São Domingos Sávio: o mais jovem santo não mártir da Igreja
17/03/2005
Plinio Maria Solimeo
Falecendo
com apenas 15 anos, aliou inocência e pureza angélicas à sabedoria de homem maduro, alcançando
a heroicidade das virtudes
O primeiro
e mais abalizado biógrafo de São Domingos Sávio
foi seu diretor espiritual e mestre, o grande São João Bosco. Dele extraímos
os dados para este artigo.
Filho
de Carlos Sávio e Brígida Agagliate, Domingos Sávio nasceu em Riva, vila
de Castelnuovo de Asti, em 2 de abril de 1842.
São João Bosco observa
São Domingos Sávio em êxtase
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Desde
pequeno foi dotado “de uma índole doce e de um coração formado para a piedade,
aprendeu com extraordinária facilidade as orações da manhã e da noite,
que rezava já quando tinha apenas quatro anos de idade”.
Certo
dia, durante um almoço em sua casa oferecido a um visitante, não tendo
este rezado antes de começar a comer, Domingos pegou seu prato e retirou-se
a um canto. Seu pai perguntou-lhe depois por que fizera isso. Ele respondeu: “Não
me atrevo a pôr-me à mesa com uma pessoa que começa a comer como o fazem
os bichos”.
Quando
tinha cinco anos, ia à igreja com sua mãe; sua atitude devota chamava a
atenção de todos. Se o templo estava ainda fechado, ajoelhava-se junto à porta,
e aí ficava orando até que fosse aberto, não lhe importando se chovia
ou nevava, se fazia calor ou frio..
Nessa
idade, aprendeu a ajudar a Missa, o que fazia com muita devoção,
apesar da dificuldade que tinha para transportar o enorme missal.
Seu programa de vida: “Antes morrer que
pecar”
Chegado
o tempo de aprender as primeiras letras, “como estava dotado de muito engenho,
e era muito diligente no cumprimento de seus deveres, fez em breve tempo
notáveis progressos nos estudos”.
Evitava
todos os meninos arruaceiros e só estabelecia amizade com os de boa
conduta.
Domingos
confessava-se freqüentemente. Tão logo soube distinguir entre “o pão
celestial e o terreno”, foi admitido à Primeira Comunhão, aos sete
anos, quando na época a idade mínima para tal era 12 anos.
Pode-se
perceber a maturidade do menino nos propósitos que deixou registrados
nesse dia:
“Propósitos
que eu, Domingos Sávio, me propus no ano de 1849, quando fiz a Primeira
Comunhão, aos 7 anos de idade:
1o.
Confessar-me-ei muito amiúde e receberei a Sagrada Comunhão
sempre que o confessor me permita;
2o.
Quero santificar os dias de festa;
3o.
Meus amigos serão Jesus e Maria;
4o.
Antes morrer que pecar.
Este último
propósito, feito por um menino de tão tenra idade, mostra a que ponto haviam
chegado sua precoce maturidade e sua virtude. Tornou-se ele seu programa
de vida. Quantos meninos de 7 anos, hoje em dia, teriam semelhante propósito,
sobretudo depois de terem sido massacrados por aulas da chamada “educação
sexual”?
Calado, sofre injustiça por amor de
Deus
Terminado
o primário em Mondonio, para onde se havia mudado, Domingos tinha que ir
até Castelnuovo duas vezes por dia, ida e volta, o que representava uma
caminhada de quase 20 quilômetros diários. Para um menino de 10 anos, e
franzino de compleição, era um esforço grande. Mas, movido pelo desejo
de estudar para abraçar o sacerdócio, fazia alegremente o sacrifício.
Domingos,
por sua inteligência e aplicação, obteve sempre o primeiro lugar na classe,
além de outras distinções por seu bom comportamento e pelo cumprimento
dos deveres.
Determinado
dia, alguns colegas seus encheram de pedras a estufa da classe. Era
uma grave falta de disciplina, que merecia como penalidade a expulsão dos infratores.
