APARECIDA: Trono de Nossa Senhora, Porta do Céu
25/11/2012
À cidade de Aparecida confluem brasileiros de norte a sul do País. Ali pedem graças e reverenciam a Rainha do Céu, que é também Rainha do Brasil, nossa excelsa Mãe e Padroeira. Decorridos quase três séculos do aparecimento da milagrosa e veneranda imagem da Santíssima Virgem, cuja festividade se comemora no dia 12 deste mês, nossa homenagem, pedido de perdão, reparação e agradecimento. |
Há 295 anos, nas águas do Rio Paraíba, deu-se o bendito encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, de cuja maternal e poderosa proteção o Brasil necessita mais do que nunca.
Sérias ameaças pairam sobre nossa Pátria. Exemplo disso encontra-se em nossa matéria de capa da edição anterior sobre o projeto de novo Código Penal, ora em tramitação no Senado Federal. De viés totalitário, ele contém um conjunto de normas jurídicas absurdas, infensas às tradições cristãs do povo brasileiro e, entre outros males, debilita ainda mais o sagrado direito de propriedade e a instituição da família, já tão corroída pela avassaladora onda de corrupção moral.
Outra ameaça — esta mais especialmente alarmante — também comentada nas páginas de Catolicismo (edição de agosto de 2012), é a progressiva “descatolicização” do País, decorrente da larga difusão dada aos erros do progressismo nos últimos 50 anos. Tais erros estiveram direta ou indiretamente na origem da apostasia de milhões de católicos, que abandonaram o regaço da Santa Igreja para se filiarem a seitas de diversos gêneros, expondo o Brasil ao risco de se descaracterizar, deixando de ser uma nação autenticamente católica.
Uma escalada de escândalos pulula nas páginas dos jornais, nas redes televisivas e na internet. Escândalos não restritos aos ambientes políticos — de todos sobejamente conhecidos —, mas também outros, cujas causas são comuns a todos. Referimo-nos à perda do senso moral e de suas consequências, como a corrupção dos valores e dos costumes, materializados no aumento assombroso dos casos de adultério, divórcios, modas imorais, promiscuidade sexual, desagregação familiar, relações pré-matrimoniais, controle artificial de natalidade, abortos, legitimação das uniões homossexuais, pedofilia etc.
Neste crucial momento histórico, em que a sociedade brasileira atravessa uma crise sem precedentes, devemos nos voltar mais do que nunca para nossa Padroeira e Rainha, implorando: Senhora, perecemos! Senhora, salvai-nos de todos esses males! Não permitais que o Brasil que Vos pertence venha a soçobrar, perdendo seu principal predicado e título de glória: o de conter a maior população católica da Terra.
A fim de reavivar nas almas dos brasileiros a premente necessidade de incrementar uma grande união em torno de sua Rainha e Padroeira, a redação de Catolicismo — que nos meses de outubro tradicionalmente oferece a seus leitores matérias da lavra de Plinio Corrêa de Oliveira — selecionou uma coletânea de comentários desse eminente líder católico sobre Nossa Senhora Aparecida, que passamos a transcrever.
Devoção a Nossa Senhora Aparecida e anúncio da construção de sua Basílica em Aparecida do Norte
No jornal “O Legionário”, então órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo, após comentar a doutrina marial ensinada por São Luís Maria Grignion de Montfort e a devoção a Nossa Senhora em diversos povos, Plinio Corrêa de Oliveira, em artigo de 17-12-1939, ressalta a profunda devoção mariana dos brasileiros. Nessa ocasião, o eminente articulista católico anuncia, em primeira mão, os planos de construção da nova Basílica de Nossa Senhora Aparecida. E aproveita para exprimir o que sua alma de católico aspirava para esse novo templo. Concluída a Basílica em 1980, fica a critério do leitor dizer em que medida essa construção realizou ou não tais aspirações.
Brasil: feudo da Rainha do Céu,
que é a Rainha e Padroeira do País.
“Não há um povo que não tenha ao menos um grande santuário nacional erigido em honra de Maria Santíssima, no qual a Rainha do Céu faça chover sobre os homens, com abundância, as graças espirituais e temporais. Mais ainda, em cada região há uma igreja ou capela particularmente venerada pelos fiéis, e em cada igreja ou capela há ao menos uma imagem de Nossa Senhora. E esta regra se aplica sem exceção às mais variadas nações do globo, desde a Polônia até a jungle africana, e desde o Brasil até a China.
