seja, sua capacidade de refletir, como num espelho, as perfeições de Deus: “A beleza da Cristandade é o coração de Revolução e Contra-Revolução, um coração que palpita pela Igreja, pela Cristandade, palpita por cada militante contra-revolucionário que queira combater o bom combate sob a bandeira de Cristo Rei e de Maria Rainha”.

Logo após, enquanto diretor da TFP italiana e chefe de redação da revista Tradizione Famiglia Proprietà, de Roma, desenvolvi o tema “Revolução e Contra-Revolução, síntese de uma vida”: Assim como a causa é sempre superior ao efeito, a obra intelectual de Plinio Corrêa de Oliveira, mesmo grande e importante, não esgota a grandeza da sua vocação. Mais do que uma síntese de seu pensamento, a R-CR é uma síntese da própria vida de Dr. Plinio, uma síntese do ideal ao qual ele se dedicou.

Após ter explicado como esse ideal não nasceu da leitura de livros teóricos, mas da própria luta contra a Revolução desde a mais tenra idade, destaquei como o núcleo desse ideal é a fé católica. O próprio autor homenageado insistia sempre: “Eu não quero ser senão filho da Santa Igreja, membro da Igreja e obediente à Igreja. Esta é a minha definição!”.

Em Revolução e Contra-Revolução, todos os elementos que encontramos são traços da vida de Plinio Corrêa de Oliveira. Por exemplo, o seu espírito militante. “Eu estou habituado a lutar desde quando era menino”, afirmou ele numa entrevista em 1990. Mas o que mais distingue o ilustre pensador e homem de ação brasileiro é, certamente, a sua firme esperança no triunfo do Coração Imaculado de Maria. “Quem somos nós?” — perguntava Dr. Plinio num artigo de 1946. E respondia em seguida: “Somos filhos e seremos heróis da confiança, os paladinos desta virtude! Quanto mais os acontecimentos parecerem desmentir a voz da graça que nos diz ‘vencereis’, tanto mais acreditaremos na vitória de Maria!”.

Como nasceu a Revolução e Contra-Revolução

Durante uma breve pausa, os participantes puderam adquirir obras do Prof. Plinio expostas no hall de entrada do Augustinianum.

 Na segunda sessão, presidida por Dr. Caio Xavier da Silveira [foto ao lado], narrou ele episódios dos dias em que nasceu a R-CR, ao fim dos quais comentou: “Saindo de seu escritório, Dr. Plinio estava literalmente radiante de felicidade. Em 40 anos de convívio estreito com ele, nunca o vi tão contente. Ele me disse que estava muito satisfeito, porque tinha conseguido explicitar a síntese perfeita de seu pensamento no que diz respeito ao problema da Revolução e da Contra-Revolução”.

 

O primeiro orador dessa sessão foi o Prof. Mauro Ronco [discursando, na foto à esquerda], de Alleanza Cattolica, ex-membro do Consiglio Superiore della Magistratura e atual presidente da Ordem dos Advogados de Turim. Desenvolveu um tema profundo e importante: “O Direito e as instituições em Revolução e Contra-Revolução”. Afirmando que “este tema está no centro da obra magistral Revolução e Contra-Revolução”, explicou o conceito da legitimidade de um poder temporal, e portanto de uma ordem social.

Na ótica do homenageado, a única verdadeira legitimidade é aquela em que se torna efetiva a realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo: “A civilização cristã, que reconhece a realeza também social de Nosso Senhor Jesus Cristo, é a única ordem legítima, porque ordena todos os atos da justiça em torno ao reconhecimento do direito d’Aquele – Filho Unigênito de Deus – que não só nos deu o ato de ser, mas através da sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição readquiriu para nós a plenitude do nosso ser à imagem e semelhança de Deus”. Não é outro o fundamento do verdadeiro Direito. Numa época em que triunfa a noção positivista do direito –– ou seja, a idéia de que o direito emana do Estado ou do povo, sem nenhum fundamento numa ordem moral superior –– é necessário proclamar que o direito, e portanto a legitimidade das instituições, tem o seu fundamento na Lei natural e divina.

Encerrou o congresso o Sr. Giovanni Cantoni [foto], fundador e Reggente Nazionale de Alleanza Cattolica, a quem se deve a magnífica edição para o cinqüentenário da obra-mestra de Plinio Corrêa de Oliveira. Sua palestra, sob o título “Revolução e Contra-Revolução, eco fidelíssimo do Supremo Magistério da Igreja”, lembrou a carta que o prefeito e o secretário da Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades, cardeais Giuseppe Pizzardo e Dino Staffa dirigiram ao autor em 1963, qualificando outro seu livro, “A liberdade da Igreja no Estado comunista”, de “eco fidelíssimo do Supremo Magistério da Igreja”. O orador afirmou que este juízo pode-se aplicar a toda a obra intelectual do célebre pensador brasileiro, em particular a Revolução e Contra-Revolução: “O termo ‘eco’ lembra –– ou melhor traduz –– a palavra ‘catechismo’, do grego ‘catecheo’, que significa ‘fazer eco’ ou ‘refletir um som’, de onde ‘ensinar oralmente’. Daqui vem a ‘catechesis’, ou seja, o ensino da doutrina cristã. Por extensão, significa também o livro que contém estes ensinamentos. Portanto, ‘eco fidelíssimo do Supremo Magistério da Igreja’, aplicado a Revolução e Contra-Revolução, quer dizer ‘catecismo fidedigno do Supremo Magistério da Igreja’. Eis o verdadeiro alcance da obra-mestra de Plinio Corrêa de Oliveira”.

*    *    *

O congresso encerrou-se com uma Missa solene, celebrada em rito romano antigo (São Pio V) por D. Athanasius Schneider na igreja de Santa Mônica, na Piazza del Santo Ofício, ao lado do Vaticano. Em sua homilia, o bispo auxiliar de Karaganda destacou a centralidade da devoção a Nossa Senhora, não só na vida espiritual, mas também no apostolado.

Veja:
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