Washington — Os prognósticos do serviço de meteorologia
para o dia 23 de janeiro, em Washington, eram sombrios. Baixa temperatura,
chuva intermitente e vento cortante não eram perspectivas propriamente
animadoras para uma passeata. Nada disso entretanto afugentou os participantes
da Marcha pela Vida, provenientes de todo o imenso país. Por volta das
10 hs da manhã, uma verdadeira multidão! Mais de 100 mil opositores
ao aborto, em grande parte composta de jovens, já lotava as avenidas
adjacentes da Constitution Avenue, por onde passaria o desfile rumo ao prédio
do Supremo Tribunal Federal, edifício em estilo clássico situado
atrás do Capitólio e que traz inscrito em seu frontispício “same
rights for all under the law” (“Mesmos direitos para todos sob
o império da lei”).
É isso o que pediam os manifestantes da Marcha pela Vida, realizada
todos os anos na segunda-feira mais próxima do dia 22, pois foi precisamente
neste dia, em 1973, que a Corte Suprema decidiu no processo Roe versus Wade
que o nascituro não é “pessoa” — portanto,
um ser ao qual não se podem atribuir direitos — abrindo deste
modo a porta para o aborto nos Estados Unidos. A partir daí o número
de vidas sacrificadas no seio materno ascende à cifra de quase cinqüenta
milhões. O equivalente à soma de vidas humanas perdidas nas duas
guerras mundiais.
A primeira Marcha pela Vida realizou-se no ano seguinte ao da aprovação
da lei, em 23 de janeiro de 1974. Dela participaram 20.000 anti-abortistas,
que se foram tornando de ano para ano cada vez mais numerosos.
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Na véspera da Marcha, o Cardeal William Keeler, arcebispo de Baltimore,
juntamente com três outros purpurados, 60 bispos e 400 sacerdotes, concelebrou
uma Missa assistida por cerca de 10.000 fiéis que lotavam a Basílica
do Santuário Nacional da Imaculada Conceição. Depois da
Missa, um milhar de jovens passou a noite em vigília de orações
pelas vítimas do aborto e pelo êxito da “Marcha pela Vida”.
Sob uma chuva fina, o desfile iniciou-se às 11,30 hs depois de alguns
rápidos discursos de abertura. Logo nas primeiras filas podiam-se ver
seis grandes estandartes rubros, com o leão dourado, da TFP americana.
A fanfarra da TFP americana, composta por jovens da Academia St. Louis Grignion
de Montfort, comunicava ao desfile uma nota de garbo e ufania, próprios
daqueles que têm a favor de si o direito.
Portando cartazes e faixas, bradando slogans, cantando, rezando em voz alta,
os participantes da Marcha pela Vida demonstravam de modo pacífico mas
determinado sua repulsa à lei iníqua. Magnífica demonstração
de como ponderável parte da opinião pública americana
leva a sério princípios básicos da Civilização
Cristã e da ordem natural, como a condenação ao aborto.
Uma das faixas portadas por membros da TFP americana dizia: “A aceitação
do aborto não só muda a moral das pessoas, mas transforma sua
visão cristã em um secularismo neopagão”.
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O número, apoiando a razão, tem sua influência. A Marcha
pela Vida, com seus milhares de participantes, sacode poderosamente as consciências
amortecidas ao relembrar publicamente a monstruosidade do pecado do aborto,
a tremenda injustiça e crueldade que se comete em relação
ao nascituro.
Terminada a Marcha, centenas de líderes anti-abortistas visitaram os
deputados e senadores que os representam e cujos escritórios ficam em
prédios adjacentes à Suprema Corte, exigindo deles que se esforcem
em prol da revogação da lei do aborto.
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A TFP americana vem se empenhando para que a March for Life adquira um caráter
internacional. Por sua iniciativa estiveram presentes neste ano representantes
de movimentos pró-vida de vários outros países.
Do Rio de Janeiro veio um seleto grupo de jovens da Juventude pela Vida; de
Paris, participantes do movimento Droit de Naitre; de Roma, do Voglio Vivere;
de Frankfurt, do SOS Leben; de Varsóvia e Cracóvia, o movimento
Diga Não; da longínqua Lituânia, um amigo da TFP americana, Antanas
Racas, deputado signatário da declaração de independência
de seu país em 1990, acompanhado de sua esposa.
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O Rose Dinner, um jantar solene realizado num dos salões do Hyatt Regence
Hotel para 600 convidados, encerrou o programa da March for Life 2006. Na ocasião,
a Sra. Nellie Gray, presidente do comitê organizador, agradeceu à American
Society for the Defense of Tradition, Family and Property, que desde 1975 vem
participando ininterruptamente da Marcha, com seus estandartes auri-rubros,
sua fanfarra e seus jovens.
Sim, jovens, um traço distintivo da Marcha. Ao vê-los tão
numerosos, o Sr. Antanas Racas cobrou novo alento e exclamou: “Estou
compreendendo que para um número incontável de jovens americanos
os princípios não são palavras vazias. Agora posso olhar
para o futuro com ânimo e esperança”.