Qual a razão da universalidade absoluta deste culto, universalidade esta que, se bem que rigorosamente conforme ao ensinamento da Igreja, se distingue pela singular espontaneidade das manifestações através das quais se exprime? — A Igreja nunca mandou que cada povo erigisse um santuário particularmente dedicado a Nossa Senhora, com foros de santuário nacional, nem que em cada igreja Nossa Senhora tivesse um altar próprio. Jamais uma autoridade eclesiástica se lembrou de obrigar os fiéis a prestar-lhe todos e cada um dos atos de piedade com que Ela é venerada. A Igreja se limitou a definir as verdades mariais e, na maioria dos casos, a piedade espontaneamente entusiástica da massa dos fiéis tem seguido seu curso, de tal forma que se pode sustentar: quase todas as festas de Nossa Senhora e quase todas as formas de piedade com que Ela é honrada nasceram na massa dos fiéis espontaneamente ou por meio de revelações particulares, sendo posteriormente sancionadas pela Igreja.
Por que tudo isto? — Porque a piedade popular sente viva e profundamente que Nossa Senhora é, na realidade, a Mãe de todos os homens, e especialmente dos que vivem no aprisco da Igreja de Deus. E sente, ainda, que a mediação de Nossa Senhora é a porta segura, direta, certa, para se ter acesso junto ao Trono do Criador.
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Fazendo essas reflexões, lembro-me invencivelmente de Aparecida do Norte, e das impressões profundas que tenho colhido sempre que ali vou rezar aos pés de Nossa Senhora.
Onde, no Brasil inteiro, um lugar para o qual, com tanta e tão invencível constância, se voltam os olhos de todos os brasileiros? Qual a palavra que tem entre nós o dom de abrir mais facilmente os corações? Qual a evocação que mais ardentemente do que a Aparecida nos fala de toda a sensibilidade brasileira retificada em seu curso e nobilitada em seus fins sobrenaturais? Quem, ao ouvir falar em Nossa Senhora Aparecida, pode não se lembrar das súplicas abrasadoras de mães que rezam por seus filhos doentes, de famílias que choram no desamparo e na miséria o bem-estar perdido e se voltam para o Trono da Rainha da clemência, de lares trincados pela infidelidade, de corações ulcerados pelo abandono e pela incompreensão, de almas que vagueiam pelo reino do erro à procura do esplendor meridiano da Verdade, de espíritos transviados pelas veredas do vício, que procuram entre prantos o Caminho, de almas mortas para a vida da graça, e que desejam encontrar nas trevas de seu desamparo as fontes de uma nova Vida?
Onde se pode sentir de modo mais vivo o calor ardente das súplicas lancinantes, e a alegria magnífica das ações de graças triunfais? Onde, com mais precisão, se pode auscultar o coração brasileiro que chora, que sofre, que implora, que vence pela prece, que se rejubila e que agradece, do que na Aparecida? E sobretudo, onde é mais visível a ação de Deus na constante distribuição das graças, do que na vila feliz, que a Providência constituiu feudo da Rainha do Céu?
Nada, no ambiente de Aparecida, impressiona a imaginação pela grandeza das linhas arquitetônicas ou pela riqueza do acabamento. Mas o ar está tão saturado de eflúvios de prece e de orvalhos de graça, que qualquer pessoa sente perfeitamente que Aparecida foi designada pela Providência para ser a capital espiritual do País.
* * *
A esta capital, entretanto, muita coisa falta. E quem vai a Aparecida sente perfeitamente que paira sobre o lugar um grande anelo coletivo, uma grande aspiração anônima, por uma obra de construção e de fé que exprima e traduza na ordem das realidades naturais e sensíveis todas as realidades sobrenaturais e insensíveis de que o ambiente está saturado.
A maternidade de Maria e a onipotência de sua mediação universal precisam ser promulgadas em mármore e bronze, depois de terem sido proclamadas com lágrimas, com preces e com sorrisos de gratidão, pelo Brasil inteiro.
A futura Basílica [relembramos que o autor escreve no ano de 1939] deve ser como aqueles documentos de bronze dos tempos antigos, em que se gravavam para a posteridade fatos, leis ou nomes já imortalizados na memória dos povos. A consagração afetiva não basta: ela tem no interior de sua essência uma força que o leva a se exteriorizar em monumentos de arte e de fé.
