Mordaça na Internet: uma questão de tempo
22/11/2005
Boletim Eletrônico de atualidades da TFP`-Fundadores
Foi aprovada pela ONU, na Cúpula sobre a Sociedade de Informação,
que se realizou em Tunis, na semana passada, a criação do “Fórum
de Governança”. Não como queriam China, Irã, Arábia
Saudita, Cuba, Líbia, Brasil e outros países. Mas não nos
iludamos... a mordaça é uma questão de tempo. O interesse é exercer
o controle político da Internet. O que está em jogo para além
da ribalta, é o controle estatal da tecnologia da informação.
Muitos se sentiram
aliviados, enquanto
os dois lados cantavam vitória.
Tratava-se de saber quem
deveria gerir a Internet especialmente os registros de domínios (os sufixos .com e .br, por exemplo), e os servidores centrais,
o que hoje é feito pela Icann (Internet Corporation for Assigned Names
and Numbers), que se localiza na Califórnia . Não houve até hoje
qualquer queixa contra o funcionamento da Icann, uma entidade privada, ou mesmo
qualquer interferência desta na liberdade de funcionamento da rede. E é forte
a participação internacional. na direção do Icann,
gerido por um grupo de diretores internacionais dos quais dois são brasileiros
Nas reuniões preparatórias da Cúpula sobre a Sociedade
de Informação, foi sugerida a criação de um Fórum
de Governança da Internet, com representantes de governos, de associações
e empresas envolvidas. Alegavam os partidários da criação
do Fórum que o crescimento global da Internet trouxe desafios que “exigem
um esforço internacional multilateral e organizado para tornar a rede
mais democrática, transparente e segura. Entre esses esforços
estão o investimento em infra-estrutura para baratear o acesso ‘a
rede em países pobres, combate coordenado aos spams, vírus e
outras pragas digitais, a regulamentação do comercio on-line
internacional, a proteção à liberdade de expressão
no ciberespaço”. Ou seja, colocar a Internet sob o tacão
dos Estados e “protegidos” pelo guarda-chuva da ONU, hoje em dia
representante dos interesses dos monopólios estatais. Como bem ressaltou
o jornal “O Estado de São Paulo” em editorial, o grupo que
quer colocar a mordaça na Internet sob a alegação de “destituir
os Estados Unidos do “controle” dela, é constituído
de países sem vocação democrática – exceto
o Brasil – e com forte vezo estatizante e aí o governo brasileiro
não é exceção.”
Manteve-se a Icann,
mas
também aceitou-se o Fórum de Governança.
A tática é conhecida. Cede-se um pouco, mas depois se exerce
uma pressão insuportável de cúpula, falando em nome de
bases forjadas como majoritárias, até o ponto de minar as resistências.
Aí já estarão criados os organismos de sustentação
estatizante e totalitária que se apoderarão dos controles. Para
Yoshio Utsumi, secretário-geral da União Internacional de Telecomunicação, órgão
ligado ‘a ONU, e da Cúpula Mundial sobre a Sociedade de Informação,
a Internet tende a se regionalizar, com o surgimento de rede de países
ou grupo de países que se comunicarão entre si, mais ou menos
como ocorre com os sistemas de telefonia do mundo, hoje em dia. Conclui Utsumi:”Isto
já ocorre na China, onde domínios chineses estão sendo
criados.” Para Utsumi o atual acordo poderá ter vida curta. “Não
sei se essa solução será a final porque a internet está mudando
muito rapidamente e não sabemos como será a rede no futuro”.
Diz Utsumi: “Grande parte do tráfego da Internet em um país
ou região ocorre em sites dentro daquele próprio país.
Então é possível que surjam redes regionais nos idiomas
locais, que se liguem as outras como acontece hoje com os sistemas de comunicação
regionais e internacional”. E conclui que na China isso já começa
a ocorrer
Essa postura leva
a uma crescente influência de países totalitários
e de governos estatizantes sobre a rede.
O perigo é portanto muito grande. E como ficou dito pelo próprio
Yoshio Utsumi essa mudança poderá se dar muito rapidamente. A
mordaça na internet portanto, pelo dito, é uma questão
de tempo. Provavelmente, pouco tempo.
O interesse dos
governos está para além da Internet. São
os destinos da própria tecnologia da informação que está em
jogo.
A mídia não deu o devido realce, mas lê-se nas entrelinhas
das declarações que o que está em jogo mesmo é o
controle estatal da tecnologia da informação. O foco central
da discussão, num jargão bem socialista, era propor medidas para
reduzir o fosso digital entre os países ricos e pobres.. Vejamos o que
diz Utsumi: “Quando iniciamos, há sete anos, o longo caminho que
termina hoje, muitos chefes de estado ou de governo com quem me reunia, achavam
que discutir tecnologia da informação era algo muito técnico,
que não lhes dizia respeito. Agora todos concordam que esse é um
tema fundamental e muitos estão engajados em definir estratégias
nacionais”
Segundo ele, diversas agências da ONU trabalharão nos próximos
anos para transformar em realidade as decisões tomadas em Túnis
(2005) e Genebra (2003). Esse trabalho será realizado juntamente com
2.500 parceiros já inscritos, além, é claro de governos
de todo o mundo. Será um trabalho multilateral, descentralizado, de
baixo para cima”
Grosseria diplomática.
Sobre a participação de paises ocidentais, afirmou: “Não
tenho uma vareta para castigar ninguém. Mas os países que não
aproveitarem essa oportunidade ficarão para trás.” “Admito
que a participação de líderes do Ocidente foi limitada.
Mas o entendimento deles também é limitado” . Palavras
que ficariam bem ditas por um Fidel Castro ou por um Hugo Chávez, mas
não por um diplomata da ONU. Ou os tempos já terão mudado?
E a educação também!
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