Estes, porém, acusaram Domingos Sávio de ter sido o autor do ato. O mestre,
um sacerdote, embora duvidando, teve que ceder ante as evidências que lhe
apresentavam. Chamou Domingos, mandou-o ajoelhar-se na frente da classe,
e diante de todos os seus colegas passou-lhe um pito, dizendo que só não
o expulsava por ter sido sua primeira falta. Domingos abaixou a cabeça
e nada disse.
No
dia seguinte, descobriu-se a verdade. O sacerdote chamou então Domingos
e perguntou-lhe por que não se havia justificado. Ele disse que queria
imitar Nosso Senhor, que foi acusado injustamente e não se defendeu. Além
do mais, sabia que sua defesa poderia ter causado a expulsão de
outros alunos. Como seria sua primeira falta, sabia que seria perdoado.
Domingos Sávio: outro São Luís Gonzaga
Em
1854, Dom Bosco foi procurado por D. Cugliero, professor de Domingos,
“para falar-me de um seu aluno, digno de particular atenção por seu engenho e
piedade: — ‘Aqui nesta casa (o Oratório de Dom Bosco) é possível que tenhas
jovens que o igualem, mas dificilmente haverá quem o supere em talento
e virtude. Observa-o, e verás que é um São Luís’”.
Nessa
ocasião Dom Bosco tomou conhecimento da existência de Domingos Sávio, que
contava 12 anos. Ele assim o descreve: “Era Domingos algo débil e delicado
de compleição, de aspecto grave e ao mesmo tempo doce, com um não sei quê de
agradável seriedade. Era afável e de aprazível condição, de humor sempre
igual. Guardava constantemente na classe e fora dela, na igreja e em todas
partes, tal compostura, que o mestre sentia a mais agradável impressão
somente com o vê-lo e falar-lhe”.
Conhecendo
melhor o novo discípulo ao longo dos anos, afirmou ainda sobre ele Dom
Bosco: “Todas as virtudes que vimos brotar e crescer nele, nas diversas
etapas de sua vida, aumentaram sempre maravilhosamente e cresceram juntas,
sem que uma o fizesse em detrimento de outra”. Era impressionante ver a
seriedade com que cumpria com os menores deveres. “No ordinário, começou
a fazer-se extraordinário. [...] Aqui teve começo aquela vida exemplaríssima,
aquele contínuo progresso de virtude em virtude, e aquela exatidão
no cumprimento de seus deveres, que dificilmente se pode avantajar”.
Declaração de guerra: morte ao pecado
mortal
Domingos costumava dizer:
“Quero declarar guerra de morte ao pecado mortal”
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A
devoção do pequeno Domingos para com Nossa Senhora era extrema. No dia
8 de dezembro de 1854, ano da proclamação do dogma da Imaculada Conceição
pelo Bem-aventurado Papa Pio IX, ante o altar da Virgem, ele renovou seus
propósitos da Primeira Comunhão e fez esta oração: “Maria, eu vos
dou meu coração; fazei com que seja vosso. Jesus e Maria, sede sempre meus
amigos; mas, por vosso amor, fazei com que eu morra mil vezes antes que
tenha a desgraça de cometer um só pecado”..
Esse
horror ao pecado era muito vivo em Domingos, que costumava dizer: “Quero
declarar guerra de morte ao pecado mortal”..
Mas
não era só ao pecado mortal. Dizia: “Quero pedir muito, muito, à Santíssima
Virgem e ao Senhor que me mandem antes a morte que deixar-me cair em um
pecado venial contra a modéstia”.
Isso
não se obtém sem uma pureza angélica. Essa virtude terá sido obtida à custa
de muita oração e vigilância? Ou, conforme declarou São João Rua, seu condiscípulo
no Oratório, no processo de beatificação: “Tenho a convicção de que
Domingos, por singular privilégio, não estava sujeito a tentações contra
a castidade”..