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Não é difícil, pois, aquilatar o imenso entusiasmo popular que despertará a notícia que damos em primeira mão de que o Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano, constituindo uma comissão de técnicos para estudar os planos da futura Basílica, deixa transparecer apenas o prelúdio de um plano gigantesco que acalenta em seu coração, plano este segundo o qual Aparecida se transformará no mais imponente centro religioso das duas Américas.
Com uma acentuadíssima amplidão de concepções, S. Ex.a Rev.ma vai lançar um plano monumental, impressionante pela majestade da ideia e pelo grande espírito prático que presidiu a fixação dos detalhes. E, a serviço deste plano, convocando uma verdadeira cruzada de orações e de generosidades através de todo o Brasil, quer o Arcebispo de São Paulo empenhar as cordas mais sensíveis do coração brasileiro.
A simples descrição da obra a ser realizada em dezenas de anos dispensa comentários. Sem se tocar na atual igreja, que continuará intacta, servindo de Matriz, deve ser construída outra Basílica, uma série de edifícios complementares constituirá como que uma coroa de contrafortes espirituais. A imponente mole de edifícios que constituirão o feudo de Nossa Senhora. [...]
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Não preciso acrescentar uma única palavra para acender entusiasmos e mobilizar dedicações. Vejo, de minha mesa de trabalho, as fisionomias maravilhadas que se hão de iluminar com a leitura desta sensacional revelação.
Mas uma palavra, ao menos, deve ser dita para os espíritos timoratos, que mais facilmente se impressionam com a grandeza do esforço do que com a magnitude da obra.
A própria amplitude do plano lançado deveria dar a entender que o Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo, atacando a construção de um monumento de tal envergadura, dá uma bela mostra de desprendimento.
Efetivamente, S. Ex.a não pode ter o plano de ultimar rapidamente, com o aceno de uma vara mágica, a execução de trabalho tão grandioso. Aos dignitários da Igreja, que têm diante de si os séculos, não pode atormentar a febre das inaugurações imediatas, que devem assinalar administrações efêmeras. Os maiores monumentos religiosos do mundo inteiro foram obra de gerações e gerações consecutivas. Nenhuma delas plantou para ter o gosto de colher os frutos neste mundo. Os frutos se colhem no Céu, para todos os semeadores da boa semente. O que é essencial é que as obras realizadas na Terra não tragam a marca de precariedade e de exiguidade das coisas feitas exclusivamente para os homens, se elas se destinam ao culto de Deus.
Este monumento se fará, Deo volente, tendo como condição de sucesso a persuasão firme e tranquila de que não se trata de uma grande obra a se realizar de modo amesquinhado graças à exiguidade dos recursos e do tempo. Os anos poderão correr, assistindo ao desenvolvimento lento e prudente da obra. Nem por isso, entretanto, ela se fará menor, ou deixará de se fazer.
E se ela exceder os limites da existência desta geração, uma coisa ao menos se poderá dizer: que o Brasil teve a glória de, exceção honrosa em um século frívolo e imediatista, argamassar com o fator tempo um monumento que por isto mesmo o tempo não destruirá”.
Recepção a Nossa Senhora Aparecida: motivo para uma “recristianização do Brasil”
A seguir, trechos do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em “O Legionário” de 8 de julho de 1945, nos quais ele expõe a grande manifestação em honra da Virgem Mãe Aparecida, que naquela data estava sendo preparada. O objetivo do autor era predispor os paulistas para uma grandiosa recepção em São Paulo da milagrosa imagem, que viesse contribuísse para incentivar um movimento pela recristianização do País:
Um ato para glória de Deus, afervoramento dos tíbios,
santificação dos bons, e escarmento dos maus.
“São Paulo é a metrópole do estado em que Nossa Senhora quis firmar o seu trono. É na Arquidiocese de São Paulo que se encontra a Basílica da Aparecida [o autor refere-se à chamada “Basílica Velha”, concluída em 1888, ainda em nossos dias aberta aos fiéis]. Os paulistas têm para com Nossa Senhora uma devoção ardentíssima e tradicional. Por todos os títulos, a manifestação tem de ser como das mais grandiosas a que São Paulo já tenha assistido. Ela nos deve fazer lembrar, por sua magnificência e amplitude, dos dias memoráveis do IV Congresso Eucarístico Nacional [de 1942].
O sentido que mais facilmente se percebe, em uma manifestação, é a proclamação pública de convicções que devem ser professadas diante de todos, para glória de Deus, para afervoramento dos tíbios, para santificação dos bons, e para firme e vigoroso escarmento dos maus. É o próprio nome católico que está empenhado na grandeza dessa manifestação. Tanto basta dizer, para provar a intensidade do zelo com que devemos trabalhar em favor dela.
