Na Amazônia sobra posse, falta propriedade
08/03/2005
Boletim Eletrônico de Atualidades
A diferença de resultados entre a iniciativa particular e a do Estado
no campo econômico salta aos olhos. Somente a má fé pode
justificar a defesa da Reforma Agrária socialista e confiscatória
que se quer implantar no país, sob as bênçãos da
Comissão Pastoral da Terra e da Teologia da Libertação;
Uma questão
anunciada
A Revista Referência, de julho de 2004, publicada pelo setor madeireiro
do Paraná, denunciava que os proprietários de terras madeireiras
por todo o Brasil, “observavam com temor a onda de invasões de
propriedades que se intensificaram neste ano. O setor florestal foi um dos
alvos preferidos, principalmente depois das afirmações de dirigentes
do MST, sobre a preferência por áreas de silvicultura.” E
o que se tem visto, é um sem número de invasões nessas áreas,
reintegração de posse dada pela Justiça, novas invasões
e provocações, e os sem-terra impunes agindo como se estivessem
acima da lei. Com as bênçãos da Comissão Pastoral
da Terra – CPT.
Na Amazônia muita posse, ingerência
estatal e pouca propriedade
Existe na Amazônia uma questão fundiária confusa, que
já dura anos, com fazendeiros, posseiros, empresas madeireiras disputando
terras com grileiros. Em áreas próximas ‘as grandes estradas
Belém-Brasília e Transamazônica, foram desenvolvidos grandes
projetos agropecuários na área da SUDAM. Área reconhecida
de fronteira agrícola, era muito disputada tanto para desenvolvimento
de grandes culturas, quanto para exploração florestal, ambas
atividades muito lucrativas.
Ali o Incra fazia, nos anos 70,
concessões de grandes glebas de 3.000
hectares em terras da União, que foram exploradas com fartos recursos
da SUDAM, sem muito cuidado. Os contratos de exploração previam
o desmatamento de 50% da floresta, com a obrigação de recompor
a mata a partir de 1999, com elevação da reserva para 80% da área.
Os títulos não foram regularizados.
Nos anos 90, sob pressão do MST, o governo do presidente Fernando Henrique
Cardoso espalhou assentamentos pela região. Esse fato trouxe o explosivo
ingrediente dos sem-terra, não certamente para pacificar a região,
como era de se prever.
No início houve uma parceria entre madeireiros e sem terra, com madeireiros
abrindo estrada vicinal do acampamento até a Transamazônica. Em
troca, a madeira explorada pelos sem terra era vendida aos madeireiros.
Estavam as coisas nesse pé quando chegou PDS, Plano de Desenvolvimento
Sustentável, criado também no Governo Fernando Henrique em 1998,
que previa reforma agrária e preservação ambiental e foi
adotado pela freira Dorothy Stang.
Segundo relato do jornalista Lourival
Sant´Anna, enviado especial do
jornal O Estado de São Paulo ‘a região o comerciante e
agricultor José Carlos Pereira dos Santos que chegou ao assentamento
convidado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu conta o que segue: “ Como
não havia lotes para todos, o sindicato `liberou´ José Carlos
e outros quatro pretendentes para abrirem lotes de 100 hectares na floresta
virgem”. (vejam os leitores como se faz Reforma Agrária neste
país). Continua o depoimento de José Carlos: “ em dezembro,
Geraldo Magela, um técnico agrícola da equipe da missionária
e do sindicato, fez uma reunião no assentamento, comunicando que quem
não aderisse ao PDS teria de deixar a terra sem direito a nada. Depois
vieram os técnicos do Incra, que confirmaram a orientação
do sindicato. Um deles recomendou aos descontentes: `Vão plantar soja
no Tocantins´. O grupo continuou resistindo. Alguns por não conhecerem
o sistema; outros, por já terem tido experiência com o modelo
do PDS e acharem que não funciona. A terra não pode ser vendida,
a direção do PDS determina o valor das benfeitorias a ser pago
em caso de saída e as decisões sobre o que cultivar têm
que ser tomada coletivamente”.
“ No PDS você não tem liberdade” , queixa-se outro
assentado. “Todo mundo é dono de tudo. As famílias se sentem
oprimidas” . Quando era lido um Plano de Utilização do
PDS os participantes começaram a falar “ Vai voltar a escravidão.
Não tem como viver assim numa mata dessas”. Ao saber disso a freira
disse: “Não aceitam? Então arrumem a baroca (sacola) e
desocupem a área”. Das 52 famílias, apenas 10 ficaram.
Outro assentado diz: “ Depois da eleição do presidente
Lula as coisas mudaram muito por aqui”. Entre os colonos, disseminou-se
a idéia de que as autoridades federais estão do lado do sindicato,
dirigido pelo PT, da irmã Dorothy e de seu PDS, sob forte orientação
da Teologia da Libertação da Igreja católica local.”
Pelo relato acima, podemos entender
o que é um assentamento da Reforma
Agrária. Pouco tem a ver com a propriedade privada. É um regime
de posse da terra, com simples concessão de uso, a título precário,
funcionando sob a tutela de organismos dirigidos na realidade pelo Estado,
e entidades que a ele se aliam como o MST ou o PDS da freira Dorothy. Que diferença
têm com as comunas chinesas, as agrovilas polonesas, as “granjas
del pueblo” cubanas ou os “Kolkhoses russos” que já provaram
seu fragoroso fracasso?
Enquanto isso,
florestas estão se expandindo em toda a Europa, cuidadas
por mãos particulares.
Longe do ódio que se destila do noticiário acima, reconforta
os que defendem a propriedade privada, a lei, a ordem, o artigo “Floresta é coisa
de rico” do jornalista Marcos de Sá Correia, publicado no jornal
O Estado de São Paulo de 17 de fevereiro passado.
Segundo o artigo “ ... na França vigora um código florestal
de 1669. É obra do ministro da marinha Jean-Baptiste Colbert. Serviu
originalmente para defender a madeira usada na frota de Luiz XIV. Tem cláusulas
que vararam séculos, estipulando, por exemplo, que é preciso
esperar 30 anos para cortar um pinheiro e 150 para um carvalho. Funcionou.
Desde 1830, os bosques cresceram 60%. Têm 16 milhões de hectares.
Já cobrem mais de um quarto da França.”
“E estão avançando cada vez mais depressa. Nos anos 90
passaram a ganhar 30 mil hectares por ano. Pode não parecer muita coisa.
Mas equivale a um Parque nacional do Itatiaia acrescentado ao território
francês...”
Em outro trecho o articulista conta
que cerca de 80% das florestas francesas são privadas. Cita um anúncio de um consórcio de madeireiras
européias que diz que o madeireiro é antes de tudo um apaixonado
pela floresta. Passando a serra em velhas árvores, evita que elas desabem
sobre as outras. E derrubando as pequenas abre alas para as grandes. Abrindo
trilhas, permite que as pessoas passeiem pelos bosques. E conclui: “ Uma
floresta bem explorada, renova-se mais rapidamente que as outras, consumindo
com isso mais carbono... Explora-las é um excelente remédio contra
o efeito estufa .” Tanto que “as florestas estão se expandindo
em toda a Europa, especialmente na Finlândia, Noruega e Alemanha”.
Perguntamos: não seria a hora de tratarmos os problemas de nossas florestas
como fazem os europeus, com menos ideologia e mais inteligência, com
menor presença do estado e mais atividade e propriedade privada?
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