No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea libertando
todos os escravos no Brasil. Dia de grande festa, o parlamento do Império
foi inundado com uma chuva de rosas. O embaixador norte-americano apanhou algumas
flores, e disse: "Quero guardar estas flores, como lembrança dessa
maravilha. No Brasil a extinção da escravidão foi comemorada
com flores, enquanto no meu país custou uma guerra civil com mais de
um milhão de mortos".
Entretanto, em pleno século XXI, assistimos a uma cena inversa. O Brasil,
através de seu embaixador Tadeu Valadares, foi o primeiro e único
país a reconhecer, em reunião oficial da ONU, a existência
de “formas contemporâneas de escravidão”. Uma vergonha
anunciada e proclamada no fórum internacional. Espanto geral. Nem os
países africanos que ainda têm a escravidão legalizada
fazem dela tal alarde. Muito menos a China e os países comunistas, que
mantêm os "trabalhadores do povo" em regime forçado,
reconhecem-no como escravidão. Somente o governo brasileiro se encar-rega
de fazer mais essa propaganda negativa. Por quê?
A imprensa internacional vem dedicando grandes manchetes
ao suposto trabalho escravo no Brasil. Esse noticiário é alimentado
pela CPT e pelas ONGs e ameaça o comércio externo brasileiro.
A reportagem Escravos do Aço, publicada em julho deste ano no Observatório
Social em Revista, traz a seguinte manchete: Carvão produzido com
mão-de-obra
escrava alimenta indústria dos EUA, aponta ONG. Segundo Frei Xavier
Plassat, coordenador da Campanha de Combate ao Trabalho Escravo, da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), as siderúrgicas se escondem atrás
do argumento de que quem contratou o trabalhador foi o dono da carvoaria.
Será que
de fato o fantasma da escravidão está rondando
os nossos campos? Será que o Brasil regrediu mais de um século?
Ou há uma manipulação de palavras e situações,
com finalidade escusa? Seria essa finalidade fazer aprovar uma lei injusta
de inspiração ideológica socialista-comunista?
Em
junho, um amigo vindo de Portugal, ao descer no Aeroporto Internacional
de Brasília em viagem de férias, ficou impressionado
pelos cartazes fazendo propaganda contra o trabalho escravo. Sem a
devida distinção,
a impressão que se passava para o público era a de que
a escravidão
no País não acabou, e é mesmo a principal força
de trabalho do agronegócio brasileiro.
O agronegócio foi
escolhido como alvo pela esquerda brasileira e internacional. A esquerda
católica representada pela Comissão Pastoral da Terra
(CPT), MST, certas ONGs, o Fórum de Porto Alegre, setores
influentes da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) e demais entidades que se apresentam como defensoras dos direitos
humanos elegeram
o setor mais
dinâmico da economia brasileira como o obstáculo principal
a ser derrubado para alcançar sua meta socialista e igualitária.
Trata-se
de um novo golpe contra a propriedade privada, que paira sobre
as cabeças dos brasi-leiros. E que ameaça efetivar-se
através
de reforma da Constituição, fundamentada numa noção
ambígua de “trabalho escravo”. Essa nova investida
contra a propriedade particular está para ser aprovada,
mas isso não é ressaltado
nos meios de comunicação nem no burburinho das votações
do Congresso.
A Comissão Especial da Câmara aprovou,
em 12 de maio último,
uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC 438/01) prevendo desapropriação
sem nenhuma indenização, de terra ou imóveis
urbanos, assim como de todo e qualquer bem de valor econômico,
apreendidos em decor-rência da exploração
do trabalho escravo. Nas votações,
houve até a presença de artistas de TV para pressionar
os deputados...
Devido a um acordo apressado de líderes,
no dia 11 de agosto o Plenário
da Câmara aprovou em primeiro turno, por 326 votos a
10 e 8 abstenções,
a emenda aglutinativa apresentada pelo deputado Tarcísio
Zimmermann (PT-RS), que comentaremos mais adiante.
Mas o que é trabalho
escravo?
A expressão continua indefinida, na Proposta
de Emenda Constitucional. E, pior, foi estendida para as áreas
urbanas. De modo que qualquer trabalhador informal poderá servir
de pretexto para o confisco de imóvel
rural ou urbano. De acordo com o projeto em tramitação,
o proprietário
e seus herdeiros não terão direito a qualquer
indenização.
***
Por trás de uma causa nobre, como a luta contra a
escravidão
(pretensamente existente no Brasil) e a defesa da liberdade e da dignidade
do trabalhador rural, adivinham-se outras intenções. Quais?
Muita
gente está se dando conta da realidade. Por exemplo, um esclarecido
leitor da Folha de S. Paulo faz-se porta-voz de uma desconfiança que
está no subconsciente de inúmeros brasileiros: “Todos
sabemos que o campo brasileiro sempre funcionou desse jeito: carência
de instalações
ade-quadas, trabalho temporário sem carteira assinada, etc. E ninguém
até agora via nisso nenhuma analogia com trabalho escravo. Por que
só agora
isso foi ‘descoberto’? Será porque o MST está muito
desgastado e é preciso outro pretexto para as expropriações?”.
O presente trabalho busca distinguir as verdades, meias-verdades,
mentiras, exageros e genera-lizações utilizados nessa imensa campanha
publicitária
contra o direito de propriedade e o agronegó-cio. Contribui assim
para um debate sério sobre uma reforma de nossa legislação
trabalhista, sem demagogias nem desvios ideológicos. E procura alertar
o povo brasileiro para essa nova tentativa de golpe contra o direito de propriedade.