APARECIDA: Trono de Nossa Senhora, Porta do Céu


25/11/2012


“Ó Maria, abençoai-nos, concedei-nos a graça das graças: ó Mãe, uni intimamente a Vós este vosso Brasil”

Por ocasião do sesquicentenário de nossa Independência, Plinio Corrêa de Oliveira publicou na “Folha de S. Paulo” (16-1-72) um comovente artigo em forma de oração a Nossa Senhora Aparecida. Intitula-se Prece do sesquicentenário e contém ao mesmo tempo um agradecimento, um pedido de perdão e uma súplica em prol do Brasil. Com ele encerramos com fecho de ouro a presente matéria em honra da Senhora Nossa Rainha e Padroeira, rogando especiais bênçãos e graças para nossos leitores.

Nossa oração não é a do fariseu orgulhoso e desleal,
lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.

“Ó Senhora Aparecida!

Ao aproximar-se a data em que completamos um século e meio de existência independente, nossas almas se elevam até Vós, Rainha e Mãe do Brasil. Cento e cinquenta anos de vida são, para um povo, o mesmo que quinze para uma pessoa: isto é, a transição da adolescência — com sua vitalidade, suas incertezas e suas esperanças — para a juventude, com seu idealismo, seu arrojo e sua capacidade de realizar.

Neste limiar entre duas eras históricas, vamos transpondo também outro marco. Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância, determinam o rumo dos acontecimentos presentes e têm em suas mãos os fios com que se tece o futuro dos povos.

*       *       *

Neste momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente.

Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais e as riquezas que nele pusestes.

Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu na grande caudal étnica de origem lusa, e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.

Agradecemo-Vos a fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa.

Agradecemo-Vos nossa História serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho do que de desavenças e guerras.

Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da vitória.

Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de realizações e de esperanças de grandeza.

Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas, e que, irmanadas conosco na fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de ascensão e de êxito.

Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos é dada não só para nosso bem, mas para o de todos.

Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa história no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas, e terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.


A milagrosa imagem da Padroeira do Brasil durante sua visita à sede principal da TFP brasileira, na década de 60

*       *       *

Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades mas esquecido de suas faltas.

Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar, que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.

Por tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão.

E, além do perdão, Vos pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem os fracos conseguem vencer suas fraquezas nem os bons alcançam conter a violência e as tramas dos maus.

Com o perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção.

Quanto confiamos nela!

Sabemos que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do filho seja ouvida, sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja honesto e fecundo, seu lar seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e meritórias, suas venturas honradas, e seus infortúnios dignificantes.

Quanto é rica destes e de todos os outros dons imagináveis a Vossa bênção, ó Maria, que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a Mãe Virginal do Homem-Deus!

Sim, ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças e, mais do que todas, concedei-nos a graça das graças: ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso Brasil.

Amai-o mais e mais.

Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes.

Tornai sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.

Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da Terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.

Fazei-nos sempre mais amantes da paz e sempre mais fortes na luta pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Filho vosso e Senhor nosso.

De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina do cêntuplo nesta Terra e da bem-aventurança eterna.

Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de graças e súplica? Onde encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superior a qualquer louvor humano?

De Vós exclamava profeticamente o povo eleito, palavras que amorosamente aqui repetimos:

‘Tu gloria Jerusalem, tu laetitia Israel, tu honorificentia populi nostri’.

Sois Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra deste povo que Vos ama”.

_______________________
Notas:
1. Entende-se Reino de Maria — previsto em Fátima e tão desejado por Plinio Corrêa de Oliveira — no sentido empregado por São Luís Maria Grignion de Montfort (grande missionário e doutor marial francês do século XVII) em seus escritos, especialmente no célebre Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem: “Quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? [...] Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o vosso [de Jesus Cristo] Reino” (São Luís Maria G. de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 1984, 13ª ed., pp. 210-211).
2. Nesta matéria sobre Nossa Senhora Aparecida, não podemos deixar de nos referir a outro sinistro sacrilégio ocorrido alguns dias após o falecimento de Plinio Corrêa de Oliveira. Numa manifestação de ódio brutal, outro herege, pastor de seita protestante, chutou uma réplica da imagem de nossa Rainha e Padroeira. O sacrilégio ocorreu no dia de sua festividade, 12 de outubro de 1995, e foi televisionado para o Brasil inteiro, que assistiu ao ato com suma consternação.
3. “Conceição”: singular privilégio concedido por Deus à Virgem Maria de ser concebida sem pecado original. De onde o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 8 de dezembro de 1854 pelo Bem-aventurado Papa Pio IX.

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