Pela Lituânia livre –– o monumental abaixo-assinado e a independência


16/11/2006

Renato Murta de Vasconcelos

Representante de TFPs da Europa discursa no Parlamento Lituano, na comemoração oficial do 15º aniversário do reconhecimento da independência da Lituânia e de sua admissão na ONU

Em 17 de setembro de 1990, a ONU finalmente reconheceu a declaração de independência da Lituânia, proclamada no dia 11 de março daquele ano, quando o país báltico já havia sido reconhecido por algumas dezenas de nações.

O reconhecimento por parte da ONU contribuiu para tornar praticamente irreversível a proclamação da independência em relação à União Soviética, que anexara a Lituânia em 1940. Ao negar-lhe liberdade, o Kremlin desmascarava-se aos olhos de todos, no que se refere às intenções da perestroika do presidente soviético Gorbachev. Diante da pressão internacional, Moscou viu-se obrigada — muito a contragosto — a retirar suas garras da nação católica báltica ocupada tiranicamente durante meio século. Mesmo assim, só desalojou suas tropas dois anos depois, em 31 de agosto de 1993.

Num primeiro momento, em que a Lituânia ainda não havia recebido nenhum apoio consistente do mundo livre, exerceu papel decisivo na mobilização da opinião pública o abaixo-assinado pedindo apoio à causa da libertação lituana. Em mais de duas dezenas de países, essa iniciativa do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira transformou-se em ampla campanha das associações de defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFPs e entidades afins.

Em dezembro de 1990, uma delegação de representantes das TFPs, chefiada por Dr. Caio Xavier da Silveira, foi a Vilnius e depois a Moscou para entregar ao presidente Vytautas Landsbergis e ao presidente Gorbachev as 5.218.520 assinaturas coletadas na campanha Pela Lituânia Livre. O abaixo-assinado entrou para o Guinness Book of Records como o maior da História.

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Corpos dos patriotas lituanos mortos na tentativa russa de esmagar o levantamento do país pela sua independência

Amicus certus in re incerta cernitur (O amigo certo se conhece na hora incerta). Os lituanos, que na época passaram por incontáveis vicissitudes, incertezas e perigos na via da independência, conservam ainda na memória a importância decisiva desse abaixo-assinado. Assim se explica o convite do Sr. Viktoras Munteanas, presidente do Parlamento Lituano, ao Dr. Caio Xavier da Silveira, na qualidade de diretor do Conselho Consultivo de associações de defesa da Tradição, Família e Propriedade da Europa, para participar da sessão solene do Parlamento em Vilnius, comemorativa daquela data.

O representante dessas TFPs européias, falou aos deputados, diplomatas e autoridades presentes (vide íntegra do discurso no quadro abaixo),logo depois do Sr. Landsbergis, primeiro presidente da Lituânia independente. Na tribuna reservada às autoridades eclesiásticas distinguia-se o Cardeal-Arcebispo de Vilnius, Dom Audrys Backis.

Recebido como hóspede oficial do governo, Dr. Caio Xavier da Silveira pôde visitar os locais em que se deu a heróica resistência lituana no dia 11 de janeiro de 1990, quando os tanques soviéticos cercaram o Parlamento, a emissora de rádio e a torre de televisão. Nas paredes externas da sede da rádio-emissora podem-se ver ainda os furos das balas de fuzis.

A visita se fez num dia ensolarado, em clima ainda estival, tão diferente daqueles dias gélidos, no início de dezembro de 1990, quando Dr. Caio Xavier da Silveira liderou a delegação internacional das TFPs para a entrega do abaixo-assinado ao presidente Landsbergis.

Discurso de Dr. Caio Vidigal Xavier da Silveira no Parlamento da Lituânia

Senhor Presidente do Parlamento,
Senhores deputados,
Eminência reverendíssima,
Excelências,
Senhoras e senhores,

Completa 15 anos no dia 17 de setembro a independência da Lituânia, então reconhecida com sua admissão no seio da ONU. Marco decisivo do longo caminho rumo à plena liberdade, cujo primeiro passo foi a Declaração de Independência de 11 de março de 1990. Declaração heróica, quando se considera o colosso em face do qual ela foi proclamada: a União Soviética.

Vosso país parecia pequeno, abandonado por todos, mas levantou-se altaneiro. A Lituânia afirmou com coragem, aos olhos do mundo inteiro, que vossa pátria recusava curvar-se servilmente ante os ditadores do Kremlin. A Lituânia fazia questão de afirmar seu direito de ser uma nação livre e de preservar sua identidade cristã.

A proclamação de independência da Lituânia foi um grito de fé e de coragem. Ele ressoou alto e claro na Terra inteira, e seus ecos chegaram até a minha pátria, o Brasil. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador e presidente da Sociedade de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), comoveu-se ante vosso formidável grito de esperança.

Apressando-se a apoiar a Declaração de Independência dos nobres deputados lituanos sob a direção do presidente Vytautas Landsbergis, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira lançou no Brasil e em 26 países dos cinco continentes a famosa petição que colheu mais de 5 milhões de assinaturas a favor da independência de vosso país.

À frente de uma delegação das associações de defesa da Tradição, Família e Propriedade, entreguei pessoalmente essa petição no Kremlin, junto ao Secretariado oficial de Mikhail Gorbachev, e igualmente em Vilnius ao Presidente Vytautas Landsbergis. Os vossos amigos pelo mundo afora, reunidos pelas TFPs para vos apoiar, eram até mais numerosos que vossa população.

A declaração de independência da Lituânia constituiu o primeiro impulso para a derrubada do império soviético. Vossa ação foi decisiva. Ela contribuiu para que a opinião pública mundial se desse conta daquilo em que consistia realmente a “perestroika” de Gorbachev: uma política falaciosa, feita para adormecer as reações anticomunistas no Ocidente, e simultaneamente conservar sob a tutela de Moscou os países satélites da União Soviética.

Hoje, a Lituânia livre afronta problemas bem diferentes. Outros tempos, outras situações. A liberdade reconquistada há 15 anos, a admissão na ONU e o ingresso na União Européia vos trouxeram um legítimo progresso material e uma prosperidade crescente. Porém, e S.S. Bento XVI alertou-nos contra esse risco há poucos dias em Munique, a tentação é grande em edificar uma nação próspera e rica, da qual Deus esteja ausente. A tentação é forte em adotar um estilo de vida no qual não seja atribuído aos princípios da Civilização Cristã — eu evoco especialmente a tradição, a família e a propriedade — o papel eminente que lhes é devido.

As TFPs européias que aqui represento fazem votos para que Nossa Senhora de Siluva ajude a Lituânia a enfrentar essa tentação na vida quotidiana, com o mesmo espírito indomável de fé e de coragem que ela mostrou outrora, sem jamais curvar-se ante os perigos que a espreitam na via da fidelidade à Civilização Cristã.

Tegivoia Laisva Lietuva! (Longa vida para a Lituânia!)

Obrigado pela vossa atenção.

Veja:
http://www.catolicismo.com.br/

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