As Padroeiras do continente americano
24/11/2004
Valdis Grinsteins
São diversas as invocações de Nossa Senhora como padroeira deste ou daquele
país de nosso continente; algumas são mais conhecidas, outras menos,
mas todas tornaram-se populares em suas respectivas nações
Nossa Senhora de Coromoto
|
Além de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira das Américas,
os vários países do continente americano têm uma invocação da Virgem Santíssima
como padroeira específica. Ao contrário do que comumente se
pensa, a maioria das padroeiras de países das três Américas não são imagens
que representem uma aparição da Mãe de Deus. Três países de nosso continente,
contudo, possuem tal privilégio: México, Venezuela e Equador.
No
primeiro deles, Nossa Senhora apareceu em Guadalupe e deixou sua imagem
gravada nos trajes de um índio, hoje o Bem-aventurado Diego.
Esta relíquia encontra-se na catedral da Cidade do México, um dos maiores
centros de peregrinações do mundo.
Na
Venezuela, Nossa Senhora de Coromoto deixou na mão do índio Coromoto uma
pequena pedra com sua imagem gravada. Esta relíquia encontra-se na igreja
construída no local da aparição.
No
Equador, Nossa Senhora de Quinche apareceu a vários índios, os quais ficaram muito
surpresos ao reconhecer a Bela Dama que tinham visto numa imagem que lhes
fora oferecida pelos espanhóis. Curiosamente, nos três casos os videntes
são índios. São três magníficas histórias, mas elas constituem exceções no
continente.
Outro
grupo excecional de padroeiras são as que poderíamos
qualificar como devoções gerais da Igreja, mas que, por diversas razões
históricas, se estabeleceram mais em determinados países. Assim, por exemplo,
no Chile a Padroeira é Nossa Senhora do Carmo; nos Estados Unidos é a Imaculada
Conceição; na Guiana e Suriname, Nossa Senhora de Fátima; no Haiti, Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro; em Porto Rico, Nossa Senhora da Divina Providência;
em Trinidad Tobago, a Divina Pastora; e no Peru, Nossa Senhora das Mercês.
São
oito países que adotaram como suas padroeiras
tais invocações de Nossa Senhora, que também existem em muitas outras partes.
Serão por isso menos privilegiados? Claro que não. Não há nada de estranho
no fato de a Providência Divina ter um plano especial de graças para determinada
população, e deseje que esta receba tais graças mediante uma particular
devoção a algum mistério, episódio ou virtude da vida da Santíssima Virgem.
Nossa Senhora de Quinche
|
Regra curiosa que se observa
Mas
ao estudar a história das padroeiras das Américas, não deixa de chamar
a atenção uma espécie de regra: a maioria delas (15 em 26) são imagens
locais, através das quais se operam milagres em abundância. Não são as únicas,
pois nesses mesmos países, em geral há outras imagens milagrosas. Mas as
imagens que se tornam padroeiras destacam-se das demais, de forma a atrair
uma devoção não só local, mas em todo o país. E é digno de nota que, neste
grupo de nações, muitas das imagens apareceram de forma totalmente incomum,
ao que devem, em boa parte, seu renome.
O
que entendemos por forma incomum? Tomemos, por exemplo, o caso do Brasil: Nossa Senhora
Aparecida. Não se pode dizer que seja um fato comum alguns pescadores apanharem
em sua rede o corpo de uma imagem; e, ao lançarem a rede uma segunda vez,
pegarem a cabeça da imagem. Caso análogo se deu com a imagem de Nossa Senhora
da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba. Não constituía fato habitual,
numa América despovoada do século XVI, encontrar-se uma imagem da Mãe de
Deus boiando no mar.
Podemos
ainda recordar a história da Padroeira de Honduras, Nossa Senhora de Suyapa.
Em finais do século XVIII, nesse país da América Central, o jovem Alejandro Colindres estava em companhia
de um menino de oito anos, chamado Jorge Martinez.
Eles tinham trabalhado no campo, na colheita de milho, e voltavam para
sua casa na localidade denominada Suyapa. Percebendo
que não chegariam a tempo, decidiram dormir no meio do caminho, na quebrada
de Piliguin. Quando se deitaram, Alejandro sentiu
um objeto incomodando seu corpo. No escuro, voltou-se
e o pegou. Pensando tratar-se de uma pedra, jogou-o para longe e voltou
a deitar-se, mas sentiu aquele mesmo incômodo no
mesmo local. Tendo julgado esquisito o fato, guardou consigo o objeto. Pela manhã, descobriu que era uma pequena imagem
de Nossa Senhora, talhada em madeira, de apenas seis centímetros e meio
de altura. Tal imagem é a atual Padroeira de
Honduras. Não se pode dizer que seja forma usual de se encontrar uma padroeira!
Nossa Senhora de Guadalupe |
Qual
a razão desta regra?
Uma
pergunta se impõe naturalmente: qual o motivo para se encontrar, de forma
tão inusitada, tantas padroeiras?
A
resposta pode parecer difícil, pois custa ao homem aceitar aquilo que não
vê, aquilo que ele não pode entender cientificamente, mas que conhece pela
fé. Após o pecado original, o homem ficou inseguro a respeito de muitas
de suas convicções. Nossos próprios erros constituem provas de nossa fraqueza.
Será então que, em matéria tão importante como a Religião, estamos com
a verdade? Matéria que diz respeito a nossa vida
eterna! É justamente para ajudar a nossa fé que ocorrem milagres. Esses
fatos extraordinários são justamente a prova de que não estamos sozinhos,
mas temos um Deus que nos ampara em nossa fraqueza. E para nos chamar a
atenção, se vale Ele mesmo de meios, quase diríamos, humanos.
As
aparições propriamente ditas de Nossa Senhora são relativamente raras,
justamente para realçar seu valor. A via dos milagres parece ser uma via
adequada da Providência para nos atrair. E os pequenos fatos extraordinários,
como o de encontrar uma pequena imagem que incomoda o repouso, são justamente
para revelar-nos um Deus que nos segue e cuida de seus filhos, não escapando
a Ele os mínimos detalhes de nossa vida.
Se
todas as padroeiras surgissem à raiz de pequenos fatos, elas se banalizariam,
pareceriam não ter grandeza. Se todas as padroeiras fossem representadas
por imagens originadas de aparições, também poderiam se banalizar. É justamente
no conjunto diferenciado de aparições, milagres e pequenos fatos que está a
beleza. É como uma orquestra que possui diversos instrumentos e produz
diferentes sons. Ou uma floresta que possui árvores gigantescas e pequenas flores.
As diversas padroeiras da América, com suas diferentes histórias, lembram-nos
que Nossa Senhora é nossa Mãe e vela por seus filhos, tanto nos grandes
como nos pequenos momentos.
Veja:
http://www.catolicismo.com.br/
|