Desejo
intensíssimo de santidade
Seis
meses após a entrada de Domingos Sávio no Oratório, Dom Bosco fez aos alunos
uma preleção sobre o dever que todos têm de serem santos, e a facilidade
que há nisso, caso se busque em todas as coisas a vontade de Deus com toda
simplicidade. Isso inflamou beneficamente Domingos Sávio, que foi procurá-lo
e disse: “Quero dizer-vos que sinto um desejo e uma necessidade de
fazer-me santo. Nunca teria imaginado que alguém pode chegar a ser santo com tanta
facilidade; mas agora que vi que alguém pode muito bem chegar a ser santo
estando sempre alegre, quero absolutamente e tenho absoluta necessidade
de ser santo”..
Procedendo
como experimentado diretor espiritual, Dom Bosco relata: “A primeira
coisa que lhe aconselhei, para chegar a ser santo, foi que trabalhasse
em ganhar
almas para Deus, pois não há coisa mais santa nesta vida do que cooperar
com Deus na salvação das almas, pelas quais Jesus Cristo derramou até a última
gota de seu preciosíssimo sangue”.
Domingos
transformou esse conselho em programa de vida, tornou-se um batalhador.
“Não deixava passar ocasião de dar bons conselhos e avisar a quem dissesse
ou fizesse coisa contrária à santa lei de Deus”. Exclamava: “Quão feliz
seria se pudesse ganhar para Deus todos os meus companheiros!”. Dizia também
que gostaria muito de reunir as crianças para ensinar-lhes o catecismo.
Tinha presente quantas crianças, ao chegar à idade da razão, corrompem-se
moralmente e perdem suas almas. A esse propósito, observou: “Quantos pobres
meninos se condenam talvez eternamente por não haver quem os instrua na
fé!”
Zelo pela conversão da Inglaterra
Seu
zelo ia muito além. Não se restringia à sua vida espiritual, seus horizontes
eram largos. Várias vezes disse a D. Bosco: “Quantas almas esperam nossos
auxílios na Inglaterra! Oh! Se eu tivesse forças e virtude, quisera ir
agora mesmo, e com sermões e bom exemplo, convertê-las todas a Deus”. Ele
teve mesmo uma visão a esse respeito, e pediu que Dom Bosco a comunicasse
ao Papa, quando fosse a Roma.
Afirma
São João Rua: “Era verdadeiramente admirável que em um jovenzinho de sua
idade reinasse tanto zelo pela glória de Deus, até o ponto de sentir horror
e mesmo sofrer fisicamente quando ouvia alguém blasfemar, ou via de
qualquer modo ofender-se a majestade de Deus”.
Outro
condiscípulo mostra seu amor combativo pela fé, contra as heresias: “Naqueles
tempos, mais de uma vez encontrei emissários protestantes vindos expressamente
ao Oratório para semear seus erros. E um dos mais solícitos para impedi-los
nessa ação era o jovenzinho Domingos Sávio”.
Vista da pitoresca cidade
de Mondonio, onde morreu São Domingos Sávio
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“Sua
oração predileta – afirma Dom Bosco – era a coroa ao Sagrado Coração de
Jesus para reparar as injúrias que recebe dos hereges, infiéis e maus cristãos”.
Enfim,
muita coisa poder-se-ia ainda dizer sobre São Domingos Sávio, que ultrapassaria
os limites deste artigo. Ele faleceu santamente no dia 9 de março de 1857
aos 15 anos de idade. E Dom Bosco tinha tanta certeza de sua santidade
e futura canonização, que, num epitáfio que lhe escreveu, diz: “[...]
Os que, havendo experimentado os efeitos de sua celestial proteção, gratos
e ansiosos, esperam a palavra do oráculo infalível de nossa Santa Mãe
a Igreja”.
Veja:
http://www.catolicismo.com.br
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