Entretanto, isto não é tudo. A manifestação está muito longe de ter um sentido meramente humano. A presença da verdadeira imagem de Nossa Senhora Aparecida, entre nós, é uma graça. Maria Santíssima é a Medianeira de todas as graças, e seus favores são mais abundantes quando suplicados aos pés das imagens benditas que, em quase todos os países do mundo, são veneradas de um modo especial, em algum santuário nacional. Os mexicanos têm Nossa Senhora de Guadalupe. Os argentinos têm Nossa Senhora de Lujan. Os brasileiros têm Nossa Senhora Aparecida. As imagens de Lujan, de Guadalupe, da Aparecida foram escolhidas pela Providência para despertar de modo especial a devoção à Maria Santíssima. Sua presença entre nós é pois um penhor especial da generosidade de Nossa Senhora. Devemos aproveitar avidamente as graças que sua presença acarretará para nós.
"Basílica Velha", concuída em 1888 |
‘Procurai primeiramente o Reino de Deus e a Sua Justiça, e todas as coisas vos serão dadas de acréscimo’, prometeu Nosso Senhor.
Podemos e devemos pedir graças temporais. Mas muito mais acima delas estão as graças espirituais.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida vem a uma cidade devastada por todos os ventos do neo-paganismo moderno. A imoralidade campeia nos lares, já hoje feridos em sua estabilidade e em sua fecundidade. O desejo desordenado do dinheiro, do poder, do luxo, desnorteia os corações. Indiferentes às coisas do Céu, os homens se voltam cada vez mais para a Terra. Pululam por toda parte as doutrinas heterodoxas. [Os erros do] comunismo ameaçam submergir a civilização cristã.
Diante desse quadro, nossa grande prece deve ser acima de tudo pela recristianização do Brasil. Se devemos amar acima de tudo a Deus, Nosso Senhor, devemos amar logo abaixo d´Ele a Igreja de Deus, que é o Corpo Místico de Cristo. Sarmentos dessa vinha, o que pediremos a Nossa Senhora é que fiquemos sempre unidos ao cepo divino, sempre ligados à Igreja de Deus, sempre fiéis a Rocha de São Pedro. Porque se tivermos essa graça, todas as outras serão supérfluas... e nos serão dadas de acréscimo!”.
Cidade de Aparecida: a principal sede da devoção a Nossa Senhora
No decurso de uma conferência pronunciada em 12-10-1964, Plinio Corrêa de Oliveira responde a estas duas perguntas: – “Que título tem Nossa Senhora Aparecida para ser Padroeira do Brasil”? – “Qual é a importância que se deve dar a esta devoção?”.
Aparecida: um trono no qual Nossa Senhora
quer sentar para atender a todos,
uma porta aberta para o Céu.
“Uma pessoa que interprete à luz da fé os fatos que se passam na cidade de Aparecida do Norte não pode deixar de ter uma certeza moral, inteiramente sólida, de que aquela região foi o local que Nossa Senhora escolheu para difundir suas graças de modo especial para toda a nação brasileira. Como em nenhum lugar do Brasil, as graças são ali distribuídas em abundância. Ela quis erigir lá o seu santuário principal no País.
A respeito disto não pode haver dúvida alguma. Não tanto devido às curas — registradas na Casa dos Milagres, que merecem atenção e sobre as quais não se põem dúvidas —, mas por causa do afluxo enorme de peregrinos. Peregrinos que vão lá com bom espírito, com a intenção realmente de rezar, de se aproximarem de Nossa Senhora e, assim, obterem frutos de santificação e de progresso na vida espiritual.
‘Pelos frutos se reconhece a árvore’, e quando um determinado local de peregrinação é ocasião de muitas conversões, de muito afervoramento, de confirmação na fé, é certo que aquele local é uma ocasião que a graça se serve para se comunicar aos homens. Razão pela qual se deve entender que realmente aquela cidade é um trono no qual Nossa Senhora quer sentar para se tornar mais afável e atender em favor de todos. Portanto, Aparecida é como que uma porta aberta para o Céu, através da qual Ela se torna mais próxima dos homens.
Uma vez que isto é realmente verdadeiro, devemos reconhecer que Aparecida é a principal sede da devoção a Nossa Senhora”.
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